Os dez segredos da vida privada de Fidel Castro
Jamais saberemos quantos segredos Fidel Castro levou para o túmulo.
Por décadas a fio, a vida privada do líder cubano foi guardada a sete chaves.
As motivações estariam ligadas à sua segurança, como ele próprio explicou em entrevista a jornalistas em Havana, em 2000.
"(A CIA e os exilados cubanos) querem saber se tomei ou não tomei banho, os detalhes de como está a minha próstata e querem, inclusive, raios X", afirmou.
Mas Fidel também acreditava que autoridades como ele não deveriam misturar a vida pública com a privada.
"Sendo assim, reservei-me uma liberdade absoluta", disse em um documentário em 2001.
Alguns detalhes, no entanto, escaparam dessa cuidadosa blindagem. A "BBC Mundo", o serviço em espanhol da "BBC", selecionou dez deles.
1. Data de nascimento
Oficialmente, Fidel nasceu em 1926. Mas pesquisadores dizem que ele veio ao mundo um ano depois, em 1927.
Mario Beira, autor do livro "Fidel Castro Ruz: Um Estudo Psicanalítico", é um dos que argumentam que o pai de Fidel, Ángel Castro, mudou sua data de nascimento para que o menino pudesse pular do terceiro para o quinto ano e, com isso, cursar uma escola secundária.
Outros sustentam essa teoria com declarações que a mãe do líder cubano, Lina Ruz, e seus irmãos deram à imprensa estatal nos primeiros anos da revolução, assim como dados recolhidos pelos primeiros biógrafos locais.
Em 1977, a jornalista americana Barbara Walters perguntou a Fidel em que ano ele havia nascido.
"Fico com a data menos favorável", respondeu o líder cubano.
2. Nome
Oficialmente, seu nome era Fidel Alejandro. Mas quem teve acesso às suas certidões de nascimento --que são várias, devido à condição original de filho ilegítimo, posteriormente regularizada-- assegura que ele teve outros nomes.
A historiadora brasileira Cláudia Furiati foi a primeira a documentar o assunto. No livro "Fidel Castro: A História me Absolverá", publicado em 2003, ela diz que, em sua certidão de batismo de 1935, Fidel está registrado como Fidel Hipólito Ruz González.
Já a de 1938, consta outro nome: Fidel Casiano Ruz González.
E, finalmente, em 1941, quando foi reconhecido, o líder cubano passa a se chamar Fidel Alejandro Castro Ruz, nome pelo qual ficou conhecido até hoje.
Sobre o assunto, Fidel disse apenas que "em 13 de agosto (dia de seu aniversário) é o dia de São Hipólito Casiano, mas me deram o nome de Fidel por causa do homem que ia ser meu padrinho".
3. 'Fortaleza'
"Punto Cero" é o nome que os serviços de inteligência cubanos dão a Jaimanitas, como é chamada a residência de Fidel em Havana, por décadas cercada de mistério.
A primeira vez que o público viu registros do interior da casa foi em 2001, quando Dashiel Torralba, ex-namorada de um dos filhos do líder cubano, fugiu de Cuba e entregou um vídeo caseiro à rede de TV americana Univisión.
Situada em um subúrbio de Havana, em uma área onde antes se localizava um campo de golfe, trata-se de uma construção em forma de ferradura, ao redor de uma piscina.
O vídeo de Torralba mostra um longo corredor exterior, um amplo jardim com alguns brinquedos, uma cozinha com revestimento de aço inoxidável e uma mesa de jantar com oito cadeiras e uma TV, sem muitos luxos.
Na ocasião, o então vice-presidente, Carlos Lage, classificou a exibição do vídeo como uma "baixeza repugnante". Mas depois que Fidel deixou o poder, em 2008, os controles foram relaxados e algumas personalidades ganharam acesso à residência do líder cubano.
Em janeiro de 2014, por ocasião da cúpula da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) realizada em Havana, vários presidentes visitaram Fidel em sua casa. As fotos distribuídas por agências de notícias mostravam o líder cubano e seus convidados na varanda com cadeiras de balanço de vime simples.
Uma reportagem do jornal britânico The Guardian acrescenta que a "casa modesta" conta com dois andares e quatro quartos, enquanto que o diário Telegraph, também do Reino Unido, a descreve como uma construção "bem equipada" que constrasta com "a imagem de austeridade exigida dos ministros cubanos".
4. Fortuna
O patrimônio de Fidel é um assunto espinhoso, que divide correligionários e detratores.
A revista americana Forbes passou a incluí-lo em sua lista de mais ricos a partir de 1997. Em 2006, último ano em que figura na compilação, o líder cubano aparece com uma fortuna de US$ 900 milhões (R$ 3,1 bilhões).
A cifra se baseia em seu "poder econômico sobre uma rede de companhias de propriedade do Estado".
Fidel classificou a avaliação da Forbes como uma "mentira repugnante".
Outros acreditam que sua fortuna pode ser ainda maior. Segundo eles, o patrimônio do líder cubano está seria parte das chamadas "Reservas do Comandante", que inclui contas bancárias, negócios e propriedades dentro e fora de Cuba.
5. Com que roupa?
Desde o início da década de 50, Fidel Castro não era visto em público senão com vestimenta militar.
"Com o uniforme não tenho que pôr gravata todos os dias. Evita o problema de que roupa vou usar, que camisa, que calças", disse Fidel ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet.
Em 1994, por sugestão do amigo, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, experimentou usar uma camisa informal conhecida como "guayabera", na Conferência dos Não Alinhados, segundo o documentário Fidel, A História Não Contada, da cineasta cubana Estela Bravo.
Naquele mesmo ano, começaria também a vestir-se de terno.
Depois de uma cirurgia em 2006, a saúde fragilizada o levou a um estilo mais informal: calças e casaco esportivos. Razão pela qual a revista americana Time o incluiu em uma lista recente de governantes mais malvestidos do mundo.
E sua famosa barba? Começou a usá-la ainda nos anos 50 e nunca a abandonou.
6. Mulheres e filhos
Fidel Castro gozava de fama de mulherengo e até hoje não se sabe quantos filhos o líder cubano teve.
Em seu livro Without Fidel (2009) (Sem Fidel, em tradução livre), a jornalista americana Ann Louise Bardach disse que o total chega a 11, entre legítimos e ilegítimos.
Fidel se casou em 1948 com Mirta Diaz-Balart, jovem de uma família abastada, que conheceu nos tempos de estudante. Com ela, teve um filho: Fidel, conhecido como Fidelito, que chegou a se encarregar do programa nuclear cubano.
O casamento acabou em 1955 e, segundo Bardach, no ano seguinte, teve três filhos de três mães diferentes.
A mais famosa é Alina Fernández. Sua mãe é Natalia Revuelta, uma jovem da alta sociedade que defendeu ardorosamente a revolução. Alina, por outro lado, fugiu de Cuba em 1993 e se tornou uma das maiores críticas do regime.
A menos conhecida é Panchita Pupo, cuja existência foi revelada por Bardach há alguns anos. Por último, nasceu Jorge Ángel, filho de María Laborde, uma admiradora que Fidel conheceu ao sair da prisão.
Em seguida, o líder cubano teve cinco filhos com a companheira de longa data, Dalia Soto del Valle, uma professora de escola que ele conheceu durante as campanhas de alfabetização dos anos 60: Alexis, Alexander, Antonio, Alejandro e Ángel.
Fidel só se casou com Dalia em 1980. Mas foi apenas em 2003 que o rosto dela se tornou conhecido em todo o país, durante uma transmissão da TV estatal.
"Enquanto não era um pai de estilo afetuoso, Fidel cumpria com suas obrigações e mantinha um olho ? ainda que distante ? sobre o clã. Sustentava financeiramente todos os filhos e garantia que todos teriam oportunidades", escreveu Barach.
A jornalista inclui outros herdeiros não confirmados, como um homem chamado Ciro Redondo, que teria sido fruto de uma breve relação do líder cubano. E em 2007, uma desertora dos serviços de inteligência disse ter dado à luz a outro filho de Fidel nos anos 70.
7. Paixão por esportes
Sua paixão por beisebol era conhecida do público. Alguns dizem que ele teria chegado, inclusive, a realizar testes para jogar com um dos mais famosos times do mundo, o New York Yankees, da Liga Profissional Americana (MLB). Outros acreditam que tudo não passou de mito.
"Em um país como Cuba, onde a cobertura dos esportes era ampla e completa (...) não há nenhum registro de que Fidel Castro tenha jogado, e muito menos de que tenha sido estrela de alguma equipe", escreveu o professor da Universidade de Yale Roberto González Echevarría em seu livro Uma história do beisebol cuban (1999)
Fidel também gostava de pescar em alto mar.
O líder cubano nutria ainda uma paixão pelo basquete. Em 1991, quando a seleção brasileira feminina de basquete derrotou a cubana na final do Jogos Pan-Americanos de Havana, o líder estava no estádio e chegou a brincar com as duas principais jogadoras brasileiras, Paula e Hortência, dizendo que não iria dar as medalhas de ouro para elas na cerimônia de premiação.
8. Gosto por charuto
Reza a lenda que o famoso charuto Cohiba foi inventado pelo amigo de um de seus guarda-costas, Eduardo Rivera Irizarri, especialmente para Fidel, em meados dos anos 60.
O líder cubano acabaria por abandonar o hábito em 1985, por razões de saúde. Seu único contato depois dessa data foi quando autografava caixas destinadas a celebridades "em benefício da saúde pública de Cuba".
9. Boa sorte
"Se sobreviver a tentativas de assassinato fosse uma modalidade da Olimpíada, ganharia medalha de ouro", disse Fidel em certa ocasião.
"Ele tem uma sorte que pode ser confundida até com algo sobrenatural", disse à BBC Mundo, em 2010, o pesquisador espanhol Luis Adrián Betancourt, autor de um livro sobre o assunto.
Além disso, Fidel era conhecido por sua incrível memória.
"Sempre houve um lado esotérico em Fidel, alimentado naturalmente pelas religiões afrocubanas", esreveu a autora Georgie Anne Geyer no livro "Guerrilla Prince: The Untold Story of Fidel Castro" (O Príncipe da Guerrilha: A História Não Contada de Fidel Castro, em tradução livre).
Um episódio, ocorrido em janeiro de 1959, quando Fidel se dirigiu ao povo cubano após vencer a revolução, é citado com frequência.
Em uma das partes mais apaixonadas de seu discurso, uma pomba branca pousa em seu ombro. O incidente foi interpretado como um sinal de que ele era "o escolhido".
10. Lado artístico
Antes de chegar ao poder, Fidel Castro teria participado de pelo menos duas produções de Hollywood como figurante (durante seus anos de estudante): o musical Holiday in Mexico (1946), e a comédia Easy to Wed (1946).
O número de filmes, documentários e séries de que participou totalizam 48.
Mas, de acordo a escritora americana Alice Walker, Fidel Castro não sabia dançar nem cantar.
Já o artista cubano Compay Segundo discordava. Segundo ele, o líder cubano gostava muito de cantar.
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