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Que poder terá Ivanka, filha de Donald Trump, em seu governo?

Ivanka Trump participa de reunião com o primeiro-ministro do Japão e o pai, o presidente eleito Donald Trump - Gabinete do premiê do Japão/AFP
Ivanka Trump participa de reunião com o primeiro-ministro do Japão e o pai, o presidente eleito Donald Trump Imagem: Gabinete do premiê do Japão/AFP

Brenna Cammeron

De Nova York (EUA)

24/12/2016 14h15

Ela é uma empresária de sucesso, com uma fortuna estimada em US$ 150 milhões (R$ 490 milhões). Mas que novo papel o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, pode estar destinando a sua filha, Ivanka?

Aos 35 anos, ela está acostumada aos holofotes e à fama.

Quando adolescente, trabalhou como modelo. Depois de adulta, construiu um vasto império que inclui moda, negócios, empresas de comunicação e autoajuda.

Mas agora ela enfrenta um novo nível de escrutínio, já que Trump está prestes a se mudar para a Casa Branca -- e levar com ele Ivanka e o marido, Jared Kushner.

Trump anunciou em novembro que sua mulher, Melania, ficará em Nova York -- pelo menos inicialmente -- depois da posse, para que o filho mais novo do casal, Barron, conclua o ano letivo.

Enquanto isso, Ivanka Trump e Jared Kushner pretendem se mudar para Georgetown, bairro nobre de Washington, em meio aos rumores de que Trump está destinando ao casal o escritório normalmente usado pela primeira-dama na Casa Branca.

Susan Swain, autora de um livro sobre as primeiras-damas, diz que a decisão representa uma ruptura no protocolo tradicional da Casa Branca. Mas não é surpresa para uma família que pela primeira vez se vê na capital da política americana.

"Cada primeira-dama precisa ocupar esse posto e criar a sua marca, pois assim ela consegue sobreviver nele", disse Swain.

Ela destacou que a primeira-dama Michelle Obama também pensava em ficar em Chicago com as duas filhas, então pequenas, quando Barack Obama venceu a eleição pela primeira vez, em 2009.

A decisão de Melania Trump de ficar em Nova York representa um sentimento compartilhado pelas primeiras-damas ao longo de gerações: preservar uma sensação de rotina e blindar os filhos do presidente ao máximo, continuou a escritora.

Cafezinho com a primeira-filha

O jornal "The New York Times" informou que a Eric Trump Foundation, do filho de Donald Trump, leiloou um café com a futura primeira-filha.

Ozan M. Ozkural, um investidor de Londres, disse ao jornal que ofereceu um lance de quase US$ 60 mil (R$ 196 mil) só para saber quais vão ser os planos do presidente eleito para lidar com a Turquia e outros países.

O lance inicial era de US$ 50 mil (R$ 163,4 mil), mas as ofertas atingiram US$ 72,8 mil (R$ 238,2 mil).

Eric Trump disse ao the "New York Times" que o dinheiro arrecadado irá para o hospital infantil St. Jude Children's Research Hospital, do Estado do Tennessee.

Enquanto Melania fica em Nova York, Ivanka parece disposta a assumir algumas das tarefas de primeira-dama, como ser a anfitriã de encontros com dignitários e de eventos formais.

Mas isso não é especialmente incomum -- outros presidentes dos Estados Unidos, como Thomas Jefferson, Lyndon Johnson, Gerald Ford e Ronald Reagan receberam ajuda de parentes, que não eram as suas mulheres, para que os deveres do cargo fossem cumpridos.

Mas o papel de Ivanka Trump pode ser maior. Ela surpreendeu em um encontro com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, e mais recentemente em uma reunião com o Facebook, a Apple e outras grandes companhias do Vale do Silício.

Mas será que ela poderá ter alguma influência na política do pai?

No passado, Ivanka defendeu causas específicas -- atenção infantil, direitos das mulheres e mudanças climáticas -- que podem não estar de acordo com a orientação do Partido Republicano.

Michael Kranish, coautor do livro "Trump Revealed: An American Journey of Ambition, Ego, Money and Power" (lançado em agosto e que ainda não tem tradução para o português), afirma que os planos de Trump para Ivanka vão permanecer nebulosos até que seja feito um anúncio oficial a respeito.

Kranish lembra, no entanto, que o presidente eleito dos EUA sempre confiou nos próprios familiares para ajudá-lo como seus assessores mais próximos nos negócios.

"Ivanka teve destaque na campanha e na transição do governo, por isso todos esperam que ela e o marido, Jared Kushner, tenham um importante papel como conselheiros do presidente eleito", disse Kranish.

Em uma entrevista ao jornal "The New York Times", a conselheira política Anne-Marie Slaughter disse que via Ivanka Trump como uma defensora das mulheres no governo Trump.

"Ela encara com seriedade os assuntos que envolvem cuidados com mulheres e crianças e pode ser uma importante força interna no governo", disse Slaughter.

Mas qual o grau de formalidade de Ivanka na administração Trump?

Como não é funcionária pública federal, a ela não se aplicam as leis americanas sobre nepotismo criadas no governo Kennedy, nos anos 1960, para impedir que membros da família de um presidente tivessem poder demais no governo dos EUA.

A assessora de Trump, Kellyanne Conway, indicou que o novo governo pretende tirar partido desta lacuna legal.

"A lei de combate ao nepotismo aparentemente tem uma exceção se a pessoa quiser trabalhar na Ala Oeste (onde fica o Salão Oval, local de trabalho presidencial na Casa Branca), porque o presidente pode escolher a sua própria equipe", disse Conway.

Mas ela acrescentou que qualquer empregado na Casa Branca terá de estar "completamente desligado" dos negócios de Trump.

Ivanka, no entanto, não chegou a ser nomeada pelo pai como uma das pessoas que administrariam sua companhia quando ele assumisse a Presidência.

Ainda assim as acusações de conflito de interesses estão longe de desaparecer.

Ela pôde experimentar um pouco disso quando usou uma pulseira da sua grife de joias durante a primeira entrevista da família Trump depois da vitória nas eleições.

Um release, que divulgava a joia de US$ 10 mil (R$ 32,7 mil), provocou agitação entre os jornalistas e um pedido de desculpas formal da presidente da empresa.

Mas esse passo em falso terá servido como aprendizado ou foi apenas uma prévia do tipo de conflito que vai assolar o governo Trump? Analistas dizem que é preciso esperar para ver.

"Somos um país que está caminhando em um terreno novo, porque nunca tivemos uma família de empresários na Casa Branca", ponderou Swain, para concluir:

"Devemos torcer para que a família Trump esteja consciente de todos os desafios éticos que podem surgir se ela não tomar cuidado".