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As 4 opções não militares para enfrentar o desafio da Coreia do Norte

O regime norte-coreano, liderado por Kim Jong-un, comemora no próximo sábado o aniversário da sua fundação - KCNA via Reuters
O regime norte-coreano, liderado por Kim Jong-un, comemora no próximo sábado o aniversário da sua fundação Imagem: KCNA via Reuters

05/09/2017 10h22

O último teste nuclear anunciado pela Coreia do Norte no domingo passado voltou a alarmar não apenas Washington mas também países vizinhos na Ásia.

Depois de os norte-coreanos terem anunciado que acionaram uma bomba que, segundo a mídia oficial de Pyongyang, seria de hidrogênio e poderia ser transportada por um míssil de longo alcance, o presidente dos EUA, Donald Trump, convocou assessores militares para discutir as opções disponíveis.

Depois da reunião, o secretário de Defesa americano, James Mattis, ameaçou "uma resposta militar em massa" se o líder norte-coreano Kim Jong-un atacasse território americano ou algum de seus aliados na Ásia.

Nas últimas semanas, por mais de uma vez os EUA ameaçaram a Coreia do Norte com ações militares que não se materializaram.

Muitos analistas destacam os perigos de uma intervenção militar contra Pyongyang e os efeitos devastadores que sua resposta poderia ter.

O caminho adotado, ao menos por enquanto, parece se limitar à pressão política e diplomática. Há pelo menos quatro opções para lidar com os testes nucleares da Coreia do Norte sem recorrer ao uso da força.

1. Endurecimento das sanções

Como acontece com certa frequência, sempre que a Coreia do Norte anuncia ter feito seus ensaios nucleares e contraria as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), o Conselho de Segurança se reúne para responder a ameaça.

A representante dos EUA na ONU, Nikki Haley, instou os Estados membros do Conselho de Segurança a adotarem "as medidas mais rigorosas possíveis". A diplomacia americana apesentará um novo projeto de resolução que, provavelmente, vai incluir uma nova rodada de sanções contra Pyongyang.

Há dúvidas, contudo, se sanções terão algum efeito. A ONU adotou sete rodadas anteriores de sanções, além das impostas pelos Estados Unidos ou a União Europeia e seus Estados membros. Mas nenhuma delas fez com que Kim Jong-un desistisse de seu programa de desenvolvimento nuclear.

A Coreia do Norte tem se mostrado resistente mesmo depois que a China, um grande avalisador dos norte-coreanos, mudou sua política em 2006 e começou a votar a favor das sanções contra o vizinho no Conselho de Segurança.

As poucas informações disponíveis indicam que a economia norte-coreana está crescendo graças às medidas liberalizadoras implementadas por Kim Jong-un desde que assumiu o cargo em 2011.

Eficientes ou não, os EUA insistem em castigos adicionais. "Trata-se de esgotar todos os meios diplomáticos antes que seja tarde demais", disse Haley.

Ainda à espera das negociações na ONU, Rússia e China reiteraram que condenam os exercícios militares de Pyongyang, mas enfatizaram que querem evitar uma escalada dos confrontos que possam mergulhar a região em uma guerra.

Os representantes das duas potências na ONU adotaram um tom diferente do imposto pelos EUA. O embaixador chinês, Liu Jieyi, afirmou que seu país "nunca permitirá caos e guerra na península" e reiterou que as negociações diplomáticas são o único meio para resolver a crise.

Na mesma linha, a Rússia manifestou a necessidade de "manter a cabeça fria" e não reagir de forma precipitada. O presidente Vladimir Putin conversou por telefone com o líder da Coreia do Sul, Mun Jae-in, e insistiu em apostar no diálogo para reduzir a tensão.

Tanto a China quanto a Rússia veem o arsenal nuclear de Pyongyang e a presença militar dos EUA na região do mar da China com o mesmo zelo.

2. Embargo comercial

Por trás do último movimento de Kim Jong-un, o presidente Trump recorreu ao Twitter para introduzir um novo elemento à tensão entre os dois países. "Os Estados Unidos estão considerando, entre todas as opções, descontinuar todo o comércio com países que fazem negócios com a Coreia do Norte", disse.

Até o momento, as ameaças e repreensões se limitavam à Coreia do Norte e à China, acusada por muitos de não atuar com firmeza.

Agora mira-se também em outros alvos comerciais, ainda que colocar em prática uma medida como a anunciada por Trump traria importantes consequências para os EUA.

Na lista de quem troca bens e serviços com a Coreia do Norte, estão alguns dos aliados estratégicos dos americanos como a Alemanha e França e países com enorme peso na balança comercial dos EUA, como China e México.

Especialistas acreditam que a economia americana poderia acabar pagando caro caso tome realmente tal medida.

Karishma Vaswani, correspondente da BBC na Ásia, estima que 1 milhão de postos de trabalho estariam em risco nos EUA.

Além disso, o analista avalia que, se Trump tentasse colocar em prática a ameaça postada no Twitter, ele enfrentaria o bloqueio do Congresso americano.

A China, principal parceiro comercial da Coreia do Norte, responde, segundo o Foro Econômico Mundial, por 85% de tudo que os norte-coreanos importam e por 83% do que eles exportam. Interromper esse fluxo comercial representaria o colapso da economia norte-coreana.

Nas últimas semanas, as autoridades chinesas foram mais rigorosas em aplicar as sanções e proibiram a entrada de carvão norte-coreano no país. Mas, de acordo com Stephen McDonell, da BBC em Pequim, muito mais poderia ser feito.

"A maioria dos observadores sabe que, se (a China) realmente quisesse, poderia paralisar a economia da Coreia do Norte e interromper o fornecimento de gás e petróleo", assinala McDonell.

Há ainda a suspeita de que o regime de Pyongyang utiliza bancos chineses para lavar dinheiro. Também seriam por meio desses bancos que emigrantes norte-coreanos enviariam moeda para o país.

Se a Coreia do Norte depende da força econômica chinesa, os EUA também. Pequim é o principal parceiro comercial dos norte-americanos e a interrupção das transações provocaria efeitos em ambas economias.

Somente em 2016, os EUA importaram bens e serviços chineses no valor de cerca de US$ 450 bilhões, quatro vezes mais do que exportou para a China. Os valores ilustram o forte desequilíbrio da balança comercial.

Além disso, a China é principal financiador da economia americana e um dos maiores credores de títulos da dívida pública dos EUA.

Não foi à toa que a principal rival de Trump na disputa pelo comando da Casa Branca, Hillary Clinton, indicou em 2009 a dificuldade de qualquer administração ser firme contra Pequim. "Como você negocia com mão pesada diante de seu banco?", questionou.

3. Acordo entre EUA e China

Um acordo entre as duas superpotências para reunificar a península da Coreia aparenta ser a única opção que levaria a uma solução definitiva para acabar com a tensão na região. Mas tal acordo parece muito distante.

Ainda que o líder chinês Xi Jimping tenha motivos para estar perdendo a paciência com seu vizinho, são fortes as razões para que não aumente extremamente a pressão contra a Coreia do Norte.

Enquanto os EUA continuem mantendo uma esmagadora presença militar na área e atuando de fato como força militar a favor da Coreia do Sul e Japão, Pequim tem interesse em ver a rebelde Coreia do Norte atuando como um freio de segurança.

Em março passado, o lançamento bem sucedido de um novo tipo de foguete pelos norte-coreanos foi colocado na agenda do encontro de Xi Jimping com o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, em Pequim.

O teste realizado em Punggye-Ri no domingo aconteceu apenas algumas horas antes do presidente chinês dicursar na abertura da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que aconteceu na China.

De acordo com Stephen McDonell, a China vai evitar fazer tudo o que os EUA querem, a menos que os dois países cheguem a um acordo para reunir as duas Coreias. Isso levaria à retirada de um grande número de militares atualmente de prontidão nas portas do gigante asiático.

4. Não fazer nada

Às vezes, ficar parado também é um movimento diplomático.

Quando não é possível melhorar as coisas, talvez o mais sensato seja simplesmente não piorá-las.

Como falou o economista Joseph Alois Schumpeter, "uma forma de encarar o problema, e não piorar a situação, é ignorá-lo".

O Conselho de Segurança se reuniu para tentar evitar que a Coreia do Norte entrasse para o grupo das potências com capacidade para desenvolver mísseis balísticos intercontinentais com carga nuclear.

Mas há indício de que talvez seja tarde demais e a Coreia do Norte conte com tecnologia para devastar alvos muito distantes de seu território, como os EUA.

"Se a Coreia do Norte não testou uma bomba de hidrogênio, como disse que foi feito desta vez, o fará em breve", disse, ao Washington Post, a analista Sue Mi Terry, da CIA, a agência de inteligência dos EUA.

É pouco provável que o consenso na ONU vá além da condenação já aplicada pelo último teste de Pyongyang. Se isso acontecer, haverá alguma mudança política.

As sete rodadas de sanções não pareceram ser suficientes para fazer Kim Jong-un desistir de sua aposta atômica e, a cada declaração dos EUA, o líder norte-coreano responde com mais um teste. Uma outra opção possível, mesmo que seja difícil para Washington admitir, é confiar que Pyongyang acalme os ânimos.

O regime norte-coreano comemora no próximo sábado o aniversário da sua fundação e, no dia 10 de outubro, celebra a criação do Partido dos Trabalhadores da Coreia, o partido único.

Há esperança para os estrategistas ocidentais que, após essas datas, Kim Jong-un abandone ou, pelo menos, reduza suas investidas bélicas.