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Como foi o brutal cativeiro de John McCain no Vietnã por cinco anos

John McCain, senador dos EUA, morreu aos 81 anos no sábado (25) - AFP PHOTO / SAUL LOEB
John McCain, senador dos EUA, morreu aos 81 anos no sábado (25) Imagem: AFP PHOTO / SAUL LOEB

26/08/2018 15h40

John McCain (1936-2018) viveu em uma época em que o poder político, militar e cultural dos Estados Unidos não tinha concorrentes no mundo.

O senador republicano, que morreu no último sábado (25), nasceu poucos anos antes da Segunda Guerra Mundial e chegou à idade adulta no alvorecer dos Estados Unidos como uma superpotência global.

"Agora [o país] caminha para o que é, talvez, o entardecer de sua hegemonia, quando a nação se volta para dentro, preocupada com os potenciais riscos e desafios da imigração, do multilateralismo e da economia global", diz Anthony Zurcher, correspondente da BBC News em Washington.

De certa forma, a vida de McCain, que morreu em decorrência de um tumor cerebral, refletiu a história dos Estados Unidos no século 20, analisa Zurcher.

Um exemplo disso foi quando ele lutou na Guerra do Vietnã, onde foi mantido em cativeiro por mais de cinco anos.

Sua libertação marcou um momento crucial de sua carreira militar, diz Zurcher, para a qual ele estava aparentemente destinado desde seu nascimento.

O jovem McCain tinha fama de rebelde e era popular com as mulheres

Seu pai e avô foram almirantes da Marinha dos EUA. Seguindo seus passos, McCain se alistou na Academia Naval.

Durante o período de formação, no entanto, ele ganhou fama de rebelde. Seus amigos também o chamavam de "John Wayne" McCain, por sua atitude e popularidade com as mulheres.

Além disso, ele acumulou deméritos enquanto outros colecionavam reconhecimentos e se formou entre os últimos de sua turma.

Frank Gamboa, um de seus companheiros, lembra que, em algumas ocasiões, McCain usava o sobrenome da família para se proteger.

Certa vez, por exemplo, ele repreendeu um superior por humilhar um mordomo filipino durante um jantar. O superior perguntou o nome dele e, ao ouvir "John S. McCain III", tratou de ir embora.

A "decisão corajosa" de recusar a liberdade

Quando lutou na Guerra do Vietnã, McCain também poderia ter usado seu sobrenome para evitar problemas, mas não o fez.

Um dia, em outubro de 1967, quando sobrevoava Hanói, a capital vietnamita, um míssil derrubou seu avião. Ele acabou fraturando os dois braços, uma perna e sendo capturado pelas tropas inimigas.

Quando seu pai se tornou comandante das forças dos Estados Unidos no Vietnã, pensaram em libertá-lo, como uma tática de propaganda. Mas McCain rejeitou a oferta. Disse que não sairia até que todos os prisioneiros americanos fossem libertados.

"O interrogador disse a McCain que as coisas iam ficar muito feias para ele", diz Gamboa. "E foi aí que começaram a torturá-lo. Foi uma decisão corajosa rejeitar a liberdade pelo bem de seus companheiros."

McCain passou anos em confinamento solitário e sofreu torturas brutais. No entanto, ele nunca buscou ou recebeu tratamento especial por sua ascendência e passou cinco anos como prisioneiro.

Finalmente, então, ele cedeu e assinou uma "confissão" de ter cometido crimes de guerra. E, quando enfim deixou o Vietnã, ele o fez com seus companheiros de prisão.

"Ele nunca se recuperou totalmente"

A imagem de sua libertação, em 14 de março de 1973, é chocante, diz Zurcher. "Um McCain com aspecto muito abatido, com 36 anos, vestido com roupas amarrotadas, caminhando com outros prisioneiros de guerra para um avião militar americano".

A prisão no Vietnã o havia envelhecido. Ele havia chegado ao país com cabelos escuros e, quando saiu, eles estavam grisalhos.

Ele mancava como resultado dos ferimentos que sofreu quando seu avião foi abatido e da tortura a que foi submetido.

Nas boas vindas que recebeu da Casa Branca, com o então presidente Richard Nixon (1913-1994), McCain chegou andando de muletas.

Ele permaneceu no Exército durante oito anos após seu retorno aos Estados Unidos. "Ele nunca se recuperou totalmente de suas feridas", diz Zurcher.

O mancar desapareceu quase por completo, mas ele não conseguiu mais erguer os braços acima da cabeça pelo resto de sua vida.

O consultor político Mark McKinnon, que assessorou McCain durante sua campanha presidencial de 2008, conta como uma vez teve que ajudar o candidato a pentear os cabelos enquanto se preparava para um evento público em New Hampshire.

"Foi um momento vulnerável para este soldado orgulhoso", diz McKinnon. "Quando ele foi até a multidão, eu me virei e simplesmente chorei."