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4 dados que mostram o tamanho da epidemia de homicídios na Venezuela

Imigrantes venezuelanos aguardando na fila do centro de triagem para concessão de documentos em Pacaraima, Roraima; de acordo com a ONU, o êxodo de venezuelanos é um dos maiores da história da América Latina - NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO
Imigrantes venezuelanos aguardando na fila do centro de triagem para concessão de documentos em Pacaraima, Roraima; de acordo com a ONU, o êxodo de venezuelanos é um dos maiores da história da América Latina Imagem: NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO

06/01/2019 14h37

Ainda que dados sobre mortes violentas apontem diminuição em relação ao ano anterior, o Observatório Venezuelano da Violência alerta para a gravidade da situação do país.

O número de homicídios na Venezuela em 2018 baixou na comparação com 2017, mas o país segue imerso em uma brutal "epidemia de violência".

Assim caracteriza a situação do país o Observatório Venezuelano da Violência (OVV), uma ONG que faz uma coleta nacional de dados sobre crimes, com a colaboração das principais universidades do país (o governo não publica dados oficiais sobre o tema).

Nos últimos anos, a Venezuela sempre esteve listada entre os países mais violentos da sua região.

Seguem alguns dos números mais relevantes do estudo conduzido pela OVV:

81,4 homicídios para cada 100.000 habitantes

O estudo registrou 23.047 mortes violentas no país e calculou uma taxa de homicídios de 81,4 para cada 100 mil habitantes.

Os dados mostram uma diminuição em relação ao ano anterior - quando os números foram de 26.616 mortes violentas e uma taxa de 89/100 mil habitantes.

(Para efeitos comparativos, o Brasil registrou em 2016, último ano com dados disponíveis, 62.517 mortes - um recorde histórico que equivale a 30,3 homicídios a cada 100 mil habitantes).

A ONG avalia que a redução venezuelana se justifica em parte pela migração de venezuelanos que saem do país para escapar da recessão econômica, da grave hiperinflação e de uma aguda escassez de bens e alimentos.

A organização não só não é otimista nisso como prevê que, neste ano, a Venezuela seja o país mais violento da América Latina, provavelmente à frente de Honduras (com uma taxa de homicídios prevista para 40/100 mil habitantes) e El Salvador (provavelmente abaixo de 60/100 mil habitantes).

O sociólogo Roberto Briceño León, diretor do OVV, destaca que a taxa venezuelana é "praticamente o dobro do que se espera em Honduras" - país que no ano passado ficou em primeiro lugar como o mais violento da região.

Participação de forças oficiais de segurança em um terço dos homicídios

De acordo com o estudo, do total de 23.047 homicídios, apenas 10.422 são reconhecidos como tal pelas autoridades.

A ONG diz ainda que 7.523 das mortes violentas foram cometidas por forças oficiais de segurança e classificadas como decorrentes de resistência à autoridade policial. Os balanços oficiais também não trazem esses números.

"Os resultados deste ano mostram uma diminuição no número de homicídios cometidos por criminosos e um notável incremento nas vítimas que perderam a vida nas mãos de forças policiais", diz Briceño.

Muito acima do 'teto' da OMS

O Observatório Venezuelano da Violência diz que a "epidemia da violência" afeta todas as partes da Venezuela.

Até mesmo a região com a menor taxa de mortes violentas, o Estado de Mérida (no Sudoeste), tem uma taxa mais de duas vezes maior do que aquela considerada limite pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que a violência não seja caracterizada como epidêmica: 10 homicídios para cada 100 mil habitantes. Mérida teve em 2018 uma taxa calculada em 24 por 100 mil.

As áreas mais violentas

Os Estados mais violentos são Aragua e Miranda, no centro-norte do país, com uma taxa de 168 e 124,4 homicídios, respectivamente. É o mesmo patamar do ano passado.

Em Aragua, segundo Briceño, mais da metade das mortes violentas foram registradas como decorrentes de resistência à autoridade.

Nas regiões rurais, ademais, se registrou "um aumento de roubos a produtores agrícolas e a caminhões que distribuem comida", em um país onde os alimentos e os remédios passam por escassez nos últimos anos.

"Rouba-se milho, café, açúcar, cacau e até cebola", denuncia Briceño.

O estudo do OVV informa ainda que a maioria dos homicídios é cometida "em plena rua", sobretudo vitimando homens, com uso de armas de fogo e durantes as noites dos fins de semana.

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