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O doutor em Harvard bilionário que governará o Chile pela 2ª vez

17/12/2017 21h14

O ex-presidente Sebastián Piñera, de 68 anos, venceu seu oponente, Alejandro Guillier, neste domingo no segundo turno das eleições presidenciais no Chile e governará o país mais uma vez. Ele tomará posse em março de 2018.

O líder da nova coalizão de centro-direita Chile Vamos recebeu 54,57% dos votos, enquanto Guillier, representante do grupo de centro-esquerda Nova Maioria, alcançou 45,43%.

Piñera, que ocupou o cargo entre 2010 e 2014, era visto como favorito durante a campanha, mas só obteve 36,64% dos votos no primeiro turno. Guillier alcançou 22,70%. Oito candidatos concorreram no pleito.

Será a segunda vez que um candidato da direita governará o Chile desde a volta da democracia, em 1990.

Empresário bilionário, com doutorado em economia na Universidade Harvard, nos EUA, Piñera é a sétima pessoa mais rica do Chile, segundo o mais recente ranking da revista Forbes, com fortuna estimada em US$ 2,7 bilhões.

"Quando chegou à Presidência pela primeira vez, ele governou com tecnocratas. Agora, tende a ser mais político", considera Guillermo Holzmann, professor de Ciências Políticas da Universidade de Valparaíso. O mercado vê com bons olhos a eleição do candidato.

A desaceleração da economia chilena "influencia" essa aceitação, segundo Holzmann. "A percepção é de que a economia está estancada e que, com Piñera, voltaria a crescer", diz Holzmann. O Chile cresce menos de 2% ao ano, afetado pelo desempenho da China - principal comprador de cobre do país andino.

Na campanha, Piñera prometeu reativar a economia e reduzir o tamanho do Estado - buscando atrair investimentos internacionais - assim como melhorar segurança pública, saúde, educação, transporte e qualidade de vida da população.

Outra garantia que dá é a de que vai separar a política dos negócios.

Piñera tem sido um dos críticos mais duros dos escândalos de corrupção que estremeceram o atual governo. Seus opositores o acusaram, no entanto, de conflito de interesses em diferentes ocasiões, o que ele nega.

"Em termos de conflito de interesse, Piñera sempre nos surpreende", disse o deputado do Partido Comunista (PC), Daniel Núñez. Segundo ele, o ex-presidente teria criado uma lei de pesca após suas empresas terem investido no setor.

Fortuna

Miguel Sebastián Piñera Echenique nasceu em Santiago, em 1949. Ele é filho de Magdalena Rozas e do engenheiro e diplomata José Piñera Carvallo, que participou da criação do partido Democracia Cristã.

Em 1971, Piñera se formou em economia política na Universidade Católica do Chile. Na sequência, fez mestrado e doutorado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

De volta ao Chile em 1976, foi professor de economia na Universidade Católica do Chile, na Universidade do Chile e na Universidade Adolfo Ibáñez.

Ele começou a fazer sua fortuna em 1978, quando conseguiu a representação das empresas de cartão de crédito no Chile.

Dali em diante foi expandindo seus negócios. Foi o acionista principal da companhia aérea LAN (hoje Latam, após se unir à TAM brasileira) e também possuía ações da companhia Blanco y Negro, controladora do time de futebol Colo Colo.

Em 2005, comprou o canal de TV Chilevisión - venderia a emissora em 2010 para o grupo Time-Warner.

Quando assumiu a Presidência pela primeira vez, ele se desfez desses negócios por causa de conflitos de interesse apontados duramente por seus opositores durante sua campanha e início de mandato.

O empresário é casado com Cecilia Morel e tem quatro filhos.

Primeiro mandato

Senador entre 1990 e 1998, Piñera, do partido de conservador Renovação Nacional, foi eleito presidente em 2010, sendo o primeiro representante da direita a assumir o Executivo chileno desde 1958, derrotando o ex-mandatário Eduardo Frei com 51,61% dos votos.

Com o fim da ditadura em 1990, o país até então havia sido governado durante duas décadas pela Concertação, de centro-esquerda.

Ele havia tentado a Presidência no pleito anterior, em 2005, mas acabou derrotado por Michelle Bachelet.

Em 1988, ele votou pelo "não" no plebiscito em que os chilenos decidiram que o ditador Augusto Pinochet não deveria continuar no comando do país.

O empresário assumiu o Executivo chileno após o terremoto que devastou o centro-sul do país em 2010.

Sua administração enfatizou a gestão e a reconstrução do país e teve medidas consideradas pró-mercado. Sob seu comando, o Chile teve um crescimento de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) - em 2016, o país teve um crescimento de 1,6%, menor patamar desde 2009.

Foi em seu primeiro governo que o movimento estudantil chileno levou mais de 200 mil pessoas às ruas do país em protestos pedindo a reforma do sistema educacional.

Piñera também era o presidente quando o Chile parou para acompanhar o drama do resgate dos 33 mineiros que ficaram soterrados por mais de dois meses em uma mina de cobre de 700 metros de profundidade.