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'Quem é o presidente importa menos do que a continuação das reformas', diz 'The Economist'

26/05/2017 09h09

"Quem é o presidente importa menos do que a continuação das reformas". É o que afirma um editorial da The Economist, a principal revista de economia e finanças do Reino Unido, na edição publicada nesta sexta-feira.

"Com Temer ou sem ele, o melhor que o Brasil pode esperar agora é ter um presidente fraco, mas que consiga concluir o que o atual presidente começou no resto do mandato", afirma trecho do artigo.

O presidente Michel Temer enfrenta a maior crise de seu governo desde a divulgação da gravação da conversa em que dá a Joesley Batista, um dos donos da JBS, um suposto aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba no âmbito da Operação Lava Jato.

A gravação faz parte do conjunto de provas que o empresário negociou com a Procuradoria-Geral da República em seu acordo de delação premiada.

A revista destaca que as denúncias "feriram" a Presidência e o país. E afirma que, apesar das falhas, "Temer estava avançando nas reformas que o Brasil precisa desesperadamente".

"A economia está começando a se recuperar de sua pior recessão já registrada; a inflação e as taxas de juros estão caindo. Temer encoraja essa recuperação por meio da reforma da Previdência, que, de outro modo, arruinaria a economia com dívidas. Ele está tentando liberalizar leis trabalhistas inspiradas nas de Benito Mussolini", completa o texto.

'Cedo demais para pedir renúncia'

O artigo afirma ainda que a chegada de Temer à presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, em agosto do ano passado, não representou uma "ruptura com o passado sujo". E lembra que tanto membros do PMDB quanto do PT - partidos de Temer e Dilma, respectivamente - são alvos das investigações da Operação Lava Jato.

"A diferença é que Temer, um político mais hábil do que Dilma, está tocando reformas econômicas vitais que não avançaram com ela. É por isso que as novas acusações de irregularidades envolvendo o presidente não são surpreendentes, mas ruins para o Brasil", diz trecho do artigo.

Neste contexto, a publicação afirma que "é cedo demais para exigir a renúncia de Temer". Destaca que ainda não está claro se o presidente cometeu crime e lembra que ele se declara inocente, sob a alegação de que as gravações foram manipuladas.

"As novas denúncias vêm de Joesley Batista, um magnata da carne, que estava sendo perseguido por promotores em vários casos de corrupção", acrescenta o texto, lembrando que Joesley será liberado mediante o pagamento de multa de R$ 110 milhões, "o que ainda o deixa bilionário".

Se Temer permanecer no cargo, a revista diz que ele enfrentará dificuldades para aprovar as reformas no Congresso. Mas destaca que sua saída - que poderia acontecer por meio de renúncia, impeachment ou cassação da chapa da última eleição pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - pode não resolver o problema.

"Com exceção de uma nova eleição, que só pode ser convocada por meio de uma emenda à Constituição, seu sucessor seria nomeado pelo Congresso. Muitos de seus expoentes estão sob investigação. Não será fácil ocupar a Presidência com um político de primeira linha, que seja honesto e tenha apoio popular", avalia.

Além da reforma trabalhista e da Previdência, o editorial sugere que a reforma política também deveria ser introduzida na pauta, o que poderia resultar na eleição de políticos menos corruptos em 2018.

"O Brasil está passando por uma renovação política e econômica desgastante. Seus líderes, por mais enfraquecidos que tivessem sido pelo escândalo, têm de perseverar com esse trabalho vital", afirma.