Bolsonaro é recebido como 'popstar' em meio a quebra-quebra e confusão em Belém
"Fecha tudo, tudo. Estão derrubando o portão. Corre porque eles vão invadir", gritava um segurança, desesperado. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se aproximava de um salão de eventos em Belém (PA), onde daria uma palestra para seus fiéis seguidores.
A carreata dobrava a esquina e o aviso do vigilante surgiu tarde demais. Os seguidores do pré-candidato a presidente da República tiveram um momento 'black bloc' - grupo que prega depredação do patrimônio - e quebraram os portões e uma vidraça do salão de eventos onde o parlamentar falaria.
Bolsonaro visitou a cidade no início das festividades do Círio de Nazaré, romaria com dois milhões de fieis em homenagem à Nossa Senhora do Nazaré. A procissão atraiu políticos em busca de visibilidade: o deputado e o presidente Michael Temer (PMDB) visitaram a cidade na quinta. Na sexta, o prefeito de São Paulo e apontado como pré-candidato à Presidência, João Doria (PSDB), também desembarca em Belém.
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No aeroporto, Bolsonaro foi recebido por milhares de pessoas - parecia um "popstar". Nos discursos que proferiu durante o dia, destacou várias vezes que "não é candidato" - uma maneira de driblar a lei eleitoral que proíbe campanha antes da hora.
Foi a primeira vez que ele visitou Belém nos últimos dois anos. O evento foi organizado pelo deputado federal Éder Mauro (PSD), ex-delegado no Pará.
O espaço da palestra, alugado por R$ 9 mil, tinha capacidade para mil pessoas, mas 8 mil ingressos foram distribuídos gratuitamente pela internet. A maioria não conseguiu entrar, revoltou-se com os seguranças e tentou invadir a casa. A polícia não apareceu.
"Ninguém imaginava que viria tanta gente", disse uma organizadora.
Portões e vidro abaixo
Antes de a carreata chegar, o público de milhares de pessoas se espremia e se empurrava. Muita gente com ingresso na mão reclamava da organização do evento, pois não conseguiria entrar para ver o discurso do ídolo da direita conservadora.
Um vendedor ambulante discutiu com um militante. Alguns homens expulsaram o camelô da porta do salão. "Vai morrer, vai morrer", gritou a multidão.
No portão, o estudante do ensino médio Daniel Guerra, de 18 anos, mostrava seu ingresso. "Pensei que conseguiria entrar, agora estou frustrado de ficar de fora".
Em massa, os partidários do deputado, a maioria jovem, empurraram a primeira barreira de portões, que foram quebrados. Uma vidraça se estilhaçou.
Do lado de dentro, a gerente do salão, Janete dos Santos, gritava: "Vamos cancelar, avisa todo mundo que cancelamos o evento. Cadê a polícia? Estamos sendo coagidos, ameaçados".
Ela queria cancelar a palestra, com medo de mais danos ao patrimônio da empresa. Enquanto isso, organizadores tentavam convencer os donos do espaço a manter o evento, aos berros. Do lado de fora, os seguidores do deputado batiam nos vidros e na segunda barreira de portões - que ficaram amassados.
'Mito, mito, mito'
Dentro do mesmo prédio, há uma cervejaria que pertence ao mesmo grupo. Ela precisou ser fechada - o happy hour foi cancelado. "Era melhor a gente nem ter alugado. Nem dá para calcular esse prejuízo."
Quando o carro de som de Bolsonaro chegou ao local, uma chuva torrencial atingiu o centro de Belém. O público pulou como se estivesse em um estádio, aos gritos de "mito, mito, mito", - apelido do deputado entre seus seguidores.
Em meio a multidão, Bolsonaro, encharcado, primeiro falou do lado de fora mesmo. No discurso, similar ao que posteriormente fez dentro do espaço alugado, o político voltou ao seus temas favoritos - e que levam à alegria seu público. Pediu a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu o fim restrição ao porte de armas no país, fez elogios à ditadura e críticas à imprensa - que o persegue, segundo ele.
Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana mostrou que, no cenário em que Lula disputa as eleições de 2018, o petista lidera com 36% das intenções de voto; Bolsonaro tem 16% e Marina Silva (Rede), 14%.
O parlamentar também elogiou a Polícia Militar e fez críticas à exposição "Queermuseu", cancelada no Rio Grande do Sul, e a uma performance do Museu de Arte Moderna de São Paulo que virou polêmica depois que uma criança tocou a mão e os pés de um homem nu. "No meu governo, exposição de depravado não vai ganhar dinheiro de Lei Rouanet."
Bolsonaro também falou que, em um eventual governo seu, proprietários de terra vão poder se defender de invasões com fuzis.
"A lei da propriedade é sagrada. Invadiu, fogo neles", disse.
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