Topo

Decisão do Senado é 'fim humilhante' para Dilma e fecha era do PT, diz 'Wall Street Journal'

Joao Fellet - BBC Brasil

31/08/2016 15h57

Ao noticiar o impeachment de Dilma Rousseff, jornais estrangeiros trataram do impacto da remoção para o PT e das crises que serão herdada pelo novo presidente, Michel Temer. Já governantes esquerdistas simpáticos às administrações petistas rejeitaram a decisão do Senado e anunciaram represálias ao Brasil.

O diário americano Wall Street Journal diz que a saída de Dilma marca "um fim humilhante para a primeira presidente mulher do Brasil, e fecha 13 anos de comando de seu esquerdista Partido dos Trabalhadores".

O jornal diz que o resultado da votação no Senado "era amplamente esperado, mas apenas parcialmente por causa das evidências legais" contra Dilma.

O governo petista, segundo o Wall Street Journal, "enfrentava uma recessão brutal e um escândalo de corrupção massivo na petroleira estatal que quebrou sua base política e devastou seu apoio popular".

O jornal diz que, "longe de encerrar" a crise política brasileira, a saída de Dilma "deixa os novos líderes do país enrolados com uma economia em frangalhos e um eleitorado dividido e raivoso".

O espanhol El País diz que a decisão do Senado põe fim "à mudança de governo mais traumática e esquizofrênica das últimas décadas".

"Rousseff decidiu aguentar até o final e enfrentar todas e cada uma das fases, ainda que as previsões prenunciassem seu fracasso desde o princípio", diz o jornal.

Segundo o El País, a resistência de Dilma "era mais simbólica que prática", destinada a deixar claro "que não aceitava nem aceitaria jamais o veredicto" e que achava seu julgamento injusto e antidemocrático.

Para o britânico Financial Times, a "remoção da ex-guerrilheira marxista por manipular o orçamento" joga seu sucessor "nos holofotes num momento em que o país está sofrendo o que deve ser sua pior recessão em mais de um século".

  • Dilma é cassada pelo Senado: Da infância de classe média à rebeldia; de 'gerentona' ao impeachment

O jornal diz que o PT era "creditado pela redistribuição de riquezas aos pobres numa das sociedades mais desiguais do mundo", "mas suas políticas crescentemente intervencionistas ajudaram a criar uma crise de confiança entre investidores".

Segundo o The New York Times, Dilma foi deposta por acusações de manipular orçamento num esforço para resolver os problemas econômicos do Brasil, mas o processo "foi muito mais que um julgamento sobre culpa em relação a qualquer acusação".

"Foi um veredito sobre sua liderança e o destino errante do maior país da América Latina", diz o jornal.

O diário afirma que o impeachment encerra os 13 anos de governo do PT, "uma era em que a economia do Brasil cresceu, levando milhões à classe média e elevando a imagem do país no palco global". O diário afirma, porém, que escândalos de corrupção, a pior crise econômica das últimas décadas e a frágil reação do governo à piora do humor da população deixaram Dilma vulnerável aos rivais.

Convocação de embaixadores

Antes da votação no Senado, o presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou no Twitter que "se prosperar o golpe parlamentar contra governo democrático" de Dilma, convocaria o embaixador boliviano no Brasil. "Defendamos a democracia e a paz".

Na linguagem diplomática, convocar um embaixador é uma demonstração de censura a um governo.

Após a decisão do Senado, o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou que faria o mesmo.

Segundo o equatoriano, a destituição da brasileira é uma "apologia ao abuso e à traição". Ele expressou "toda nossa solidariedade com a companheira Dilma, com Lula e com todo o povo brasileiro".

O governo dos EUA adotou um tom mais neutro em relação ao tema.

Em nota, o porta-voz do Departamento de Estado (Chancelaria) dos EUA, John Kirby, diz que o governo americano soube que o "Senado brasileiro, em conformidade com as regras constituicionais do Brasil, votou para remover" Dilma da Presidência.

"Estamos confiantes de que continuaremos a forte relação bilateral que existe entre nossos dois países."

"Como as duas maiores democracias e economias do hemisfério, Brasil e Estados Unidos são partidos comprometidos", diz a nota.

"Os Estados Unidos cooperam com o Brasil para resolver questões de interesse mútuo e os mais urgentes desafios globais do século 21. Planejamos continuar essa colaboração essencial", afirma o texto.