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Homem-bomba disfarçado de repórter faz maior ataque a jornalistas no Afeganistão desde 2001

30/04/2018 13h23

Pelo menos 26 pessoas morreram em dois ataques a bomba em Cabul, capital do Afeganistão, nesta segunda-feira. Entre as vítimas, estão pelo menos oito jornalistas que trabalhavam em reportagens sobre a primeira detonação.

Também nesta segunda-feira, em um ataque diferente na região afegã de Khost, morreu o repórter da BBC Ahmad Shah.

É o dia mais fatal para jornalistas no Afeganistão desde a queda do Talebã, em 2001. Este é também o pior ataque a jornalistas em um único episódio no mundo desde 2009, quando 31 profissionais foram mortos em um massacre nas Filipinas.

Em Cabul, os ataques ocorreram no distrito de Shashdarak, que abriga o Serviço de Inteligência Afegão e outros prédios governamentais. A primeira explosão foi detonada por uma pessoa que estava de moto.

Em seguida, a polícia fez um bloqueio no local e jornalistas se juntaram para reportar o ocorrido. O homem-bomba teria, então, apresentado uma credencial de imprensa para a polícia antes de se juntar ao grupo de profissionais, disse o porta-voz do Ministério do Interior do Afeganistão, segundo a Reuters.

"O homem-bomba se disfarçou de jornalista e se detonou no meio da multidão", disse um porta-voz da polícia local ouvido pela AFP.

O grupo autodenominado Estado Islâmico reivindicou a autoria das duas explosões.

Até agora, há relatos de cerca de 50 feridos.

Jornalistas mortos

Entre os jornalistas mortos no ataque de Cabul estão o chefe de fotografia em Cabul da agência AFP, Shah Marai, três jornalistas da Radio Free Europe/Radio Libertyu, um jornalista da Tolo News, além de dois jornalistas da 1TV do Afeganistão.

A respeito de Shah Marai, que trabalhava na AFP há 22 anos, a agência declarou: "A única coisa que podemos fazer é honrar a extraordinária força, coragem e generosidade de um fotógrafo que cobriu eventos traumáticos e horríves com sensibilidade e profissionalismo".

"Estou me sentindo ultrajado pelo ataque, que parece ter sido direcionado a jornalistas. Esse ataque, ocorrido há alguns dias do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, é um ataque à liberdade de expressão", disse o representante da ONU no Afeganistão, Tadamichi Yamamoto.

Outros ataques

Pelo menos outros dois ataques ocorreram nesta segunda-feira em outras regiões do Afeganistão. Em um deles, na região de Khost, o repórter da BBC Ahmad Shah morreu. Ele tinha 29 anos e estava trabalhando no serviço da BBC no Afeganistão havia mais de um ano. Era descrito como um membro querido e respeitado da equipe.

"É com grande tristeza que a BBC confirma a morte do repórter Ahmad Shah em seguida do ataque realizado nesta manhã", disse Jamie Angus, diretor do serviço mundial da BBC. "É uma perda devastadora e eu envio minhas sinceras condolências para a família de Ahmad Shad e para toda a equipe da BBC no Afeganistão. Estamos fazendo tudo que podemos para apoiar a família nesse momento difícil".

Outro ataque a bomba ocorreu na província de Kandahar, matando pelo menos 11 crianças, segundo a polícia local. Um homem dirigiu uma van com explosivos em um comboio da Nato (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar entre países da América do Norte e da Europa, principalmente). As crianças estavam estudando em uma escola próxima. Nenhum grupo reivindicou a autoria desse ataque.

Ataques à bomba no Afeganistão não são incomuns. No começo de abril, um ataque suicida reivindicado pelo Estado Islâmico em um local de votações matou pelo menos 60 pessoas e feriu outras 119. O Talebã ainda está ativo no país. De acordo com pesquisa publicada pela BBC no começo deste ano, apenas 30% do país está sob controle do governo oficial.