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Anúncios online oferecem acomodação no Reino Unido para jovens em troca de sexo

Ofertas no limiar da lei aparecerem em sites de classificados como Craigslist - Getty Images
Ofertas no limiar da lei aparecerem em sites de classificados como Craigslist Imagem: Getty Images

13/04/2017 09h19

Uma investigação da BBC revelou que moradias estão sendo oferecidas a jovens no Reino Unido em troca de favores sexuais.

As ofertas são feitas em anúncios de sites de classificados populares como o Craigslist - e são legais. No entanto, ONGs condenaram a prática, e um parlamentar disse que pode vir a criar uma lei para coibir a prática.

Em um único dia, foram identificados pela BBC mais de cem anúncios do tipo no Craigslist, que não comentou sobre o assunto até o momento.

Uma jovem disse que a oferta de "casa em troca de sexo" era sua única opção. "O dono do lugar me levou para a sala, me deu bebida e, depois, fomos para o quarto", disse ela.

"Ele me forçou a fazer o que queria. Simplesmente aceitei. Depois da terceira vez, comecei a me sentir mal fisicamente."

'Garota safada'

Em um dos anúncios, um homem oferece um local para mulheres morarem em Maidstone, no sudeste da Inglaterra, e, em troca, fingirem ser sua namorada. Outro anunciava um quarto em Rochester, também no sudeste inglês, em troca de "serviços".

Um terceiro local, em Brighton, na costa sul do país, era voltado para homens jovens.

Em outro, o dono de um imóvel de Londres dizia esperar que uma "garota safada" se mudasse para sua casa.

Nas postagens, os proprietários autores dos anúncios explicam claramente os termos do acordo. "Penso em algo em torno de uma vez por semana. Ficarei satisfeito desde que haja sexo", escreve um deles.

Outro afirma: "No apartamento, seríamos duas pessoas que dividem uma casa. As contas e aluguel seriam grátis. Mas você teria de topar aparecer no meu quarto algumas vezes por semana."

'Amizade com benefícios'

Um proprietário, que conversou com a BBC sob a condição de anonimato, defendeu o acordo como uma "amizade com benefícios".

"O aluguel caríssimo cobrado por donos de imóveis também é uma forma de tirar vantagem. Ninguém é obrigado a fazer nada. Todo mundo entra nessa sabendo o que está fazendo", afirmou.

"Sou a última pessoa do mundo que tiraria vantagem de alguém. Ambos têm algo que o outro quer. Todos saem ganhando."

Ele fez um acordo do tipo com uma inquilina por seis semanas e, agora, busca alguém para substituí-la. "Falo por mim quando digo que prefiro uma mulher mais velha, não uma com idade para ser minha filha", ele acrescentou.

O proprietário argumentou que trabalhar em empregos que as pessoas não gostam também é "uma forma de prostituição".

Mel Potter, da ONG Brighton Oasis Project, que é voltada ao apoio a mulheres, comparou o esquema a "uma armadilha que coloca uma pessoa em uma situação de violência e abuso".

Escolha

Andrew Wallis, da ONG Unseen, de combate à escravidão, avaliou que "esses anúncios estão no limiar do que é possível fazer sem violar a lei".

"Podem argumentar que as pessoas entraram nessa situação voluntariamente, mas o problema é quando uma pessoa em situação vulnerável é explorada. O conceito de escolha desaparece."

Paul Noblet, da ONG Centrepoint, voltada para pessoas sem-teto, sugeriu que os sites de classificados criem práticas para monitorar e remover anúncios do tipo.

O parlamentar britânico Peter Kyle disse que esses portais devem ser obrigados a lidar com essa questão. "Se não fizerem alguma coisa e aceitarem que têm uma responsabilidade, criarei uma legislação a forçá-los a agir."