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Antifa x Alt-Right: como a eleição de Trump está inflamando conflitos entre extrema-esquerda e extrema-direita nos EUA

Manifestantes fazem protesto diante da sede do Uber, em San Francisco, depois que o CEO da empresa, Travis Kalanick, se encontrou com o presidente Trump - Jake Naughton/The New York Times
Manifestantes fazem protesto diante da sede do Uber, em San Francisco, depois que o CEO da empresa, Travis Kalanick, se encontrou com o presidente Trump Imagem: Jake Naughton/The New York Times

25/02/2017 08h09

As eleições americanas inflamaram o conflito entre dois grupos políticos radicais de direita e esquerda, que vêm se fortalecendo e travando batalhas na internet e nas ruas.

O polêmico grupo de extrema-direita "alt-right" (abreviação de "alternative right", ou "direita alternativa", em português) é uma das criações das redes sociais que ganhou popularidade na esteira da vitória de Donald Trump na eleição de novembro passado.

Ainda mais depois da nomeação por Trump do estrategista-chefe e assessor do governo: Steve Bannon, que foi um dos coordenadores do Breitbart News, site de notícias que ele próprio definiu como a "plataforma da alt-right".

Os simpatizantes do movimento, que têm bandeiras como conter a imigração nos EUA para "preservar a cultura branca e europeia", comemoraram a nomeação.

Enquanto isso, críticos apontaram que a medida deixaria o governo americano sob influência de um grupo racista e antissemita.

Agora, vem ganhando cada vez mais atenção o que alguns dizem ser a contrapartida do alt-right do outro lado do espectro político, na forma de um grupo anarquista de extrema-esquerda. Eles se chamam "antifa", abreviação para "anti-fascista".

O movimento tem suas raízes nos anos 1930 na Alemanha e foi reprimido na 2ª Guerra Mundial. Mas se disseminou timidamente pela Europa a partir da década de 80.

Ativistas do antifa dizem estar comprometidos com a luta contra o fascismo e racismo em todas as suas formas. E acreditam que a violência física é inevitável nessa batalha.

Eles se fizeram notar durante a posse de Donald Trump, quando protestos acabaram se tornando violentos.

Golpe de publicidade

Mas o vídeo que se tornou viral naquele dia não era dos manifestantes. O que viralizou nas redes foi uma gravação que mostra o nacionalista Richard Spencer levando um soco no rosto por um homem mascarado.

Quase imediatamente, memes inundaram a internet, incluindo uma série de vídeos do ataque com fundo musical. E ativistas do antifa apoiaram o feito.

"Toda vez que alguém repete o vídeo, 11 milhões de fantasmas comemoram entre si", disse à BBC um ativista anônimo que coordena o grupo do antifa na rede social Reddit.

Esses 11 milhões, dizem os ativistas, seriam as vítimas de regimes fascistas ao longo da história.

"Nós, como uma sociedade, não temos que tolerar filosofias neonazistas... que o vídeo se tornou parte do zeitgeist (o 'espírito do tempo'), é uma coisa linda", acrescentou.

O fato de o ato de violência se tornar um golpe de publicidade deixou adeptos do alt-right furiosos. Entre eles, está Chuck C. Johnson, um nome influente no movimento.

"Certamente alcançamos um ponto muito baixo na nossa cultura em que pessoas comemoram a violência", disse ele à BBC.

"Richard não é minha pessoa favorita na direita, mas você deveria ser capaz de dar uma entrevista na rua sem ser agredido", completa. "Achei aquilo no mínimo muito pertubador."

Vingança do alt-right

Semana passada, o alt-right adotou uma medida de vingança quando Johnson publicou, em seu site, os nomes, datas de aniversário e endereços de 223 pessoas acusadas de conexão com os protestos violentos de Washington.

Na linguagem da internet, isso é chamado "doxxing" e significa publicar detalhes pessoais de uma pessoa sem sua permissão, sendo ela uma figura pública ou não, de forma a chantageá-la ou destruir sua reputação.

O próprio Johnson ganhou notoriedade por publicar endereços de jornalistas do New York Times. Ele ainda revelou informações pessoais de uma mulher que foi vítima de estupro e cujo caso havia sido noticiado em um artigo da revista Rolling Stones.

Johnson ainda coordena um site que coleta doações em dinheiro de simpatizantes para compensar quem compartilha informações pessoais contra os liberais.

O ativista chegou, inclusive, a defender o "doxxing" de manifestantes de Washington: "Não tenho problema com criminosos acusados tendo seus endereços publicados."

Essa é uma tática usada tanto pelo alt-right quanto o antifa.

O ativista antifa com quem a BBC conversou também não demonstrava nenhum remorso.

"Os antifascistas sem dúvida praticam o 'doxxing' contra membros ativos dos grupos de ódio", disse o ativista anônimo.

"Para garantir a segurança daqueles que eles vitimizariam nas sombras, precisamos trazê-los à luz."

Guerra de 'doxxing'

Por outro lado, paradoxalmente, criticam a prática quando acabam sendo alvo dela.

"Muitos daqueles que foram presos em Washington não tinham nenhuma conexão com nenhuma ação ilegal", disse o ativista.

"Agora, eles enfrentam ameaças de assédio pelos elementos mais odiosos da sociedade."

No mundo virtual, há uma constante caça de gato e rato. Em sites nos quais é possível publicar mensagens, como o Reddit, há uma constante onda de trollagem (zombarias, na gíria da internet), espionagem e rumores sobre infiltrações.

Mas a batalha segue acontecendo também nas ruas.

Além dos protestos em Washington, nas últimas semanas houve uma série de incidentes nos quais ambos os lados diziam ter sido alvo de ataques apenas por conta de suas crenças políticas.