Topo

A cidade alemã que se tornou o centro de batalhas entre neonazistas e manifestantes de esquerda

Odd ANDERSEN / AFP
Imagem: Odd ANDERSEN / AFP

29/08/2018 13h57

A sombra da xenofobia e do ódio a imigrantes se intensificou sobre parte da Alemanha desde o domingo.

Mais precisamente, sobre a cidade de Chemnitz, no leste do país, considerada bastião da extrema direita e de neonazistas.

Representantes desses grupos foram às ruas por dois dias consecutivos para protestar contra a morte de um alemão, atribuída a um iraquiano e um sírio.

Ao mesmo tempo, ativistas antinazistas se concentraram a poucos metros de distância, acusando a extrema direita de usar essa morte para fins políticos.

Os protestos foram marcados por incidentes violentos e terminaram com várias pessoas feridas, depois que objetos foram lançados de ambos os lados, segundo a polícia.

A chanceler alemã, Angela Merkel, alertou que não seriam toleradas ações de "justiceiros" fora da lei .

O que aconteceu no domingo?

A polícia está investigando o que desencadeou a briga que culminou na morte do alemão, de 35 anos, durante um festival de rua, no último domingo. Ele foi esfaqueado e chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu.

Outros dois alemães que estavam com ele, de 33 e 38 anos, ficaram gravemente feridos, segundo a polícia.

Dois homens suspeitos do crime - um sírio de 23 anos e um iraquiano de 22 anos - foram detidos.

A polícia negou rumores publicados nas redes sociais sugerindo que a briga estava relacionada ao assédio sexual contra uma mulher.

Como os protestos se expandiram?

Após o crime, grupos neonazistas da cidade fizeram uma convocação pelas redes sociais para que se juntassem, com o objetivo de "caçar estrangeiros" e mostrar "aos imigrantes quem manda aqui", segundo informou a polícia.

Inicialmente, cerca de 100 pessoas participaram de uma marcha que transcorreu sem incidentes. No entanto, outras 800 pessoas se concentraram mais tarde na estátua de Karl Marx, ponto nevrálgico no centro de Chemnitz.

O jornalista independente Johannes Grunert contou ao site de notícias Spiegel Online que viu manifestantes usando garrafas para atacar pessoas "que não pareciam alemãs".

A polícia está investigando supostos ataques a um afegão, um sírio e um búlgaro durante os confrontos de domingo.

Há relatos de manifestantes perseguindo cidadãos estrangeiros, mas poucos detalhes do ocorrido. A polícia pediu às testemunhas que entreguem qualquer vídeo que possam ter gravado como prova.

Segunda chamada

O movimento de extrema direita Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente (Pegida, na sigla em alemão) convocou então uma nova manifestação para a tarde de segunda-feira.

"Se o Estado não protege mais os cidadãos, as pessoas saem às ruas e se protegem. É simples assim!", tuitou Markus Frohnmaier, membro do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

Na noite de segunda-feira, enquanto coroas de flores e velas eram depositadas no local onde ocorreu o assassinato, os manifestantes de extrema direita voltaram a se reunir na estátua de Marx e os contramanifestantes se concentraram a poucos metros de distância.

De acordo com a polícia, saudações fascistas foram vistas entre os grupos neonazistas, onde também havia cartazes anti-imigração com mensagens como "Pare a enxurrada de asilos".

O que diz o governo?

"Não toleramos esses atos ilegais, tampouco a perseguição a pessoas que parecem diferentes ou têm origens diferentes", disse Steffen Seibert, porta-voz de Merkel, a jornalistas.

"Isso não tem espaço em nossas cidades e nós, como governo alemão, condenamos com veemência. Nossa mensagem fundamental para Chemnitz e o resto do país é que não há lugar na Alemanha para justiceiros, para grupos que querem disseminar o ódio nas ruas, para a intolerância e o extremismo", acrescentou.

Martina Renner, deputada do partido A Esquerda, acusou a extrema-direita de tentar explorar o assassinato com fins políticos.

"Um assassinato terrível, cujo pano de fundo ainda não está claro, está sendo usado da maneira mais repugnante para [justificar] as revoltas racistas em Chemnitz", escreveu no Twitter.

Em 2015, Angela Merkel permitiu a entrada na Alemanha de cerca de 1,3 milhão de imigrantes e refugiados sem documentos, provenientes principalmente de países do Oriente Médio, como a Síria e o Iraque.

Ela e seus aliados foram punidos pelos eleitores nas eleições gerais do ano passado, quando o partido anti-imigrante AfD chegou pela primeira vez ao Parlamento, ganhando 12,6% dos votos e mais de 90 cadeiras.