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A misteriosa mulher que parou um tanque durante protestos contra o governo na Venezuela

Mulher desconhecida ficou em frente a tanque durante manifestação em Caracas - Juan Barreto/AFP
Mulher desconhecida ficou em frente a tanque durante manifestação em Caracas Imagem: Juan Barreto/AFP

20/04/2017 18h59

"Valente" e até "heroica".

É assim que vários usuários de redes sociais descrevem uma mulher idosa que, com a bandeira da Venezuela amarrada no pescoço, parou sozinha um tanque na quarta-feira no centro de Caracas.

A cena foi gravada durante uma das manifestações contra o governo do presidente Nicolás Maduro, paralela a outras de apoio ao governo, em um dia que deixou mortos - três civis e um guarda - por ferimentos de bala.

A imagem da senhora venezuelana inevitavelmente lembra a do homem parado em frente a uma coluna de tanques, registrada em 5 de junho de 1989, durante os protestos na Praça Tiananmen, em Pequim, a capital da China - e que deu a volta ao mundo.

A identidade da mulher não foi divulgada ainda, e não está claro se ela foi presa ou não.

A ação da mulher ocorreu na rua Francisco Fajardo, no centro da capital venezuelana, e vários fotógrafos a testemunharam.

De acordo com um deles, a mulher participava da manifestação pacificamente e estava muito perto das forças de segurança.

"Em alguns momentos, ela se manteve parada na frente das autoridades, que tentaram removê-la com jatos de água. Outros manifestantes tentaram levá-la para algum lugar protegido e também não conseguiram", diz um fotógrafo.

Quando o caminho começou a ser aberto para os tanques passarem, a manifestante decidiu dar um passo adiante e se colocar diante de um deles, diz o mesmo profissional.

"O oficial que conduzia o veículo a empurrou gentilmente com a intenção de movê-la, enquanto o outro que manobrava a arma de atirar gás lacrimogêneo jogava um cartucho de gás, ambos sem efeito", acrescentou.

"Toda vez que o tanque recuava para evitá-la, ela avançava", diz outro fotógrafo que registrou a cena, em que muitas pedras estão no asfalto.

Enquanto ela não saía de frente do veículo, tinha que suportar bombas de gás lacrimogêneo lançadas em sua direção - Juan Barreto/AFP - Juan Barreto/AFP
Enquanto ela não saía de frente do veículo, tinha que suportar bombas de gás lacrimogêneo lançadas em sua direção
Imagem: Juan Barreto/AFP

"Alguém da imprensa tentou convencê-la a se afastar. Ela se recusou", disse ele, acrescentando que, em alguns momentos, a mulher parecia muito afetada pelos gases.

Em uma das imagens que circulam nas redes sociais, a venezuelana aparece cobrindo os olhos e nariz com um pano, de costas para o tanque, entre bombas de gás lacrimogêneo.

Outra imagem a mostra sendo levada em uma moto por dois guardas nacionais, já sem o boné e com seu cabelo curto e grisalho à vista, embora não esteja claro se foi detida ou não.

O Fórum Penal da Venezuela, uma organização não governamental composta por mais de 200 advogados e que auxilia detidos e vítimas de violações dos direitos humanos, disse à BBC que não recebeu quaisquer queixas sobre a possível prisão da mulher.

Enquanto procuram-se mais dados sobre ela, algumas pessoas nas redes sociais já a alçaram a "símbolo da oposição a Maduro".

Reações

Um dia após o episódio, milhões de usuários compartilharam as fotos da mulher nas redes sociais pedindo seu nome, elogiando sua atitude ou criticando-a.

"Essa é a nossa mulher venezuelana, bravo! Deus te abençoe, senhora, hoje e sempre", publicou na internet um dos líderes da oposição, Henrique Capriles.

No entanto, em fóruns venezuelanos, como o do jornal El Nacional no Facebook, internautas também se manifestaram contra a atitude da mulher, chamando-a de "irresponsável" ou "golpista".

Ela foi criticada por "querer aparecer" ao ir de encontro ao tanque.

A favor ou contra, a questão é que sua identidade permanece desconhecida.

Para Luis V., um dos milhares que comentaram sobre o assunto nas redes sociais, é melhor não saber quem ela é.

"Não é bom dizer seu nome. Para evitar perseguição. É melhor chamá-la Senhora Liberdade."