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Entenda a disputa entre Israel e o Irã em meio ao conflito na Síria

Mísseis sendo avistados no céu de cidade síria de Deraa na madrugada desta quinta-feira - Reuters
Mísseis sendo avistados no céu de cidade síria de Deraa na madrugada desta quinta-feira Imagem: Reuters

10/05/2018 08h00

Israel afirma ter atacado com mísseis nesta quinta-feira quase todas as instalações militares do Irã na Síria em resposta a um suposto ataque de mísseis iranianos que atingiram suas bases militares nas colinas de Golã.

Israel acusa a Guarda Revolucionária (força de elite do Irã) na Síria de ter lançado 20 foguetes contra suas bases militares na quarta-feira e diz ter reagido, menos de 24 horas depois, atacando depósitos de armas, bases logísticas e centro de inteligências do Irã em território sírio.

O Irã, que enviou soldados para apoiar o presidente sírio Bashar al-Assad e é considerado um dos principais aliados das forças governamentais, ainda não se posicionou oficialmente.

A mídia estatal síria informou que a força aérea do país impediu uma "agressão israelense" em território sírio derrubando dezenas de mísseis. Mas uma fonte militar disse à Sana, a agência estatal de notícias da Síria, que alguns mísseis israelenses atingiram vários batalhões de defesa aérea, radares e um depósito de munição.

O governo de Israel já vinha ameaçando parar o "entrincheiramento militar" do Irã, considerado seu arqui-inimigo, na Síria. Acredita-se que nos últimos meses os israelenses tenham realizado várias ações militares contra instalações iranianas, entre eles o ataque de mísseis contra uma base aérea iraniana na Síria em abril que matou sete membros da Guarda Revolucionária.

Desde então, era esperada uma retaliação do Irã ou de seus aliados na Síria contra tropas israelenses.

O que aconteceu nas Colinas de Golã?

Israel ocupou a maior parte das Colinas de Golã durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e depois as anexou a seu território, em uma ação tida como ilegal pela comunidade internacional.

As Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla inglesa) disseram que 20 foguetes foram lançados pelo braço da Guarda Revolucionária que opera na Síria, a Força Quds, contra suas posições de vanguarda em Golã na manhã desta quinta-feira.

Um porta-voz do IDF, coronel Jonathan Conricus, disse que quatro foguetes foram interceptados pelo sistema de defesa aérea israelense. Não houve feridos ou danos. Conricus disse que o ataque teria sido ordenado pelo general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, organização não governamental de monitoramento sediado no Reino Unido, registrou que "vários foguetes" foram disparados da província de Quneitra e de uma região a sudoeste de Damasco em direção a Golã, mas não apontou o responsável pelo ataque.

Um membro do alto escalão da aliança militar liderada pelo Irã que apoia o governo da Síria disse à agência AFP que as forças israelenses atacaram primeiro.

Como foi a resposta de Israel

Um comunicado da Forças de Defesa de Israel (IDF) disse que jatos militares atingiram "dezenas de alvos militares" do Irã na Síria.

Entre estes, estariam:

  • escritórios de inteligência associados ao Irã e ao "Eixo Radical" - termo usado por oficiais israelenses para se referir à aliança entre Irã, Síria, o movimento Hezbollah do Líbano e grupos militantes palestinos como o Hamas
  • um quartel de logística militar da Força Quds
  • um complexo militar iraniano ao norte de Damasco
  • um depósito de munições da Força Quds no Aeroporto Internacional de Damasco
  • centros de inteligência e postos associados à Força Quds
  • postos militares e de observação e munição na zona desmilitarizada de Golã
  • a plataforma de onde o Irã lançou os foguetes durante a noite

O IDF disse ter alvejado vários sistemas militares de defesa antiaérea sírios após estes terem disparado contra jatos israelenses apesar de serem alertados.

Mais tarde, na manhã desta quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, fez um alerta ao Irã durante uma coletiva. "Se chover em Israel, vai despejar no Irã", disse ele.

Mas Lieberman também disse esperar que este não seja o começo de um grande confronto. "Espero que tenhamos terminado este capítulo e todos tenham recebido a mensagem", disse o ministro.

Lieberman enfatizou ainda que, embora Israel não tenha "interesse em escalar" a disputa com o Irã na Síria, é preciso "estar preparado para qualquer cenário". "Estamos diante de uma nova realidade em que o Irã está atacando Israel diretamente e tentando prejudicar a soberania e os territórios de Israel", acrescentou.

Os confrontos de quinta vieram um dia após um ataque israelense na cidade de Kiswah, que, segundo a agência Sana, teria como alvo um depósito de armas iraniano e matado 15 combatentes pró-governo, entre eles oito Guardas Revolucionários.

Disputa geopolítica

Por trás do confronto entre Irã e Israel na Síria, há disputas religiosas e geopolíticas.

O Irã, repetidamente, tem pedido o fim da existência do Estado judeu.

O Irã tem intensificado sua presença militar na Síria, algo que Israel considera uma ameaça direta. O país é um dos maiores aliados da Síria e enviou centenas de soldados para apoiar o governo. Acredita-se que o Irã atue como consultor militar para os sírios.

Além das tropas oficiais, milhares de milicianos armados, treinados e financiados pelo Irã - principalmente do movimento libanês Hezbollah, mas também do Iraque, Afeganistão e Iêmen - também estão lutando ao lado do Exército sírio.

Israel, por sua vez, prometeu impedir que o Irã se fortaleça na região e supostamente tem atacado ativos e bases iranianos. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, alertou que seu país poderia entrar em guerra com o Irã "o quanto antes" para impedir que este ataque Israel.

Netanyahu também pressionou o presidente dos EUA, Donald Trump, para abandonar o acordo nuclear com o Irã, costurado durante a gestão de Barack Obama - o que Trump fez nesta semana.

Na semana passada, Netanyahu disse ter provas de que o Irã quebrou o acordo e mentiu sobre programa nuclear.

Ele também esteve em Moscou esta semana para conversas com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre Síria e Irã.