Topo

Quem são os principais políticos e empresários presos em desdobramento da Lava Jato

9.nov.2018 - Joesley Batista é preso na manhã desta sexta-feira, em São Paulo - Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo
9.nov.2018 - Joesley Batista é preso na manhã desta sexta-feira, em São Paulo Imagem: Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo

09/11/2018 16h54

O empresário Joesley Batista, acionista do grupo J&F - holding que controla a JBS -, é o mais famoso entre os homens de negócios e políticos presos pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, mas é um de muitos: foram 19 mandados de prisão temporária cumpridos em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e no Distrito Federal.

Até a tarde de sexta, 15 pessoas já haviam sido presas - um dos mandados era contra o ex-deputado Eduardo Cunha, que já está na prisão, e outras 3 pessoas não foram encontradas. Foram mobilizados 310 agentes da PF para cumprir os mandados de prisão e os 63 mandados de busca e apreensão que também eram parte da operação.

As prisões fazem parte da Operação Capitu, um dos muitos desdobramentos da Operação Lava Jato.

A Capitu investiga um suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura que teria ocorrido em 2014 e 2015. Dois ex-ministros, que estiveram na pasta durante esse período, estão entre os presos: o atual vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), e o deputado federal eleito Neri Geller (PP-MT).

A PF afirma que a nova operação é baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador financeiro do MDB e preso pela Operação Lava Jato. Atualmente, Funaro está em prisão domiciliar.

Ainda segundo a polícia, Funaro afirmou que, durante a gestão de Andrade no ministério da Agricultura, havia um esquema para subornar políticos do MDB e servidores da pasta.

De acordo com a investigação, as propinas seriam pagas pela JBS, que em troca conseguiria que o Ministério aprovasse medidas que beneficiariam a empresa - como licenciamentos e normas que acabaram prejudicando a concorrência da companhia no mercado de carnes.

A lista de presos nesta quinta relacionados ao J&F inclui, além de Joesley, ex-diretor de Relações Institucionais do grupo Ricardo Saud e, ainda, Demilton de Castro, outro ex-executivo da holding.

O nome da operação é referência à personagem Capitu, do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Na obra, ela é descrita como dissimulada e traiçoeira pelo narrador.

A PF acusa os envolvidos na operação de crimes como corrupção ativa e passiva, obstrução de Justiça e lavagem de dinheiro, entre outros.

Entenda quem são os principais políticos e empresários presos temporariamente nesta sexta:

Joesley Batista

Acionista do grupo que controla a JBS, Joesley já havia sido preso em setembro do ano passado por omitir informações em sua delação premiada - alvo da Lava Jato, ele havia feito acordo de colaboração com a PGR (Procuradoria-Geral da República) para reduzir suas punições.

À época, ele tinha apostado na delação para escapar da prisão. Admitiu os crimes de corrupção e tráfico de influência, e entregou cúmplices em troca da sua liberdade e da continuação das operações da J&F.

Parte da delação era um áudio gravado pelo empresário de uma conversa com o presidente Michel Temer (MDB) em que Joesley dizia "estar bem" com o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha - na época, já preso. Diante da informação, Temer afirmou: "Tem que manter isso, viu?".

À época, o presidente afirmou disse que "jamais" solicitou pagamentos para obter o silêncio de Cunha e negou ter participado ou autorizado "qualquer movimento" para evitar a delação do ex-deputado.

Logo após sua delação, a imprensa brasileira noticiou que Joesley foi com a família para Nova York, onde ficou em uma cobertura na 5ª avenida, um dos endereços mais caros da cidade. Mas, em nota divulgada na época, a JBS disse que Joesley nunca esteve na cidade. Segundo o comunicado, ele viajou ao interior dos Estados Unidos, passou pela Europa e foi à China.

No entanto, uma gravação de uma conversa de Joesley com Ricardo Saud fez com que a PGR o acusasse de agir com "reserva mental" - quando uma pessoa fecha um acordo já com a intenção de descumpri-lo. Ele também foi acusado de usar informações privilegiadas no mercado para se beneficiar financeiramente do escândalo causado pela revelação da conversa com Temer.

Joesley, então, foi preso preventivamente quando voltou ao Brasil e ficou na carceragem da Superintendência da PF em São Paulo, na Lapa, até março deste ano, quando o STJ substituiu sua prisão preventiva por medidas cautelares. O empresário passou, então, a usar tornozeleira eletrônica.

Esse situação se manteve até esta sexta, quando Joesley foi preso novamente.

Antes da primeira prisão, quando o empresário negociava seu acordo de delação, sua mulher, a apresentadora de televisão Ticiana Villas Boas, deixou o trabalho no SBT para ficar longe dos holofotes após o escândalo. Desde então, ela não fez nenhum outro trabalho na televisão e tem ficado longe das redes sociais.

Antes do escândalo de corrupção, Joesley e seu irmão, Wesley Batista, estavam entre os empresários mais conhecidos e bem sucedidos do Brasil. À frente do grupo J&F, uma das maiores companhias brasileiras em faturamento, os irmãos fizeram negócios modestos se transformarem em potência global.

Os empresários eram conhecidos pela estratégia agressiva de aquisições, como a compra, em 2015, da Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas, por R$ 2,67 bilhões, e também de negócios no exterior, como o frigorífico Swift - a JBS, controlada pelo grupo, tem fábricas em 20 países, incluindo os EUA, e clientes em todos os continentes.

O conjunto dessa obra fez com que em 2015 a JBS se tornasse a maior empresa privada do Brasil em termos de receita.

Os irmãos Batista também eram bastante envolvidos no cenário político brasileiro. Antes da proibição da doação de empresas para campanha, a JBS era uma das maiores doadoras.

Em 2014, ela foi a empresa que mais doou para a campanha eleitoral: foram R$ 391 milhões, que ajudaram a eleger 164 deputados federais, seis governadores e a chapa formada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e por Michel Temer. O grupo também doou para a campanha de Aécio Neves (PSDB-MG), senador que ficou em segundo lugar na disputa presidencial e depois também foi alvo de investigação em um dos desdobramentos da Lava Jato.

Sobre a prisão desta sexta, a defesa do empresário afirmou que ele tem cumprido fielmente a função de colaborador da Justiça e que o esquema envolvendo o Ministério da Agricultura só pode ser investigado por causa da sua colaboração.

"Todos esses fatos só são investigados porque Joesley entregou dados e documentos à Polícia Federal. A prisão merece ser reconsiderada", afirmou Pierpaolo Bottini, um dos advogados, à Folha de S.Paulo.

A defesa disse ainda que "causa estranheza" o pedido de prisão no contexto de um inquérito em que o empresário já prestou mais de um depoimento como colaborador. "A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários", disse ao jornal o advogado André Callegari.

Ricardo Saud

Saud é ex-diretor de Relações Institucionais do J&F - trabalhava como lobista do grupo.

O ex-executivo fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, mas foi preso em setembro do ano passado junto com Joesley, após surgirem indícios de que ele e o empresário haviam omitido informações sobre a participação do então procurador da República Marcello Miller durante as negociações do acordo de delação. Foi solto em março de 2018.

A BBC News Brasil não havia localizado a defesa de Saud até a publicação deste texto.

Antonio Andrade

Atual vice-governador de Minas Gerais, o fazendeiro Antônio Eustáquio Andrade Ferreira, de 65 anos, estava em sua cidade natal, Vazante, no noroeste do Estado, quando foi preso pela PF nesta sexta.

Ex-deputado federal e estadual, ele ficou um ano no Ministério da Agricultura na gestão de Dilma Rousseff - ele assumiu como parte da "cota" de ministros do seu partido, o MDB, e para contemplar a pressão por representantes mineiros na Esplanada. Foi nesse cargo, segundo a Polícia Federal, que cometeu as irregularidades que o levaram a ser preso na Operação Capitu.

Foi removido da pasta em março de 2014 pela presidente em uma reforma ministerial.

No mesmo ano, foi eleito para vice na chapa do governador Fernando Pimentel (PT). Os dois entraram em atrito logo no início do mandato por uma disputa de espaço no governo - Andrade perdeu cargos que havia prometido a aliados e no segundo turno das eleições de 2016 apoiou o candidato do PSDB, o deputado estadual João Leite.

Andrade não concorreu à eleição como vice de Pimentel em 2018: foi substituído por Jô Moraes (PCdoB). Em vez disso, tentou eleição para deputado federal, mas não conseguiu se eleger.

O atual vice-governador também queria apoiar o candidato tucano, Antonio Anastasia, no pleito. Isso o fez ser destituído da presidencia estadual do MDB por Romero Jucá, presidente nacional do partido, já que a legenda decidiu lançar seu próprio candidato.

O político é citado na delação da JBS, em documentos que apontam repasses milionários durante a campanha de 2014. Ricardo Saud afirma que mais de cem escritórios de advocacia emitiam notas frias da JBS para repassar propinas a políticos, incluindo Andrade.

Segundo a PF, Joesley afirmou na mesma delação que Andrade o apresentou a Eduardo Cunha. O vice-governador também foi citado na delação da Odebrecht por ter recebido repasses de R$ 275 mil.

A BBC News Brasil não havia conseguido contato com a defesa do vice-governador até a publicação deste texto.

Neri Geller

Neri Geller (PP) é deputado federal pelo Mato Grosso e foi ministro da Agricultura de março de 2014 a dezembro de 2015, no governo Dilma. Geller foi preso nesta sexta-feira porque o suposto esquema de corrupção se deu durante seu período à frente do ministério.

Nas últimas eleições, foi eleito para seu terceiro mandato de deputado federal, com mais de 70 mil votos. É agricultor e empresário rural.

Ao portal G1, os advogados do deputado disseram que vão se pronunciar quando souberem os motivos da prisão e tiverem acesso ao inteiro teor do processo.

João Magalhães

João Magalhães é deputado estadual pelo MDB de Minas Gerais. Pecuarista e cafeicultor, foi deputado federal e assumiu em 2015 seu primeiro mandato na Assembleia mineira.

Magalhães foi preso porque teria ajudado a distribuir propina paga pela JBS à bancada mineira do MDB.

Áudios da delação da JBS divulgados pela revista Veja em 2017 mostram uma conversa do então executivo Ricardo Saud com Magalhães sobre dinheiro que deveria ter sido repassado ao político e ao vice-governador Antonio Andrade.

A BBC News Brasil não havia conseguido entrar em contato com o gabinete do deputado até a publicação deste texto.

Outros presos

Também foram presos:

  • O ex-executivo da J&F Demilton de Castro, acusado de fazer parte do esquema de distribuição de proprina;
  • Advogados acusados de fazerem parte do esquema de emissão de notas frias: Mauro Luiz de Moura Araújo, Ildeu da Cunha Pereira e Mateus de Moura Lima Gomes;
  • O ex-secretário de Defesa Agropecuária Rodrigo Figueiredo, acusado de receber propina;
  • Marcelo Pires Pinheiro;
  • Fernando Manoel Pires Pinheiro;
  • Walter Santana Arantes;
  • Claudio Soares Donato;
  • José Francisco Franco da Silva Oliveira.

Segundo a PF, o empresário Waldir Rocha Pena estava de férias fora do país, mas deve se entregar em breve. Ele é sócio de uma rede de supermercados acusada de envolvimento na lavagem do dinheiro das propinas. A PF tenta localizar os advogados Odo Adão Filho e Florisvaldo Caetano de Oliveira.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

https://www.youtube.com/watch?v=1gFM-7FNNBI

https://www.youtube.com/watch?v=660qsQ7rfWE&t=1s

https://www.youtube.com/watch?v=hUrP7ILQW3A&t=22s