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Os gêmeos que aproveitam suas semelhanças para lucrar nas redes sociais

Laura Lea - BBC News

27/08/2018 18h49

As redes sociais viraram espaços concorridos, lotados de blogueiros que tentam se diferenciar para atrair - e faturar - com curtidas e seguidores.

E para um grupo seleto deles, a arma para chamar a atenção tem sido um "trunfo" que carregam do berço: eles são gêmeos e, em muitos aspectos, praticamente iguais.

Como espécies de espelhos de si mesmos, as britânicas Claire e Laura Jopson, Jenny e Lucy West, Loanne e Jordan Collyer e os irmãos John e Tony Alberti estão entre os que aproveitam essa condição para lucrar.

Eles contam, nesta reportagem, como a semelhança física que exibem em perfis conjuntos ajudou a atrair milhares de internautas e virou combustível para fazer de suas atividades online verdadeiros negócios, movimentados por patrocinadores.

'As marcas gostam disso. É uma ferramenta de marketing'

Claire e Laura Jopson não são típicas blogueiras de viagens. Em primeiro lugar, ambas odeiam voar.

"Criamos o perfil 'Twins that Travel' (Gêmeas que viajam, em tradução literal) porque odiávamos viajar", diz Laura, de 31 anos.

"Era uma espécie de alter ego, um 'outro eu' de alguém que eu não era naquela época - uma viajante confiante que percorre o mundo. Agora, nós viajamos - foi uma mentira estranha que se tornou realidade."

Empreender nesse meio juntas nem sempre esteve nos planos das irmãs.

"Pretendíamos nos aventurar separadamente, mas não funcionou", diz Claire.

Ela e Laura começaram as postagens conjuntas no verão de 2014.

Inicialmente, elas não apareciam nas imagens que publicavam nas redes sociais.

Apostavam na publicação de fotos de paisagens coloridas.

Mas quando um amigo sugeriu uma mudança de foco - para elas - as coisas mudaram.

"Esquecemos que o mundo exterior nos vê assim (como gêmeas)", diz Claire, mas "uma vez que começamos a colocar para frente a coisa 'em dose dupla', conseguimos nos firmar mais facilmente".

Fotos, textos e também podcasts são exemplos do que fazem juntas. A imagem abaixo ilustra um deles - mostrando suas perspectivas sobre as aventuras que tiveram em Santa Lúcia, no Caribe.

https://www.instagram.com/p/BaZmu5YDq0H/?utm_source=ig_web_copy_link


Quatro anos e milhares de milhas aéreas e seguidores depois, as irmãs são blogueiras em tempo integral com uma impressionante coleção de prêmios.

Elas admitem que, separadas, o blog "não teria ido a lugar nenhum".

"Tentamos a vida inteira mostrar nossa individualidade - achávamos que parecer iguais era constrangedor - mas agora aceitamos isso porque é fantástico", diz Laura.

Elas ainda ficam desconfortáveis se têm de aparecer com roupas parecidas, no entanto.

"Mas as marcas gostam disso", diz Claire. "Elas estão sempre muito interessadas ??nessa coisa de gêmeos. É um artifício fácil (para chamar a atenção) - uma ferramenta de marketing."

Mas como é trabalhar em conjunto?

"É como um casamento estranho", diz Laura. "Podemos brigar, mas 15 minutos depois seguimos em frente de onde paramos. É como ter uma apólice de seguro."

Claire concorda: "Não há filtro", diz ela, "como gêmeas estamos unidas. Temos que fazer as pazes e continuar."

'Nos alternamos para manter a energia do negócio'

"Uma foto de duas garotas vai se destacar ainda mais quando elas parecerem iguais", diz Jenny West.

O modelo de negócios que ela e a irmã montaram explora a imagem delas como fisiculturistas usando roupas iguais em posts com mensagens motivacionais.

Jenny e Lucy West estão à frente do perfil The West Twins, no Instagram.

Elas participam de competições de fisiculturismo e três anos atrás decidiram começar a compartilhar online sua jornada no mundo fitness.

Aparecem juntas em todas as imagens vestidas com roupas idênticas, às vezes com cores diferentes, como no post abaixo, em que dizem que "adoram os novos conjuntos" que estão usando.

https://www.instagram.com/p/Bmtj7t8Ah35/?utm_source=ig_web_copy_link


"Nas férias de 2015, Jenny me apresentou ao Instagram", diz Lucy, agora com 31 anos.

Na época, as duas fizeram posts temáticos sobre as férias e logo foram contatadas por um agente e uma empresa dispostos a patrociná-las.

"Isso nos pegou de surpresa. Não esperávamos. Nosso número de seguidores cresceu rapidamente", diz Lucy.

Um ano depois, a empreitada havia se tornado um negócio independente e, três anos depois, a dupla havia alcançado 300 mil seguidores.

"O fato de sermos gêmeas definitivamente nos ajudou a ser notadas", diz Jenny.

As gêmeas sempre treinaram juntas e quando Jenny participou de sua primeira competição de fisiculturismo, em 2014, Lucy seguiu seus passos.

"Lucy e eu sempre nos demos bem e nos interessamos por coisas muito parecidas", diz Jenny, que participou do reality show de entretenimento da ITV2 'Survival of the Fittest', uma espécie de "guerra dos sexos", em que times de homens e mulheres se enfrentam em diferentes tipos de desafios.

"Agora, brincar de ser gêmeas é parte do nosso trabalho. Estamos nos divertindo muito para parar (de fazer isso)", diz ela.

As irmãs admitem que provavelmente discutem mais do que seus parceiros de negócios habituais, mas têm a capacidade de se recuperar mais rápido também.

"Nós mais ou menos nos alternamos para manter a energia (do negócio)", diz Lucy. "Há momentos em que é difícil lidar com tantas coisas e uma de nós acaba sendo a força motriz para ir em frente com reuniões ou qualquer outra coisa."

"Você não se desliga disso, mas eu não mudaria o que fazemos por nada no mundo."

'Fascínio por gêmeos'

Os gêmeos Alberti apareceram nas telas a primeira vez em 2015, na primeira temporada da série de TV britânica Love Island (Ilha do Amor, em tradução literal), em que um grupo de participantes é isolado em uma ilha onde são formados casais ou duplas unidas por 'amor', amizade ou simplesmente de olho no prêmio do jogo - pago aos vencedores de forma conjunta.

"Sendo gêmeos, nos destacamos e ganhamos visibilidade a partir disso", diz Tony Alberti.

Com essa exposição, os autointitulados "garanhões italianos" de Manchester lançaram um canal no YouTube e um blog, bem como atraíram 280 mil seguidores no Instagram. O foco deles é o segmento de culinária.

"Nós somos diferentes dos chefs tradicionais", diz Tony, 33 anos. "Somos muito bonitos e as pessoas são simplesmente fascinadas por gêmeos. Queremos tornar a culinária divertida e sexy."

E a dupla raramente é vista separada.

"Nós nascemos gêmeos, então aproveitamos isso ao máximo", diz Tony.

"As pessoas notam muito mais - não há ninguém lá fora como a gente", acrescenta seu irmão, John.

Os gêmeos podem cobrar milhares de dólares por um post patrocinado nas redes sociais, tendo marcas felizes em pagar pela imagem "visualmente melhor" de chefs de cozinha como espelhos um do outro, diz Tony.

https://www.instagram.com/p/BmlgfiVAwkJ/?utm_source=ig_web_copy_link


Sua imagem dupla também ajudou a garantir aparições regulares deles em programas de TV matinais dos Estados Unidos e do Canadá, incluindo o Today Show da rede NBC.

E essa atuação conjunta não se dá apenas na frente das câmeras, já que os irmãos têm dividido a mesma casa nos últimos 10 anos e brincam que vão continuar assim até encontrarem outro par de gêmeos para casar.

'Itens iguais, estilos diferentes'

Loanne e Jordan Collyer - originalmente de Bromley, sudeste de Londres - são as DJs, blogueiras e modelos por trás do perfil The Collyer Twins.

Jordan começou o blog de estilo de vida como um projeto paralelo durante a universidade.

"Minha irmã se formou um ano depois que eu e eu disse que definitivamente deveríamos fazer isso juntas", diz ela. "O fato de sermos gêmeas faria com que a gente se sobresaísse."

E, de fato, em uma comunidade online onde não faltam usuários exibindo detalhes de suas vidas com filtros, a "coisa dupla" fez com que as irmãs se diferenciassem.

Elas começaram a ganhar algum dinheiro fazendo postagens constantes, e em meados de 2016 já estavam na atividade em tempo integral.

"Nós tivemos muita sorte. Uma vez que deixamos nossos empregos, conseguimos um gerenciamento que nos levou a outro patamar", diz Jordan, de 28 anos.

A dupla agora viaja pelo mundo trabalhando com marcas como Hunter e Asos, garantindo que seus seguidores não percam um minuto do que fazem.

"Sempre que trabalhamos com marcas, elas querem nós duas na imagem... podemos usar itens iguais, mas os estilizamos de maneiras diferentes", explica Jordan.

"As fotos que fazem de melhor são de nós duas com biquínis combinando e em poses iguais - nos comportamos como idênticas. É tudo igualzinho, mas ao mesmo tempo diferente."

Eles começaram a atuar como DJs como outra "oportunidade de negócio" - diz Jordan - "não há muitas DJs mulheres, muito menos DJs gêmeas."

Mas nem tudo é negócio. Jordan diz que adora ser gêmea.

"Nós gostamos das mesmas coisas. Somos tão parecidas em maneirismos (na linguagem, nos modos) - que terminamos as frases uma da outro", diz ela.

"Nós passamos todo santo dia juntas, o que é muito intenso, mas fazemos com que dê certo. Somos melhores amigas, mas as piores inimigas também".

As duas têm vivido juntas em Londres nos últimos dois anos, apesar de Jordan admitir que uma mudança pode estar nos planos.

"Mas não há desligamento", diz ela.

O segredo de sucesso delas?

"Tivemos uma boa visão e realmente acertamos em cheio com essa coisa de gêmeas. Sabíamos que seria o nosso diferencial em um mercado tão saturado.

"É o poder gêmeo!"