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Incêndio na Grécia: fogo que já matou mais de 70 se espalha e dificulta resgate

24/07/2018 05h39

Pelo menos 80 pessoas morreram e outras 150 ficaram feridas em incêndios florestais que atingem a região da Ática, que engloba toda a parte sul da península em que fica a capital da Grécia, Atenas, na pior onda de queimadas no país em mais de uma década.

Equipes de resgate fazem buscas por um grande número de pessoas desaparecidas - inclusive no mar, para onde várias pessoas fugiram das chamas. Os bombeiros dizem ter recebido dezenas de chamadas de pessoas desesperadas procurando familiares e amigos, mas não souberam informar o número exato de desaparecidos.

Navios da guarda costeira buscam por corpos e sobreviventes perto das praias.

Um pai, Yiannis Philippopoulos, disse a uma TV grega que suas filhas gêmeas de 9 anos estavam desaparecidas, mas que ele as viu na TV, saindo de um barco pesqueiro que as teria resgatado.

Parentes de pessoas que estariam desaparecidas publicaram fotos de mais de 30 pessoas nas redes sociais, na esperança de obter pistas sobre seu paradeiro.

Alguns especialistas disseram que os anos de austeridade na Grécia deixaram autoridades mal equipadas para lidar com situações de emergência desse tipo.

Ventos fortes espalharam o fogo, deixando várias pessoas presas em casas e veículos e forçando outras a pular no mar para tentar escapar das chamas.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras declarou três dias de luto.

Na terça-feira, os corpos de 26 adultos e crianças que aparentemente morreram abraçados foram encontrados no topo de um penhasco.

"Eles tentaram encontrar um rota de fuga, mas não infelizmente essas pessoas e seus filhos não conseguiram...Por instinto, perto do fim, eles se abraçaram", disse o chefe da Cruz Vermelha na Grécia, Nikos Oikonomopoulos.

Os corpos foram encontrados no concorrido balneário de Mati, 40 km a leste de Atenas, a cidade mais atingida pelas chamas.

De acordo com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, um britânico, que não foi nomeado, está no hospital sendo tratado por queimaduras.

A britânica Susan Margaret Stephos, de 71 anos, escapou do fogo em Mati e se recupera no hospital. Em entrevista à BBC News, ela disse estar "muito agradecida" por ter sobrevivido.

"Quando eu estava dentro de casa e o fogo começou eu pensei: 'Não vou conseguir sair. Vou morrer'. Mas minhas preces foram ouvidas, e eu consegui", disse.

Trabalho de resgate

Centenas de bombeiros lutam contra as chamas, que na segunda-feira estavam sendo propagadas por ventos de até 100 km/h.

Barcos de patrulha costeira e embarcações particulares resgataram centenas de pessoas que conseguiram chegar a portos ou praias.

Equipes de resgate fazem buscas por sobreviventes e vítimas do incêndio em casas, carros e na costa, em meio a temores de que o número de mortos aumente. Enquanto isso, parentes de desaparecidos postaram fotos deles em um site na esperança de encontrá-los.

Centenas de profissionais estão engajados no combate aos incêndios e o governo pediu ajuda a outros países.

Itália, Alemanha, Polônia e França enviaram reforço em forma de aviões, veículos e bombeiros. Espanha e Chipre também ofereceram apoio.

"Faremos o que for humanamente possível para controlar o fogo", disse o primeiro-ministro Alexis Tsipras.

A tragédia lembra os incêndios ocorridos no ano passado em Portugal, que devastaram mais de 30 mil hectares de floresta e mataram 64 pessoas. Assim como na Grécia, muitas delas estavam em seus carros, em estradas atravessando regiões de floresta.

Os incêndios florestais são os piores na história da Grécia desde 2007, quando dezenas de pessoas foram mortas na península do sul do Peloponeso.

Qual a gravidade do incêndio em Mati?

Os bombeiros descrevem a situação na cidade costeira grega como "extremamente difícil".

Além das 26 pessoas encontradas no topo do penhasco, outras vítimas na região estavam em suas casas ou dentro de carros.

Pelo menos 150 pessoas ficaram feridas, 11 de forma grave. Foram contabilizadas 16 crianças entre as vítimas fatais.

"Mati não existe mais nem mesmo como um povoado", disse uma mulher citada pela Reuters como entrevistada pela TV Skai da Grécia. "Eu vi cadáveres, carros queimados. Me sinto sortuda por estar viva."

Imagens de vídeo compartilhadas em redes sociais mostram casas danificadas, muita fumaça no céu e pessoas de carro fugindo da área.

Moradores das áreas mais afetadas tiveram que escapar das chamas atirando-se ao mar.

"Felizmente tínhamos o mar e conseguimos entrar na água, porque as chamas estavam indo atrás de nós até lá", disse Kostas Laganos, que sobreviveu com ferimentos.

"O fogo queimou nossas costas e então mergulhamos na água... eu disse 'meu Deus, nós temos que correr para nos salvar'."

O que causou os incêndios?

Os incêndios são um problema recorrente durante os meses quentes e secos do verão em Ática.

Autoridades citadas pela agência de notícias AFP chegaram a sugerir que, dessa vez, o fogo pode ter sido iniciado por criminosos que buscavam saquear casas abandonadas pelos donos.

"Quinze incêndios começaram simultaneamente em três frentes diferentes em Atenas", disse o porta-voz do governo, Dimitris Tzanakopoulos.

A Grécia, acrescentou, solicitou drones dos Estados Unidos para "detectar qualquer atividade suspeita".

Já em Portugal, no ano passado, acredita-se que o incêndio tenha sido causado por um raio que caiu sobre uma árvore e se propagou graças à vegetação extremamente seca; o país passava por uma forte onda de calor.

A onda de calor que assola outras partes da Europa atualmente também causou dezenas de incêndios na Suécia.

*Esta reportagem foi atualizada no dia 25 de julho de 2018 às 16:47 para a inclusão de novas informações sobre o incidente.