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A ex-espiã de 93 anos que ainda guarda segredos de guerra

08/03/2018 17h16

Há segredos que Helen Taylor Thompson guarda há mais de 70 anos. E que ela garante nunca pretender revelar.

Aos 19 anos, ela assinou um termo de confidencialidade com o governo britânico e passou a trabalhar na Executiva de Operações Especiais (SOE, sigla em inglês para Special Operations Executive), um setor ultrassecreto de investigações e espionagens que funcionou durante a Segunda Guerra.

Era o “exército secreto” de Winston Churchill, primeiro-ministro durante o conflituoso período.

Ela era uma das 30 mulheres com a função de enviar mensagens cifradas para espiões alocados na França, então parcialmente ocupada pelos nazistas.

“Meu trabalho não era perigoso, mas eu precisava ser bem cuidadosa. Bastava um erro para que a vida de alguém ficasse em perigo”, lembra Thompson, hoje com 93 anos.

“Se você um dia disser algo sobre o que viu ou fez, isso seria traição. E você teria que pagar por isso... Provavelmente com a sua vida.”

Colegas mulheres do setor foram enviadas para fora do Reino Unido - algumas das quais, lembra a ex-espiã, “sofreram terrivelmente”.

“Muitas delas, claro, nunca voltaram. Outras foram torturadas”, conta Thompson.

“Elas nunca se renderam. Eu não acho que alguma agente mulher da SOE tenha entregado informações que importassem.”

Tal compromisso das mulheres, no entanto, encontrava barreiras. Thompson lembra que as autoridades pediam que as pessoas se colocassem na linha de frente, em territórios inimigos como a Alemanha, e muitas mulheres se disponibilizavam para isso. Mas a resposta que elas esperavam nunca chegava.

“Ficamos ali, esperando e esperando. E nada acontecia. Até que um dia eles vieram até nós e nos disseram: ‘Eisenhower (Dwight D. Eisenhower, general do exército norte-americano e posteriormente presidente dos EUA) disse que levará os homens, mas que fazer o mesmo com as mulheres o deixaria culpado, porque ele disse não acreditar que alguma delas fosse voltar’. Ficamos furiosas.”

Hoje, Helen Thompson se dedica a trabalhos voluntários. Depois da guerra, por exemplo, ela fundou o primeiro abrigo para pessoas com Aids e chefiou um hospital.

“Eu sempre penso que, se há algo a ser feito, eu vou fazê-lo. Desconfio que é por causa da forma como fui educada.”