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Por que gangues de mascarados estão atacando imigrantes e refugiados na Suécia?

Gangue de mascarados ameaça imigrantes e causa tumulto em Estocolmo - Marcus Ericsson
Gangue de mascarados ameaça imigrantes e causa tumulto em Estocolmo Imagem: Marcus Ericsson

Da BBC Mundo

31/01/2016 10h56

Cerca de cem homens vestidos de preto e usando máscaras se reuniram este fim de semana no centro de Estocolmo distribuindo folhetos nos quais convocavam pessoas a atacar jovens imigrantes e refugiados.

Mas a concentração, na noite de sexta, não foi uma surpresa.

A polícia sueca havia aumentado sua presença no centro da capital, usando unidades antidistúrbio e até helicópteros após descobrir que extremistas pretendiam agredir adolescentes estrangeiros.

Os mascarados diziam que ia dar o "merecido" a menores de idade do norte da África, a quem acusavam de roubos em locais públicos movimentados, como estações de trem e pontes.

No sábado, a polícia informou que quatro pessoas foram detidas por causar distúrbios e uma quinta por portar uma manopla (peça de armadura que protege as mãos), segundo a mídia local.

Também aconteceram mais protestos contra e a favor da imigração.

Ainda que a polícia tenha dito que não chegaram a ocorrer ataques contra imigrantes, o jornal Aftonbladet entrevistou um adolescente de 16 anos de idade que disse que havia sido golpeado no rosto na estação central de Estocolmo.

O jornal também citou outra testemunha que disse ter visto homens atacando pessoas que pareciam estrangeiros no meio da praça Sergelstorg, onde os mascarados se concentraram.

Além disso, uma manifestação contra imigrantes na própria sexta-feira terminou em conflitos com autoridades e algumas prisões.

"Tendência perturbadora"

O ministro do interior da Suécia, Anders Ygeman, correu para condenar os "grupos racistas que ameaçam e disseminam o ódio em lugares públicos" e advertiu que "essa é uma tendência perturbadora na sociedade".

As manifestações anti-imigração acontecem poucos dias após uma jovem trabalhadora ser assassinada a facadas por um adolescente de 15 anos em um centro para menores refugiados sem pais perto de Gotenburgo.

A Suécia, um país com 10 milhões de habitantes, recebeu 163 mil refugiados no ano passado - considerada a população, foi quem mais recebeu refugiados em toda a Europa.

Mais de 35 mil menores desacompanhados solicitaram refúgio no país no ano passado, segundo a Agência de Migração da Suécia.

Aproximadamente metade deles são adolescentes com idades entre 16 e 17 anos e pelo menos 23 mil vêm do Afeganistão.

O site The Local diz que o número de ameaças ou incidentes violentos em centros de asilo passou de 148 em 2014 para 322 em 2015.

Novas restrições

Nos últimos meses, os centros de asilos suecos viraram alvo de ataques.

Pelo menos duas dúzias de centros foram incendiados intencionalmente no ano passado por pessoas que se opõem aos imigrantes e refugiados, informou o Aftonbladet.

O chefe de polícia pediu mais recursos ao governo por causa dos incidentes.

"Nos vemos obrigados a responder às muitas perturbações nos centros de recepção de asilo", disse Dan Eliasson.

As crescentes tensões fizeram o governo do primeiro ministro Stefan Lofven anunciar, no início de janeiro, um novo sistema de identificação para passageiros que cheguem em ônibus, trens e ferries da vizinha Dinamarca.

Na semana passada, em uma medida mais drástica, o Ministério do Interior revelou que tem planos para expulsar do país até 80 mil imigrantes que tiveram pedidos de refúgio negados.

O país nórdico sabe que isso também pode trazer consequências: em agosto, um homem eritreu de 35 anos assassinou a facadas uma mulher de 55 anos e seu filho de 27 anos em uma loja Ikea em Vasteras.

O homem, que não foi identificado, enfrentava o risco de deportação iminente após seu pedido de refúgio ser negado.

Tensões na Alemanha

Na Alemanha, foram registrados centenas de ataques contra centros de recepção de imigrantes. Eles aumentaram logo após centenas de mulheres denunciarem roubos e assaltos sexuais no Ano Novo na cidade de Colônia.

A polícia alemã descobriu explosivos com grupos neofascistas que planejavam ataques contra imigrantes. Um dos ataques foi frustrado em outubro.

A política de braços abertos para imigrantes também teve um custo alto para a chanceler Angela Merkel.

Um pesquisa recente indica que 40% dos alemães considera que sua líder, que até então gozava de grande popularidade, deveria renunciar por causa da política migratória.

A Alemanha recebeu 1,1 milhão de refugiados, a maioria sírios.