Quem são os políticos que devem suceder Raúl Castro no poder em Cuba
Depois de realizar eleições legislativas no último domingo (11), Cuba se prepara para dar início ao período de transição que deve culminar com a saída dos Castro do poder. Se tudo ocorrer como previsto, o líder do país não será mais um membro da família pela primeira vez desde a revolução de 1959 - que derrubou o ditador Fulgêncio Batista e instaurou o regime castrista no poder.
No dia 11 de março, cerca de 8 milhões de cubanos foram convocados a escolher, dentre uma lista de nomes previamente aprovada pelo Partido Comunista, os 605 membros da Assembleia Nacional.
Agora, o sucessor de Raúl Castro, de 86 anos - que comanda o país desde 2008, quando seu irmão, Fidel, renunciou à presidência - será escolhido em uma reunião do novo Parlamento, marcada para 19 de abril.
A Assembleia vai eleger um Conselho de Estado - órgão máximo do país -, cujo presidente se tornará também o chefe de Estado e de governo. O mais cotado para o cargo é Miguel Díaz-Canel, atual vice-presidente.
O próximo líder terá que construir seu próprio consenso, já que não herdará a autoridade que tiveram os irmãos Castro, segundo Rafael Hernández, diretor da revista cubana "Temas", alinhada com o governo. "Isso vai levar a uma descentralização do poder", diz Hernández.
Mas afinal, quem são as principais figuras dessa nova administração?
Miguel Díaz-Canel
Engenheiro eletrônico, Díaz-Canel, de 57 anos, se tornou conhecido entre os cubanos quando foi nomeado ministro da Educação Superior em 2009.
Antes, havia trabalhado em diferentes níveis da administração castrista, dirigindo províncias estratégicas para o regime. Seu trabalho como organizador de diversos quadros do Partido Comunista lhe rendeu grandes aliados.
Entre eles, Raúl Castro - que o enxerga como um nome que trará a necessária renovação, mas também salvará o regime instaurado pela Revolução.
Em um vídeo vazado recentemente, Díaz-Canel promete medidas contra meios de comunicação com "conteúdo subversivo", o que irritou a oposição.
A blogueira de oposição Yoani Sánchez escreveu que ele é "um produto de laboratório criado pelo partido" e que é um homem "sem carisma nem vontade própria".
Hernández, da revista "Temas", diz que o possível dirigente é conhecido por sua capacidade de se relacionar com o público e seu "jeito simples".
"Ele também consegue trabalhar em equipe, o que foi uma das dificuldades da era de Raúl Castro."
José Ramón Machado Ventura
Ventura é um dos rostos mais conhecidos da "geração histórica" que pegou em armas com Fidel Castro para fazer a revolução em 1959. Médico, hoje com 87, ele é o segundo secretário do Partido Comunista e pode travar as desejadas mudanças.
Yoani Sánchez diz que ele "encarna a ortodoxia mais antiquada do sistema político cubano".
Não está previsto que o secretariado do partido se renove até 2021. E se a ala mais conservadora quiser barrar as mudanças, "pode haver muito conflito na elite política, caso o novo governo promova a abertura", diz Rafael Rojas, analista cubano do Centro de Pesquisa Econômica da Cidade do México.
Ramiro Valdés
Outro nome que esteve na revolução de 1959 e continua firme e forte.
Com 86 anos, Valdés é membro da elite do Partido Comunista e do atual Conselho de Estado.
Já teve diversas responsabilidades no aparato estatal, o que fez com que se tornasse uma das figuras mais detestadas pela oposição. Foi Ministro do Interior entre 1961 e 1968 e de Comunicações entre 2005 e 2010.
O escritor cubano radicado em Miami Norberto Fuentes o vê como um possível homem forte de um processo de transição tutelada. "Não tem medo de nada e está em plena forma", afirma.
Luis Alberto Rodríguez López-Callejas
López-Callejas é uma figura misteriosa, sobre a qual quase não há informações públicas - mesmo sendo frequentemente descrito como uma das personalidades mais influentes em Cuba.
Ele não gosta de câmeras e evita se expor.
Sabe-se que ele é o comandante geral de um dos departamentos militares do país, que é membro do Comitê Central do partido e que se casou com Deborah, uma das filhas de Raúl Castro.
Ele não está na Assembleia Nacional, mas gerencia o conglomerado de empresas estatais Gaesa - que vão do setor hoteleiro ao varejo e à administração de portos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, proibiu empresas americanas de fazer negócios com o grupo, em uma tentativa de barrar a aproximação do país com Cuba que havia começado na era Obama.
De acordo com Arturo López Levy, professor cubano da Universidade de Texas, "López-Callejas não está na linha da sucessão, mas é responsável pelo aparelho econômico e gerencia importantes montantes de capital", o que lhe daria grande poder.
Esteban Lazo Hernández
Também veterano da revolução, Lazo tem 74 anos, é presidente da Assembleia Nacional desde 2013 e deputado desde 1981. Também é membro central do Comitê Central do Partido Comunista.
"Ele pertence a uma geração que estava no meio do caminho, que não teve a oportunidade de chegar à presidência nem a terá", diz López Levy. Mas pode desempenhar um papel com o fim da liderança dos Castro.
"Ele preside o órgão que elegerá o presidente, e pode contribuir para as diferentes gerações da liderança", diz López Levy.
López Levy também foi uma das vozes representando Castro no exterior. Em uma visita ao Vietnã em junho passado, ele afirmou que, embora possa haver mudanças, "a concentração da riqueza em mãos privadas não será permitida".
Bruno Rodríguez
Rodríguez foi um dos principais atores da aproximação com os EUA - que voltou a empacar na era Trump.
Ex-embaixador na ONU, foi responsável pelos acordos que possibilitaram a visita de Obama à Cuba - o que o tornou uma das estrelas emergentes no país.
Nos últimos tempos, teve que gerenciar a crise dos supostos ataques contra a embaixada dos EUA em Havana.
Aos 50, é formado em direito e jovem em comparação com os veteranos da revolução. Serviu em Angola e em missões humanitárias no Haiti e no Paquistão
Participa desde 2012 do comitê central do partido. López Levy o vê como uma das figuras em ascensão e o coloca como um dos potenciais candidatos para a vice-presidência.
O que pesa contra ele, do ponto de vista do aparato de controle e segurança do governo, é o fato de ter vivido no exterior.
Josefina Vidal
Também trabalhou pela aproximação com os EUA e pela visita de Obama à Cuba em 2016.
Teve sua carreira moldada pelas difíceis relações com os Estados Unidos: liderou a Seção de Interesses Cubanos em Washington de 1999 a 2003, quando o então presidente George W. Bush expulsou um grupo de diplomatas por suas "atividades hostis".
Vidal fala francês, inglês e russo - uma característica de sua geração, de acordo com López Levy.
"É o novo lote de tecnocratas, muito mais preparado do que os líderes anteriores".
Sua boa gestão da restauração das relações com os Estados Unidos a tornou "muito popular", então sua promoção parece provável.
"Por hierarquia ela é um dos últimos membros do Comitê Central, mas não deve ser descartada como possível Ministra dos Negócios Estrangeiros".
Alejandro Castro Espín
Durante muito tempo, especulava-se que o sucessor de Raul seria seu único filho, Alejandro Castro Espín, de 52 anos.
Mas ele não é deputado da Assembleia Nacional, o que torna impossível que chegue legalmente à Presidência.
"Alguns pensam que Cuba é a Coreia do Norte (onde esse tipo de sucessão seria possível), mas não é", diz Hernández, da revista "Temas", alinhada com o governo.
Mas isso não significa que este coronel do Ministério do Interior não tenha peso na nova distribuição de poder. Espín é o autor de numerosos artigos sobre defesa e política internacional e acompanhou o pai em suas reuniões com Obama.
De acordo com López Levy, "ele desempenha um papel cada vez mais importante em matéria de segurança e relações internacionais".
Exilados cubanos em Miami dizem que ele tem um papel central nas principais instituições de segurança do Estado.
As informações sobre sua biografia são escassas, mas acredita-se que Alejandro perdeu um olho durante sua participação nas missões militares enviadas por Cuba a Angola.
Mariela Castro Espín
Também filha de Raul Castro, Mariela é sexóloga e tem 55 anos. Ao contrário do irmão, é deputada na Assembleia, mas também já descartou a presidência.
Sua grande linha de atuação é na defesa dos direitos da comunidade LGBT, contra a qual as autoridades cubanas emitiram medidas discriminatórias controversas no passado.
Embora evite participar da linha de frente da batalha política, a sua voz é uma das mais ouvidas - e representa um raro membro do regime compromissado com a modernização.
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