Milhares se reúnem em local de ataques na Turquia
"A primeira explosão veio. Em segundos, veio a outra... Percebi que havia pedaços de corpos em frente. Nossos amigos estavam lá. Estávamos em choque. Esta foi a pior cena que já vi."
Serdar Cil, um jovem de 23 anos, está abalado. Os olhos dele estão vermelhos, têm sinais de cansaço, suas pernas estão trêmulas e a voz dele falha.
Cil estava no local em Ancara onde, no sábado, um ataque com duas bombas explodiram matando quase cem pessoas e deixando centenas de feridos.
O jovem afirma que se sentiu obrigado a voltar ao local.
"Voltei pois não quero esquecer o que aconteceu aqui, para o resto da minha vida", disse.
O ataque ocorreu perto da estação ferroviária central de Ancara enquanto as pessoas se reuniam para uma manifestação organizada por grupos de esquerda que exigiam o fim da violência entre o governo turco e militantes separatistas curdos do grupo PKK.
Em um anúncio que já era esperado, o PKK declarou um cessar-fogo unilateral no sábado, pedindo que seus militantes suspendam as atividades de guerrilha na Turquia a não ser em caso de defesa própria.
Neste domingo milhares de pessoas se reuniram no centro da capital turca onde a manifestação de pacifistas foi interrompida pelas explosões no sábado.
Inicialmente a multidão que foi à praça neste domingo queria colocar cravos no local das explosões, mas a polícia não permitiu a entrada deles, alegando questões de segurança.
Entre os manifestantes havia um sentimento claro de raiva em relação ao governo. As pessoas culpam o governo turco por falhas na proteção dos cidadãos.
O governo, por sua vez, rejeita estas acusações. O primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, afirmou que tinha informações secretas de possíveis ataques suicidas, recebidas no começo da semana, e deteve vários suspeitos.
Este domingo também marcou o início de um período de três dias de luto pelas vítimas do ataque.
'Opressão'
A esquerda da Turquia condenou o ataque. O político de oposição Alper Tas disse à BBC que os responsáveis pelo ataque "queriam passar uma mensagem de guerra, não de paz" e criar um "clima de opressão".
"Se o governo diz que não é o culpado, eles então devem responsabilizar as forças por trás deste massacre imediatamente", afirmou.
Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelos ataques, considerado o mais grave já ocorrido na Turquia. As forças de segurança do país afirmam que acreditam que o grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI) atacou a manifestação.
O governo acredita que pode ser o grupo militante curdo PKK, o EI ou uma organização radical de esquerda. E já negou furiosamente sugestões de que estaria envolvido nos ataques.
O que está claro é que este episódio ocorreu em um momento muito importante e tenso na Turquia.
Um momento em que funerais se transformaram em rotina mesmo antes dos ataques, emoções estavam à flor da pele em todo o país.
Desde julho o número de confrontos entre forças de segurança e militantes do PKK aumentaram, o que já causou 150 mortes. Entre os mortos estão muitos policiais ou soldados.
O governo da Turquia permitiu que suas bases sejam usadas para ataques contra o "Estado Islâmico", levando muitos a temerem ataques em represália.
No dia 1º de novembro vai ocorrer uma nova eleição parlamentar, pois a entrada o partido a favor dos curdos, o HDP, no Parlamento turco fez com que o partido do governo, AKP, não conseguisse uma maioria absoluta.
Agora, os turcos temem o aumento da violência e tentam manter a segurança para a votação que deve ocorrer em algumas semanas.
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