Ratko Mladic: o 'açougueiro da Bósnia' condenado pela maior atrocidade na Europa no pós-Guerra
Ratko Mladic, o general do Exército que ficou conhecido como o "açougueiro da Bósnia", foi condenado nesta quarta-feira à prisão perpétua.
Comandante do Exército sérvio durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), ele era acusado de genocídio e de crimes contra a humanidade e de ter promovido uma "limpeza étnica" na região.
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O processo contra Mladlic, 74, começou em 2012. Ele havia sido detido um ano antes na Sérvia após ter ficado 16 anos foragido.
Em 1995, o ex-general foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional junto com o presidente da então República Sérvia da Bósnia, Radovan Karadzic - que foi julgado e condenado a 40 anos de prisão.
Mladic também era acusado de ter conduzido o massacre de Srebrenica, maior genocídio ocorrido na Europa no pós-Guerra, com o assassinato de cerca de 8 mil homens e meninos muçulmanos. Ele negou as acusações e seu advogado disse que vai recorrer da decisão.
O alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein disse que o ex-general é a "personificação do mal" e que sua condenação é "o exemplo perfeito de justiça internacional".
Ação na guerra
Madlic foi responsável por comandar o cerco de 43 meses a Sarajevo durante a Guerra da Bósnia.
No final de fevereiro de 1992, os muçulmanos (chamados bosníacos) e croatas da Bósnia votaram pela independência em relação à Iugoslávia em um referendo boicotado pelos sérvios. Um mês depois, a União Européia reconheceu a independência da Bósnia.
Os sérvios então deram início à guerra. Sob liderança do presidente Karadzic, o Exército de 180 mil homens comandado por Madlic cercou Sarajevo e ocupoou 70% do país. Com o intuito de estabelecer uma República Sérvia, perseguiram e mataram croatas e muçulmanos.
Madlic e Karadzic conduziram uma campanha de limpeza étnica. Em Sarajevo, mais de 10 mil civis foram mortos.
A principal motivação de Mladic teria sido cumprir o que ele entendia como "destino da nação Sérvia" e criar um Estado sérvio puro.
Mladic viu na guerra a oportunidade de se vingar de cinco séculos de ocupação da região pelos turcos muçulmanos. Ele se referia aos bosníacos como "turcos", com o intuito de ofendê-los.
Assim que seus atiradores especiais tomaram Sarajevo, matando sem piedade os civis, Madlic teria gritado para encorajá-los: "Queimem seus cérebros" e "Bombardeiem até que eles fiquem à beira da loucura!".
O cerco devastou partes centrais de Sarajevo, com a destruição de casas e a queima de carros. Uma avenida da cidade ficou conhecida como o Beco do Atirador, porque os franco-atiradores sérvios atiravam em tudo que se movia: carros, homens, mulheres ou crianças.
De acordo com o tribunal, os soldados sob o comando de Mladic também estupraram dezenas de mulheres e meninas muçulmanas.
Massacre de Srebrenica
O pior e mais grave crime de Mladic foi o massacre de Srebrenica, localizada a 80 km de Sarajevo. A cidade era um enclave bosníaco sob proteção da ONU.
Em julho de 1995, as forças lideradas por Mladic conseguiram tomar a cidade e assassinaram milhares de homens e meninos, entre 12 e 77 anos. Enquanto os homens eram detidos, Mladic era visto distribuindo doces aos meninos na praça central da cidade. Horas depois, em um campo fora da cidade, seus homens disparavam contra os presos, divididos em grupos de dez.
Em cinco dias, cerca de 8 mil homens e garotos foram executados. Foi a pior execução em massa desde os crimes cometidos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Carreira
Mladic nasceu no vilarejo Kalinovik, ao sul da Bósnia. Seu pai também era militar e morreu quando ele completou dois anos, lutando pelas tropas croatas pró-nazistas.
Ele cresceu em Tito, na Iugoslávia, e se tornou oficial no Exército Popular Iugoslavo. Soldado de carreira, diziam que ele inspirava a devoção de seus soldados.
Quando o país caminhava para a guerra, em 1991, ele liderou um batalhão do Exército iugoslavo contra as forças croatas na cidade de Knin. No ano seguinte, foi designado comandante do novo Exército sérvio.
Prisão
Mladlic conseguiu ficar anos foragido com a ajuda de apoiadores e a proteção do então presidente iugoslavo Slobodan Milosevic. Após a guerra, ele retornou a Belgrado, onde frequentava restaurantes lotados, partidas de futebol e corridas de cavalo, escoltado por guarda-costas.
Com a queda de Milosevic em 2000, o ex-general teve que voltar a fugir e ficou uma década se escondendo pela Sérvia.
Quando o ex-presidente Karadzic foi detido em 2008, aumentaram as especulações de que Mladlic também seria capturado. Mas isso só aconteceria em 2011, quando a polícia cercou a casa onde ele vivia em Lazarevo.
Ele que estava com 69 anos e tinha parte do corpo paralisado por causa de um derrame. "Poderia ter matado dez de vocês, mas não quis. Vocês são apenas jovens fazendo seu trabalho", teria dito, segundo relatos dos oficiais.
Na prisão, Karadzic e Mladic eram frequentes parceiros em jogos de xadrez. O ex-general foi finalmente levado a julgamento em 2012 no Tribunal Internacional de Justiça em Haia, na Holanda, acusado de 11 crimes, incluindo genocídio.
No tribunal, ele foi sarcástico, aplaudiu os juízes e argumentou com eles. À época, sua defesa disse que ele não estava em Srebrenica durante o massacre e que ele não tinha nenhum tipo de comunicação com as tropas lá.
Nesta quarta-feira, ele foi acusado de 10 dos 11 crimes. Ele foi inocentado de uma segunda acusação de genocídio em pequenos vilarejos.
No momento em que sua sentença foi anunciada, Mladic havia sido retirado do tribunal por gritar com os juízes. "É tudo mentira, vocês estão mentindo", disse.
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