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Assassinas implacáveis ou vítimas ingênuas? O que se sabe sobre jovens acusadas de matar irmão de líder norte-coreano

A vietnamita Doan Thi Huong (centro), suspeita pela morte de Kim Jong-nam, é escoltada na chegada à corte de Sepang, na Malásia - Daniel Chan/AP Photo
A vietnamita Doan Thi Huong (centro), suspeita pela morte de Kim Jong-nam, é escoltada na chegada à corte de Sepang, na Malásia Imagem: Daniel Chan/AP Photo

01/03/2017 17h54

Qual a possibilidade de duas jovens asiáticas que sonhavam em fazer carreira artística serem, na verdade, duas assassinas capazes de utilizar uma arma de destruição em massa para matar o parente do um líder de um país cuja imagem é repleta de mistérios - tudo isso dentro de um dos aeroportos mais movimentados do mundo?

A trama poderia soar exagerada até para uma série sobre espionagem, mas é uma das hipóteses por trás da acusação, na Malásia, de Doan Thi Huong e Siti Aisyah como assassinas de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte Kim Jong-un.

Elas já foram detidas pela polícia e indiciadas por assassinato.

Mas a hipótese atual não soa menos absurda do que a versão dada pelas próprias suspeitas sobre o crime. Elas afirmam que foram contratadas para fazer uma espécie de "pegadinha" que seria filmada por um programa de entretenimento dentro do aeroporto de Kuala Lumpur.

Nas imagens do circuito interno de televisão do aeroporto, as duas aparecem se aproximando de Kim Jong-nam e esfregando algo no rosto dele.

Segundo elas, o produto seria óleo para bebês, mas a substância era o gás asfixiante VX - uma arma química proibida no mundo todo.

Kim estava fazendo check-in para um voo para Macau, onde morava, quando foi atacado e morreu 15 minutos depois.

Há suspeitas de que o responsável pela contratação desse serviço teria sido o governo norte-coreano. A polícia da Malásia já prendeu um suspeito que seria da Coreia do Norte e ainda procura por outros dois por suposto envolvimento com o crime: um deles seria funcionário da embaixada e o outro trabalharia na companhia aérea estatal.

As duas mulheres apareceram algemadas em um tribunal da Malásia, protegidas pelas forças especiais do país, para ser informadas das acusações que pesam sobre elas. Se forem consideradas culpadas, podem enfrentar a pena de morte.

1.mar.2017 - Siti Aisyah, denunciada à Justiça da Malásia pela morte de Kim Jong-nam, é escoltada pela polícia em sua chegada à corte da cidade de Sepang, nesta quarta-feira (1º) - AP Photo - AP Photo
Siti Aisyah, denunciada à Justiça da Malásia pela morte de Kim Jong-nam, é escoltada pela polícia em sua chegada à corte da cidade de Sepang
Imagem: AP Photo

Vítimas ou assassinas?

Mas afinal de contas, quem são Doan Thi Huong e Siti Aisyah?

As duas detidas parecem ter algo em comum: ambas têm origens muito humildes, e deixaram suas casas ainda jovens para tentar a sorte em outras cidades. Elas acabaram se conhecendo na Malásia.

De acordo com a descrição da polícia malasiana, Huong tem 28 anos e seria "empregada do setor de entretenimento", enquanto Siti, de 25 anos, trabalhava na sala de massagens de um hotel.

O perfil de Huong no Facebook - no qual ela utilizava o nome de Ruby Ruby - é um dos mais analisados pelos investigadores, já que tem fotos em festas glamorosas e muitas selfies. Há rumores de que ela teria feito testes para participar da versão vietnamita do programa Pop Idol, que revela novos talentos da música.

A família diz que ela deixou o vilarejo onde nasceu no norte do Vietnã quando tinha 17 anos para estudar na capital, Hanói, e raramente voltava para casa. Eles se disseram surpresos ao saber que ela estava na Malásia.

A madrasta de Huong disse à BBC no Vietnã que a família estava um pouco cansada de toda a atenção internacional que vem recebendo nos últimos dias.

"Os vizinhos foram solidários conosco porque não conseguem entender como a filha de uma família com valores morais como a nossa possa ter ficado desse jeito", afirmou Nguyen Thi Vy.

Logo depois de escutar as acusações, Huong afirmou que compreendia a natureza do crime, mas afirmou não ser culpada.

A outra suspeita, a indonésia Siti Aisyah, foi detida ao lado do namorado malasiano de 26 anos. Ele foi liberado após pagar fiança.

Ela disse às autoridades da embaixada de seu país que achou que estava participando de um reality show na televisão e que recebeu cerca de US$ 90 (R$ 279) para esfregar o que ela pensou ser óleo de bebê no rosto de Kim.

Na noite anterior ao assassinato, ela estava em uma festa com amigos. De acordo com um deles, que não quis se identificar, ela estava comemorando o aniversário.

Em um vídeo, supostamente filmado durante a festa, ela aparece conversando com os amigos sobre como o futuro como estrela da internet.

Seja qual for a versão que se prove verdadeira - a das assassinas treinadas para usar armas químicas ou a das jovens em busca de fama usadas para cometer um crime internacional -, ambas serão debatidas no dia 13 de abril, quando Huong e Aisyah voltarão aos tribunais para serem julgadas.