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O erro de cálculo de Theresa May que levou a vitória com gosto de derrota nas eleições

Theresa May anunciou eleições gerais em 18 de abril  - Toby Melville/ Reuters
Theresa May anunciou eleições gerais em 18 de abril Imagem: Toby Melville/ Reuters

09/06/2017 07h21

O ex-jogador inglês e apresentador de TV Gary Lineker explicou o resultado das eleições de quinta-feira (8) no Reino Unido na linguagem do futebol: "Acredito que Theresa May fez o gol contra do ano", disse no Twitter.

O Partido Conservador liderado pela primeira-ministra britânica ganhou as eleições gerais realizadas quinta-feira no Reino Unido, mas perdeu sua maioria absoluta no Parlamento.

May queria aumentar o número de assentos de seu partido, para dar solidez a seu mandato com foco nas negociações com a União Europeia pela saída do país do bloco, por isso, causou surpresa ao antecipar eleições - ela poderia realizá-las em algum outro momento até 2020.

O partido perdeu 12 assentos (ganhou 318 dos 650 assentos), ou seja, a aposta de May deu errado.

Entenda, abaixo, o que aconteceu:

A aposta

Theresa May convocou eleições antecipadas no último dia 18 de abril.

Ela queria ampliar a margem de maioria de seu partido no Parlamento para fortalecer seu mandato e poder aprovar sem impedimentos as leis necessárias para facilitar a saída do Reino Unido da União Europeia, o processo popularmente conhecida como Brexit.

"May fez um arriscado jogo político do qual saiu derrotada", diz a editora de política da BBC Laura Kuenssberg. "Não tinha por que convocar essas eleições e ela só o fez para conseguir uma posição mais cômoda para navegar com mais tranquilidade a turbulenta jornada do Brexit."

O Partido Conservador continua tendo mais assentos do que qualquer outro partido, mas agora não poderá governar sozinho.

A promessa de May ao longo de toda a campanha foi oferecer uma "liderança forte e estável", porém, em vez disso, os resultados debilitaram sua posição.

A perda da vantagem

Há pouco mais de um mês e meio, no início do processo eleitoral, May parecia inalcançável.

Nas pesquisas, ela contava com uma vantagem de 20-21 pontos sobre seu principal rival, o Partido Trabalhista - que, sob liderança de Jeremy Corbyn, poucos viam como possível ameaça nas urnas.

Mas os trabalhistas ganharam 29 assentos - 261 no total - um desempenho surpreendente, creditado por analistas a uma campanha vigorosa de Corbyn - e a uma reação de parte do eleitorado ao "massacre" feito por boa parte da imprensa britânica a suas supostas ideias esquerdistas ultrapassadas.

Já a campanha de May teve vários reveses, como o anúncio de um polêmico plano para cobrar de famílias os custos com cuidados domiciliares de idosos - medida que afetaria sobretudo familiares de pacientes de doenças degenerativas, e que, por isso, foi batizada de "taxa de demência".

A proposta foi mal recebida e o Partido Conservador a tirou de sua plataforma.

Além disso, a campanha conservadores ficou na defensiva; a primeira-ministra, de 60 anos, negou-se a participar de um debate televisivo apesar da presença confirmada de seu principal rival, o líder trabalhista.

Assim, a vantagem de May sobre Corbyn foi caindo. Os conservadores receberam 42,4% do total de votos, os trabalhistas, 40%.

Melhora da imagem de Corbyn

O político de 66 anos, que sobreviveu a um agitado processo interno para se manter como líder do Partido Trabalhista em setembro de 2016, realizou uma surpreendente campanha na qual aumentou consideravelmente seus índices de aprovação.

Seu estilo franco, sua oposição às medidas de austeridade e sua capacidade de conectar com as bases o favoreceram - e isso foi refletido no resultado.

Dada a diferença inicial nas pesquisas e o fato de que o objetivo de May era ampliar seu domínio parlamentar, qualquer resultado em que o Partido Trabalhista não perdesse representantes seria positivo e, por isso, há quem fale em "doce derrota".

Segurança em debate

O tema segurança pesou na reta final da campanha, marcada pelos ataques extremistas de 22 de maio em Manchester e de 3 de junho em Londres, que causaram um total de 30 vítimas e dezenas de feridos.

Durante a campanha, May foi criticada pelos cortes nas forças policiais aplicados por sucessivos governos conservadores em que ela foi ministra do Interior, cargo que ocupou entre 2010 e 2016.

May defendeu que a polícia tem recursos suficientes e que o mais importante seria zelar para que os agentes nas ruas fossem capacitados de forma adequada.

Após o ataque de Londres, May afirmou estar preparada para modificar leis associadas à defesa de direitos humanos para, entre outras coisas, facilitar a deportação de suspeitos estrangeiros e aumentar os controles sobre suspeitos de extremismo.

Petições de demissão

Todo esse contexto fez com que várias vozes agora pedissem a demissão da primeira-ministra.

Corbyn o fez inclusive antes das eleições e foi o primeiro a dizer nesta quinta-feira que, diante dos resultados, "May precisa sair".

Alguns conservadores disseram que May deveria reconsiderar sua posição como líder do partido.