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Em clima de revolta e campanha, simpatizantes de Lula lamentam 'condenação por goleada'

Felipe Souza e Leandro Machado - Da BBC Brasil em São Paulo

24/01/2018 22h03

"Esperávamos a condenação, mas não a goleada", resumiu um petista no ato de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Praça da República, centro de São Paulo, horas depois da confirmação de condenação em segunda instância, por unanimidade, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Durante cerca de três horas, a militância em vermelho e com bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) se esforçava para demonstrar entusiasmo.

Em discurso de um carro de som, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) bradava que a candidatura do ex-presidente será lançada nesta quarta-feira.

Pouco depois da condenação, o PT lançou uma nota afirmando que vai registrar a candidatura do ex-presidente em 15 de agosto, "seguindo rigorosamente o que assegura a legislação eleitoral". "Se pensam que história termina com a decisão de hoje (quarta-feira), estão muito enganados, porque não nos rendemos diante da injustiça", prossegue a nota do partido.

Mas políticos e outras pessoas ligadas ao PT disseram à BBC Brasil reservadamente que ainda não é certo que Lula será o candidato petista à Presidência. A decisão unânime dos desembargadores do TRF-4 reduziu a possibilidade de recursos judiciais do petista para evitar ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. A reportagem apurou que a cúpula do partido deve se reunir nesta quinta-feira para decidir se mantém Lula ou aposta em outro nome para concorrer ao Planalto.

"Nunca tive ilusão com a decisão desse tribunal", disse Lula em discurso ao público na Praça da República, dando o tom da fala adotada publicamente pela esquerda.

Aos correligionários, Lula explicou a decisão dos desembargadores - que foram unânimes também em aumentar a pena para 12 anos e 1 mês - como um ato de um "pacto do sistema Judiciário com a imprensa". Segundo ele, a elite nunca aceitou "a ascensão" da classe trabalhadora brasileira e dos pobres.

Entre os apoiadores, o clima era um misto de revolta e campanha eleitoral.

"Eu não queria mais saber de política, mas eles me deixaram com a vontade de ser o presidente da República", afirmou Lula em discurso, voltando a dizer que é inocente. "Se eles me provarem que cometi um crime, eu desisto da candidatura", disse.

Mas os discursos mais duros contra os desembargadores e contra o juiz Sérgio Moro não foram feitos por Lula.

A senadora Gleisi Hoffman, presidente do PT, afirmou que "a população não vai aceitar essa decisão".

"Tom político foram eles que deram, nós não. Não vamos aceitar que eles coloquem fim à democracia. Nós só temos um caminho: agir firmemente, defender a democracia e o Lula. Não aceitamos essa sentença, porque ela não respeita a Constituição, ela é uma sentença corporativa. Eles querem impedir o povo de votar no Lula. Três desembargadores não podem falar por milhões de pessoas. Se eles levantaram o tom, nos vamos levantar também. Vamos para cima", disse a senadora.

Guilherme Boulos, líder do movimento sem-teto, chamou os três desembargadores de "anões da história". Boulos é um dos cotados para ser candidato à Presidência pelo PSOL.

O servidor público Luiz Dantas, de 23 anos, diz que é "o povo quem deve julgar Lula e não três desembargadores". Ele levou um boneco do senador Aécio Neves (PSDB-MG), nos moldes do chamado Pixuleco, usado por opositores de Lula. "Esse julgamento do Lula foi político, com a única intenção de tirá-lo das eleições. Desde o impeachment, temos uma fratura na democracia brasileira".