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Por que Donald Trump acusa Google, Facebook e Twitter de manipular conteúdo para prejudicá-lo

Kevin Lamarque/Reuters
Imagem: Kevin Lamarque/Reuters

29/08/2018 12h16

Google, Facebook e Twitter se tornaram recentemente novos alvos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou os três serviços de serem tendenciosos.

O ataque teve início depois que o presidente americano passou a acusar o Google de manipular os resultados de buscas pela frase "Trump news" (notícias sobre Trump, em português).

Segundo ele, notícias negativas sobre o governo são listadas com maior destaque pela ferramenta de buscas. O Google reagiu dizendo que não segue qualquer agenda política e que os resultados das buscas não são influenciados por "ideologia".

Ao falar com repórteres na Casa Branca, nesta terça (28), Trump afirmou que o Google "se aproveitou de várias pessoas e que isso é muito preocupante".

Acrescentando os nomes do Facebook e do Twitter, ele disse: "É bom que eles tenham cuidado, porque você não pode fazer isso com as pessoas. Nós temos, literalmente, milhares de reclamações chegando."

Trump não deu detalhes de quais ações pretende tomar. Mais cedo na terça, Larry Kudlow, assessor econômico do presidente, disse que o governo "estava avaliando" se deveria haver uma regulação ou "algum tipo de investigação e análise".

Especialistas dizem que há poucas evidências para sustentar a reclamação de Trump e que não se sabe que tipo de medidas ele, de fato, poderia tomar.

Alguns afirmam que tentativas do governo de alterar o sistema de buscas do Google poderiam violar a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que protege a liberdade de expressão. Mas eles reconhecem que o governo poderia "tornar a vida do Google difícil", se decidisse questionar o controle de mercado pela empresa.

Como o embate começou

Pelo Twitter, Trump acusou o Google de priorizar nos resultados das buscas reportagens elaboradas pelo que classificou de "media nacional de esquerda". Ele disse que matérias da "mídia conservadora" foram "suprimidas" da lista de resultados.

Na semana passada, o presidente americano afirmou que "as mídias sociais" são "totalmente preconceituosas com as vozes republicanas/conservadoras" e que "não deixará isso continuar", referindo-se às restrições impostas por alguns serviços às contas de blogueiros e radialistas ultraconservadores como Alex Jones.

O Google negou adotar qualquer viés político para moldar o resultado das buscas por notícias. "A busca não é programada para estabelecer uma agenda política e nós não moldamos os resultados para manipular a opinião política."

Mercedez Bunz, professora de tecnologia digital do King's College London, universidade do Reino Unido, disse à BBC News que é muito improvável que o Google deliberadamente liste as notícias de acordo com uma tendência política.

"O algoritmo de reportagens do Google é otimizado com base na atualidade e na proximidade de um evento, não é otimizado para resultar numa orientação política", afirmou.

"Ele (o algoritmo) tem uma tendência de dar mais visibilidade a páginas da web que são visualizadas pelo maior número de pessoas. Para reportagens, esse lógica não parece ter mudado na última atualização do algoritmo de busca, que foi feita no dia 1º e agosto."

Twitter e Facebook não comentaram as declarações do presidente dos EUA.

'Mídia de esquerda'

Em outro tuíte, Trump afirmou que 96% das matérias apresentadas pelo Google em resposta à busca por "Trump news" eram de "esquerda".

Ele não nomeou a fonte desse dado - mas o site The Verge noticiou que o percentual veio de uma análise feita por Paula Bolyard para o site conservador PJ Media.

Bolyard disse que matérias da CNN dominavam a maior parte dos resultados do Google para buscas que incluem o nome de Trump.

"Eu fiz a busca múltiplas vezes usando computadores diferentes e registrados por diferentes usuários, e os resultados do Google foram similares", ela escreveu.

"Embora não seja uma pesquisa científica, os resultados sugerem um padrão tendencioso contra conteúdos de direita", argumentou.