Topo

Por que a compra do Alasca pelos EUA foi um dos melhores negócios da história

Foto sem data do cheque americano de US$ 7.200 (US$ 125 miilhões em dólares corrigidos para 2017, ou quase R$ 400 milhões) usado para comprar o Alasca da Rússia em 1867 - National Archives via The New York Times
Foto sem data do cheque americano de US$ 7.200 (US$ 125 miilhões em dólares corrigidos para 2017, ou quase R$ 400 milhões) usado para comprar o Alasca da Rússia em 1867 Imagem: National Archives via The New York Times

30/03/2017 17h20

Em 1867, uma autoridade dos EUA se viu alvo de piadas impiedosas por ter autorizado uma compra considerada extravagante com recursos públicos.

Os Estados Unidos tinham acabado de pagar US$ 7,2 milhões ao governo imperial russo pelo território do Alasca, uma imensidão isolada que não parecia ter utilidade econômica alguma.

Os críticos zombavam da "loucura de Seward". Era assim que eles chamavam a compra do Alasca, associando-a com o então secretário de Estado, William Seward, que tinha feito o negócio.

Nesta quinta, faz 150 anos que os Estados Unidos compraram o território. O tempo acabou dando razão à Seward: a aquisição se mostrou um dos negócios mais rentáveis da história.

Uma pechincha

Se for levada em conta a inflação do período, os US$ 7,2 milhões pagos pelos Estados Unidos em 1867 ao czar Alexandre 2º equivalem a cerca de US$ 100 milhões (R$ 313 milhões) hoje.

Ou seja, pagou-se uma verdadeira pechincha pelo que hoje é o maior Estado dos EUA.

A compra do Alasca adicionou mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados aos EUA. Com isso, se analisarmos apenas o preço do quilômetro quadrado hoje naquele Estado, estima-se que o território vale 150 vezes mais do que Washington pagou por ele.

Mas o Alasca é muito mais que um pedaço de terra gelada. É também um enorme depósito de recursos naturais: menos de 20 anos depois de o negócio ser fechado, instalou-se uma corrida por ouro na região.

Além disso, em meados do século 20 petroleiras encontraram enormes reservas no norte do Estado que, desde então, tem sido exploradas de maneira intensa e rendem milhares de dólares.

O Alasca se transformou numa poderosa economia. Tem uma população que se aproxima de 1 milhão de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 44 bilhões anuais. Em outras palavras, produz anualmente mais de 400 vezes o que a Rússia ganhou ao vender o território.

Poder militar

O Alasca sempre foi considerado estratégico do ponto de vista militar.

Acredita-se que, entre as razões pelas quais a Rússia vendeu a terra, estaria o receio de que o Reino Unido tivesse ambições expansionistas. Naquela época, os britânicos eram uma superpotência mundial e já controlavam o Canadá.

Mal imaginaria o czar que, quase um século depois, em 1945, início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, o Alasca se tornaria um posto militar de valor inestimável - permitia que tropas, radares e aviões americanos estivessem praticamente na porta da Rússia.

Logo, vista com as lentes da modernidade, a venda feita em 1867 pelos russos pode ser encarada como um erro comercial e uma falha estratégica.

Consolo

Mas essa não foi a única compra de terras a favorecer os EUA no século 19.

Em 1803, décadas antes da aquisição do Alasca, os americanos compraram da França a área conhecida como Louisiana.

Era um território ainda maior que o Alasca, com 2,1 milhões de quilômetros quadrados que compreendem hoje 15 Estados dos EUA - vai da cidade de Nova Orleans, no sul, até Montana, no noroeste do país.

O custo da compra de Louisiana foi de US$ 15 milhões, o equivalente a aproximadamente US$ 300 milhões hoje.

No século 19, os EUA conseguiram um aumento territorial expressivo mediante o pagamento de quantias irrisórias para potências europeias.

Mas uma coisa é verdade: naquela época, era difícil prever a expansão econômica que o país iria contabilizar décadas mais tarde.

No Alasca, comemorou-se o 150º aniversário do negócio assinado por Seward em 1867. E ele acabou entrando para história não como um louco, como previam seus contemporâneos, mas como o arquiteto de um dos maiores negócios de todos os tempos.