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Como a Califórnia foi da beira da falência a 5ª economia do mundo

A tecnologia é um dos grandes motores da economia californiana - Getty Images
A tecnologia é um dos grandes motores da economia californiana Imagem: Getty Images

Beatriz Díez (@bbc_diez) - Da BBC Mundo em Los Angeles

03/06/2018 16h37

Estados Unidos, China, Japão, Alemanha... e Califórnia.

Se fosse um país, o Estado mais populoso dos Estados Unidos seria uma das cinco maiores economias do mundo.

A Califórnia acaba de recuperar esse posto, que ocupou a partir de 2002 e perdeu após a crise financeira de 2008, quando sua economia sofreu uma queda e o Estado chegou a flertar com a falência.

Como a Califórnia se recuperou?

"É um êxito sensacional, e não se deve tanto ao quão grande é (o Estado têm quase 40 milhões de habitantes, mas sua economia supera, por exemplo, a do Reino Unido, que tem 60 milhões), mas à alta produtividade dos seus trabalhadores", diz Lee Ohanian, professor de Economia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

Diversificação e atratividade

No total, o Produto Interno Bruto (PIB) da Califórnia superou US$ 2,7 trilhões (R$ 10,05 trilhões) em 2017. Em comparação, o PIB do Brasil foi equivalente a US$ 1,8 trilhão e o do México, de US$ 1,04 trilhão.

Para Stephen Levy, diretor do Centro para Estudo Continuado da Economia da Califórnia, um instituto de pesquisa local, o importante não é chegar a ser a quinta economia do mundo, mas os motivos por trás disso.

"Todas as partes do Estado contribuem para tal, não só a zona da Baía de San Francisco", destaca ele.

O economista explica que o volume de comércio na região sul "está batendo recordes", a hotelaria e o turismo seguem crescendo. Além disso, as indústrias de entretenimento e, claro, a de tecnologia são motores do Estado.

"Fica claro o quão atraente é a Califórnia quando levamos em conta que muita gente quer se mudar para cá. Ao mesmo tempo o custo de moradia é elevado, o trânsito é difícil, os impostos são altos, é preciso pagar taxas adicionais para combater a poluição, há custos por emissão de gases", acrescenta.

"É um Estado que possibilita a quem quer que seja viver bem, não importa de onde a pessoa vem, sua religião e orientação sexual."

Irena Asmundson, economista-chefe do Departamento de Finanças da Califórnia, explicou que os todos setores econômicos, com exceção do agrícola, contribuíram para o aumento do PIB no ano passado de cerca de US$ 127 bilhões (R$ 472,7 bilhões).

Os setores financeiro e imobiliário lideraram esse avanço ao agregar US$ 26 bilhões ao crescimento do PIB, seguidos pela indústria de tecnologia, com US$ 20 bilhões, e a manufatura, com US$ 10 bilhões.

"A maior parte da contribuição do setor de manufatura vem de empresas relativamente pequenas, muito especializadas", explica Asmundson.

O grande paradoxo

O crescimento é normalmente visto como algo positivo, mas, para muitos californianos, as cifras mais altas do PIB não se traduzem necessariamente em maior prosperidade.

Se nos concentramos em questões como pobreza e dificuldade no acesso a moradia, não parece que estamos falando da quinta economia mundial.

Parta começar, segundo os dados mais recentes do Censo americano, um em cada cinco californianos vive na pobreza, ou seja, 20,4%, em comparação com 14,7% da população americana em geral. É o índice mais alto do país - e o mesmo ocorre em pobreza infantil.

Além disso, a Califórnia tem 140 mil sem-tetos, um problema presente em cidades como Los Angeles e San Francisco. "São 25% dos moradores de rua do país, e cerca de 10% estão apenas em Los Angeles", diz Ohanian.

"É um Estado com uma grande desigualdade. A moradia é caríssima. O preço médio de uma casa é US$ 540 mil. Só cerca de 30% dos lares podem se permitir pagar uma hipoteca assim, assumindo que dão 20% de entrada. As políticas econômicas foram prejudiciais para muita gente, ainda que isso não tenha sido intencional."

Ohanian prevê ainda mais dificuldades no futuro da Califórnia caso não mude seu rumo. "O Estado enfrentará uma outra crise se não adotar políticas diferentes no pagamento de pensões e no sistema de saúde."

Trata-se de uma preocupação compartilhada por outros analistas econômicos, que questionam como a Califórnia vai arcar com os gastos nessas duas áreas.

Outros analistas avaliam que a situação fiscal da Califórnia é sólida o suficiente para enfrentar esses desafios.

Eles recordam que, quando o governador democrata Jerry Brown assumiu, em 2011, encontrou um déficit orçamentário de US$ 27 bilhões (R$ 101 bilhões, em valores atuais) e que, agora, após oito anos de expansão econômica, o Estado tem um superávit de US$ 6 bilhões (R$ 22,6 bilhões).