Citado por Moro, Watergate gerou grande expectativa (e desilusão) nos EUA
Citado pelo juiz Sérgio Moro em despacho na quinta-feira, o escândalo de Watergate provocou uma das mais graves crises institucionais da história dos Estados Unidos e, como a Operação Lava Jato, gerou grandes expectativas de mudanças na política americana.
Muitos acreditavam que o caso -- que levou à renúncia do presidente Richard Nixon em 1974 -- ampliaria o controle sobre as campanhas eleitorais e ameaçaria o domínio dos principais grupos políticos.
Quarenta e dois anos depois, porém, os partidos Democrata e Republicano continuam a se revezar na Casa Branca, e a disputa pela sucessão de Barack Obama deverá ser a campanha eleitoral mais cara da história do país.
Moro se referiu ao Watergate ao justificar a divulgação de gravações de telefonemas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff.
"Ademais, nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente, podendo ser citado o conhecido precedente da Suprema Corte americana em U.S. v. Nixon, 1974, ainda um exemplo a ser seguido", afirmou o juiz em despacho.
Na disputa judicial citada por Moro, o procurador Leon Jaworski, que investigava ações ilegais para desestabilizar a campanha de um político rival a Nixon, pediu acesso a gravações de conversas entre o presidente e assessores feitas pela própria Casa Branca.
O presidente recorreu à Suprema Corte alegando que o cargo lhe garantia imunidade judicial e que sua comunicação com auxiliares deveria permanecer sob sigilo. Mas a corte decidiu que as gravações deveriam ser entregues, acelerando a renúncia de Nixon.
Grampos na campanha
A crise começou a ser gestada em 1972, quando um grupo invadiu o prédio Watergate, em Washington, para fotografar documentos e instalar grampos telefônicos num escritório do Partido Democrata, que fazia oposição a Nixon e apoiava a candidatura de George McGovern à Presidência.
O objetivo era obter informações que favorecessem a reeleição de Nixon, do Partido Republicano.
Cinco homens foram presos em flagrante durante a invasão. Investigadores descobriram que um deles havia recebido US$ 25 mil da campanha de Nixon, que, no entanto, conseguiu se reeleger.
Conforme a investigação prosseguia, assessores próximos de Nixon foram implicados. Em 1973, o Senado também passou a fazer diligências sobre o episódio e soube que a Casa Branca gravava por conta própria todas as conversas do presidente no Salão Oval, o que levou ao pedido de acesso às fitas.
As gravações revelaram que Nixon havia discutido com assessores formas de obstruir as investigações.
O presidente renunciou antes que o Congresso votasse seu impeachment, em 8 de agosto de 1974. Seu vice, Gerald Ford, assumiu e lhe concedeu um perdão presidencial, tornando-o imune a punições por atos cometidos em sua administração.
O Watergate levou à condenação de 48 funcionários do governo americano, muitos dos quais acabaram presos.
Limpeza na política
Uma reportagem publicada na revista U.S. News & World Report poucos dias após a renúncia de Nixon dizia que o caso teria um impacto "profundo e duradouro" na política americana e "higienizaria" suas práticas.
A reportagem afirmava que, entre outros efeitos, o episódio afastaria os eleitores dos partidos políticos, pondo em xeque o sistema bipartidário americano, e aumentaria o controle sobre doações eleitorais.
O Congresso chegou a aprovar uma reforma eleitoral, criando um fundo público para financiar campanhas, proibindo doações secretas e definindo limites para os repasses.
Mas aos poucos a Suprema Corte anulou a reforma ao decidir que controlar as doações eleitorais ameaçaria a liberdade de expressão.
A polarização entre os partidos Republicano e Democrata tampouco foi quebrada: todos os presidentes que assumiram desde Nixon pertenciam a uma das siglas.
Lições esquecidas?
Com o quadragésimo aniversário do Watergate, muitos órgãos de imprensa analisaram seus legados.
Um artigo na CNN questionava se o país havia esquecido uma lição chave do caso ao permitir que empresas e sindicatos doassem valores ilimitados aos chamados Super PACs (Comitês de Ação Política).
Em tese independentes, esses comitês podem patrocinar comerciais ou eventos favoráveis ou contrários a candidatos.
Na prática, são usados por políticos para driblar restrições a doações e preservar doadores, já que os comitês podem divulgar suas identidades só depois das eleições.
Estima-se que a campanha de 2016 custará até US$ 10 bilhões, valor equivalente ao PIB de Madagascar e cinco vezes maior que as quantias arrecadadas por Barack Obama e Mitt Romney na corrida de 2012.
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