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Como a Argentina desbaratou plano para levar 400 kg de cocaína em malas diplomáticas para a Rússia

Quantidade de droga altamente pura encontrada em malas diplomáticas equivale a mais de R$ 60 milhões, segundo autoridades argentinas - Ministério da Segurança da Argentina - 22.fev.2018/Reuters
Quantidade de droga altamente pura encontrada em malas diplomáticas equivale a mais de R$ 60 milhões, segundo autoridades argentinas Imagem: Ministério da Segurança da Argentina - 22.fev.2018/Reuters

24/02/2018 16h10

O Ministério de Segurança da Argentina divulgou nesta semana os detalhes da investigação que desbaratou um plano "extravagante" para usar o serviço de entregas diplomáticas da embaixada russa para enviar cocaína para a Europa.

O enredo, que parece saído de um filme policial, envolveu malas cheias de farinha, câmeras escondidas e prisões em aeroporto de Moscou.

Em dezembro de 2016, a polícia de Buenos Aires foi informada pelo embaixador russo no país de que 12 malas de um ex-funcionário diplomático guardadas na embaixada pareciam conter drogas.

Depois de constatar que elas continham cerca de 400 kg de cocaína, as autoridades portenhas abriram uma investigação sigilosa e decidiram montar uma armadilha para capturar os receptores da droga.

Segundo o jornal argentino "La Nación", policiais foram ao Mercado Municipal de Buenos Aires no meio da madrugada para comprar 400 kg de farinha e substituir a cocaína dentro das malas.

A polícia também colocou localizadores e câmeras escondidas na bagagem.

"É uma das operações mais complexas, extravagantes e profissionais de narcotráfico que já tivemos", disse à imprensa a ministra de Segurança argentina Patricia Bullrich.

Segundo Bullrich, a cocaína encontrada na embaixada russa vale cerca de US$ 62 milhões (R$ 200 milhões) e tinha alto grau de pureza.

Ela disse que os pacotes seriam enviados para a Rússia, mas provavelmente também para a Alemanha.

A operação resultou em duas prisões na Argentina e três na Rússia.

22.fev.2018 - Cocaína encontrada na embaixada russa em Buenos Aires - Ministério da Segurança da Argentina - 22.fev.2018/Reuters - Ministério da Segurança da Argentina - 22.fev.2018/Reuters
Policial argentino e ex-funcionário da diplomacia russa foram presos em conexão com a descoberta da droga
Imagem: Ministério da Segurança da Argentina - 22.fev.2018/Reuters

Policial preso

Na Argentina, um dos detidos é um policial de Buenos Aires, que, segundo o "La Nación", estaria tentando se aproveitar de um acordo de cooperação assinado em 2015 entre o instituto de formação policial de Buenos Aires e o da Rússia para organizar o tráfico de cocaína a Moscou.

Russo naturalizado argentino, Iván Blizniouk falava quatro idiomas e, por isso, intermediava o contato da polícia portenha com as instituições estrangeiras com as quais a força tinha convênios de colaboração e intercâmbio.

Além disso, ele era assessor de segurança da embaixada russa.

Na Rússia, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse que as malas pertenciam a um ex-membro da "equipe técnica" da embaixada, cujo período na Argentina já havia terminado.

Entre os presos no país está o ex-administrador econômico da embaixada Ali Abyanov, de quem seria a bagagem, de acordo com a imprensa argentina.

A porta-voz russa disse ainda que não eram verdadeiros os relatos da imprensa de que a cocaína seria enviada ao país, no plano original dos traficantes, por canais diplomáticos.

'Senhor K'

Em coletiva de imprensa, a ministra argentina Patricia Bullrich afirmou que o suposto mandante da operação de tráfico está na Alemanha. Ela disse ainda que espera que a polícia alemã o capture.

O homem é chamado pela polícia de "Senhor K", por causa da primeira letra de seu sobrenome e, de acordo com o "La Nación", teria viajado à Argentina 11 vezes desde 2013.

De acordo com os arquivos judiciais obtidos pelo jornal, ele é um empresário russo que vive em Berlim e se dedica ao comércio de bebidas alcóolicas e charutos. E teria uma relação próxima com Ali Abyanov e com o policial Iván Blizniouk.

Sua última visita ao país teria sido em novembro de 2017, quando tentou levar as 12 malas - que já tinham farinha e estavam sendo monitoradas pela polícia argentina - em um voo privado até a Letônia.

Após receber orientações das autoridades argentinas, funcionários da embaixada russa teriam dito ao "Senhor K" que não tinham a chave do depósito onde estavam as malas.

O juiz encarregado da investigação, ainda segundo o La Nación, planejava uma entrega controlada na Rússia, que ocorreu em dezembro do ano passado. As malas foram ao país em um avião oficial do Serviço Federal de Segurança russo.

Em Moscou, a polícia local prendeu as duas pessoas que foram buscar as malas cheias de farinha no aeroporto.