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Alemanha facilita processo de deportação após 'arrastão' de ataques sexuais no Ano Novo

Policiais alemães diante da estação de trem de Colônia, local onde diversas mulheres foram agredidas e abusadas por hormens - Maja Hitij/AFP
Policiais alemães diante da estação de trem de Colônia, local onde diversas mulheres foram agredidas e abusadas por hormens Imagem: Maja Hitij/AFP

11/01/2016 23h05

A Alemanha anunciou nesta terça-feira planos para facilitar o processo de deportação de refugiados estrangeiros que tenham cometidos crimes no país.

O anúncio ocorre 12 dias após uma série de ataques sexuais e roubos na cidade de Colônia na noite do Ano Novo, perpetrados contra mulheres por, segundo testemunhas, homens de origem árabe e do norte da África.

O ministro da Justiça, Heiko Maas, disse que ninguém pode pensar que está acima da lei e que as reformas propostas pelo governo buscarão eliminar barreiras para que criminosos percam seu status de refugiados se cometerem determinados crimes.

"Vamos tornar as leis criminais mais severas para facilitar a deportação", disse Mass, acrescentando que serão negociados acordos com os países de origem dos criminosos.

No entanto, o ministro ressaltou que isso não deveria fazer recair suspeitas sobre todo e qualquer imigrante.

Vandalismo

Na segunda-feira, milhares de manifestantes da extrema direita realizaram protestos em Leipzig nos quais apontaram que os ataques são resultado dos mais de 1,1 milhão de refugiados que chegaram ao país em 2015.

Eles culparam o governo por ter estabelecido uma política de "portas abertas" para recebê-los.

As manifestações foram marcadas por violência e vandalismo. Lojas foram saqueadas. Carros foram incendiados. E 211 pessoas foram presas por participar destes atos.

Manifestantes de esquerda de Leipzig organizaram um protesto em resposta à manifestação, também na noite de segunda. Um ônibus que havia sido alugado por manifestantes de extrema direita foi destruído.

Grupos coordenados

O "arrastão" de ataques sexuais de 31 de dezembro ocorreu, de acordo com as autoridades, quando cerca de mil homens agiram de forma coordenada para assediar e roubar múltiplas vítimas. Os homens formavam grupos menores, cercavam as mulheres e as ameaçavam ou as atacavam.

Segundo a polícia de Colônia, 533 queixas criminais foram feitas por mulheres da cidade, 45% delas por ataques sexuais. O Ministério do Interior disse que "quase todos" os autores destes ataques tinham algum histórico de imigração em suas vidas.

O ministério afirmou ainda que a polícia de Colônia cometeu "erros graves" ao não chamar reforços para lidar com os ataques e também por não ter informado o público sobre o que havia ocorrido.

Uma das vítimas, identificada como Katja L., contou que os homens escolhiam as mulheres e as cercavam para abusar sexualmente delas ou roubar seus pertences.

Ela disse à agência de notícias alemã DPA que, ao sair da estação, ela e suas amigas foram forçadas a caminhar por um corredor de homens.

"Passaram a mão em mim em todos os lugares. Foi um pesadelo. Nós gritávamos e batíamos neles, mas eles não paravam", afirmou.

"Estava desesperada. Acho que me tocaram umas cem vezes nos 200 metros que caminhamos (entre eles)."

Pelo menos um estupro foi registrado.

O relatório descreveu o modus operandi dos ataques como "taharrush gamea", que em árabe significa assédio sexual em multidões e os comparou aos ocorridos na Praça Tahir, no Cairo, durante as revoltas no Egito.

Os crimes em Colônia geraram ainda mais indignação por terem ocorrido no centro da cidade, em torno da estação central de trens e perto da histórica catedral gótica da região.

Norte da África

Segundo o documento do Ministério do Interior, o grupo era formado predominantemente por homens originários do norte da África, que haviam viajado para Colônia a partir de outras cidades.

"Após se intoxicarem com drogas e álcool, veio a violência", afirmou o ministro do Interior estadual, Ralf Jaeger. "E isso culminou com eles impondo suas fantasias de onipotência sexual. É preciso haver punição severa."

Ao menos 19 pessoas estão sendo investigadas no momento por conexões com os ataques. Desses, 14 são homens vindos do Marrocos ou da Argélia. Dez dos suspeitos são pessoas que pediram asilo na Alemanha, e nove deles chegaram no país após setembro de 2015. Os outros podem estar vivendo na Alemanha ilegalmente.

Cerca de 1,1 milhão de estrangeiros em busca de asilo chegaram à Alemanha em 2015. A política de imigração da chanceler Angela Merkel vem sendo duramente criticada por parte da população desde os ataques em Colônia.

Ataques similares, porém em menor grau, também foram registrados em cidades como Hamburgo e Stuttgart.

Papa

Ataques em retaliação foram registrados em Colônia no domingo contra paquistaneses e sírios - e foram criticados pelo governo.

O papa também se pronunciou, dizendo que o "espírito humanista" da Europa estava sob o risco de ser minado.

Segundo o pontífice, o "imenso fluxo" de migrantes estava causando problemas. Mas ele disse que o continente tem maneira para obter o balanço necessário para proteger seus cidadãos e ajudar os refugiados.