O homem que sobreviveu a 8 campos de concentração nazistas
Um sobrevivente do Holocausto que escapou da morte em oito campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial relatou suas experiências à BBC, no ano em que a liberação do campo de Auschwitz completa 70 anos.
"Chegamos à meia-noite. Havia um silêncio mortal e a visão era assustadora", conta Chaim Ferster, que vive na Grã-Bretanha desde 1946, lembrando a primeira vez que chegou ao notório campo de concentração.
"Podíamos ver à distância as chamas que subiam de quatro chaminés. Naquela hora não percebi que eram os crematórios". disse ele.
Nascido em uma família de judeus ortodoxos na cidade de Sosnowiec, na Polônia, Ferster tinha 17 anos quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939.
Em 1943, aos 20 anos de idade os nazistas foram buscá-lo em casa. Entre 1943 e 1945, ele viveu em oito campos de concentração diferentes na Alemanha e na Polônia, onde enfrentou trabalhos forçados, desnutrição e doenças como tifo.
Agora, com 93 anos de idade e já bisavô, morando em Manchester, ele recorda o tempo em que as comunidades judaicas temiam a expansão militar da Alemanha.
"Podíamos ver os aviões alemães. Os nazistas invadiram Sosnowiec muito rapidamente. Lembro que os judeus estavam muito preocupados com tudo o que estava a ponto de acontecer", contou o sobrevivente.
Viver com medo
Ferster conta sobre a chegada do racionamento, a fome generalizada e as doenças que se proliferavam pelo gueto judeu na cidade polonesa.
"Tínhamos cartões de racionamento e não havia muita comida nas lojas", lembrou.
"Não tínhamos remédios. As pessoas estavam morrendo e a vida era muito difícil. E, em um certo momento, reuniram vários líderes da cidade e dispararam (contra eles). Assim, sem mais nem menos."
Mais tarde, começaram as deportações de milhares de famílias de judeus para os campos de concentração. Em meio ao caos, ele conseguiu evitar de ser levado em 1942, quando sua mãe e sua irmã desapareceram, e seu pai morreu.
"Todo mundo sabia que as pessoas selecionadas pela Gestapo nunca voltavam", disse.
Com isso em mente, um parente o convenceu a aprender uma habilidade que pudesse ser útil aos alemães: consertar máquinas de costura, o que permitiu com que fosse classificado oficialmente como "mecânico".
A partir de 1943, quando foi preso, Ferster passou pelos oito campos de prisioneiros. Ele se lembra que foi obrigado a carregar blocos de cimento em meio a temperaturas abaixo de zero.
"Fazia um frio insuportável, uns 25 ou 26 graus abaixo de zero. Os soldados começaram a nos bater, gritando que não éramos rápidos. Muitos não podiam aguentar, tinham pneumonia. E alguns morreram", disse.
No fim de 1943, houve um surto de tifo no campo em que Ferster estava e ele ficou muito doente. Muitos morreram devido à doença, mas ele sobreviveu.
Ferster se lembra de ver corpos dos mortos pela doença "empilhados (...) formando torres altíssimas".
Auschwitz
Ferster foi deportado para Auschwitz.
Ele se lembra muito bem dos prisioneiros que eram mandados para os infames "chuveiros".
"Nos colocaram em um grupo. Todos nós, um grupo especialmente grande. Na manhã seguinte, alguns de nós foram selecionados para ir para os chuveiros", disse.
"Fomos ali, na mesma sala com chuveiros onde outras pessoas tinham morrido com os gases. Mas, quando entramos, caiu água no lugar do gás e pudemos nos lavar."
Ferster foi um dos poucos sobreviventes de Auschwitz, que foi liberado pelos aliados em janeiro de 1945.
Mas, naquele mesmo ano, à medida que a Alemanha perdia a guerra, os nazistas começaram a acelerar o plano de execução dos prisioneiros judeus.
Como resultado, Ferster foi colocado em outro grupo de prisioneiros enviado caminhando para outro famoso campo de concentração, Buchenwald.
Foi em Buchenwald que ele achou que fosse morrer.
Liberdade
Os prisioneiros estavam sendo assassinados em massa, dia após dia. Ferster aguardava um destino parecido com o dos companheiros de prisão.
Mas justamente quando Ferster e os outros estavam sendo chamados para a execução, o campo foi liberado.
"De repente chegaram os aviões americanos e todos os soldados alemães fugiram", disse.
"Meia ou uma hora depois, um tanque americano atravessou os portões do campo e os soldados (chegaram) gritando 'vocês estão livres, vocês estão livres!'".
Tempos depois da liberação, Ferster descobriu que apenas dois membros de sua família sobreviveram ao Holocausto, a irmã Manya e a prima Regina.
"Não conseguia acreditar. Não conseguia acreditar", contou Ferster emocionado.
Ele foi para a Inglaterra depois da guerra e trabalhou em uma loja de consertos de máquinas de costura até estabelecer sua própria pequena empresa.
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