Aghoris, os hindus sagrados canibais que bebem em crânios humanos, não usam roupa e fumam maconha
Os aghoris, conhecidos por quebrar 'tabus óbvios', vivem isolados em campos de cremação, mas entram em cena durante os festivais Kumbh Mela, na Índia - um deles começa em 15 de janeiro.
Eles meditam, comem, dormem e se entregam ao sexo em meio a cadáveres em chamas em crematórios a céu aberto. Eles andam nus, comem carne humana, usam humanos como tigelas e fumam maconha. Eles emergem de sua existência isolada somente durante os Kumbh Mela, os principais festivais do hinduísmo, que ocorrem em quatro locais diferentes na Índia - cada um deles sempre a cada 12 anos.
Esses homens hindus considerados sagrados, que vivem em campos de cremação - e esfregam cinzas no próprio corpo -, à margem da sociedade indiana, são conhecidos como aghoris.
Em sânscrito, a palavra aghori significa "não aterrorizante", mas os relatos de seus rituais mórbidos evocam curiosidade e medo entre muitos.
Progresso espiritual
"O princípio subjacente de sua prática é transcender as leis de pureza, a fim de alcançar a iluminação espiritual e ser um com Deus", diz James Mallinson, que ensina Sânscrito e Estudos Indianos Clássicos na Escola de Estudos Africanos e Orientais (SOAS, na sigla em inglês), em Londres.
Educado em Oxford, Mallison também é um mahant ordenado, ou guru, de um culto ascético diferente. Seu grupo é mais conhecido e cumpre as leis de pureza, o que significa que as práticas dos aghori são proibidas entre eles.
Mas ele teve várias interações com aghoris.
"A abordagem aghori é assumir os tabus óbvios e quebrá-los. Eles rejeitam as noções normais de bom e ruim", diz Mallison.
"Seu caminho para o progresso espiritual envolve práticas loucas e perigosas, como comer carne humana e até mesmo suas próprias fezes. Mas eles acreditam que fazendo essas coisas que os outros evitam, alcançam um estado aprimorado de consciência."
Origem
As tradições praticadas hoje parecem ser de origem recente - a palavra aghori começou a ganhar força apenas durante o século 18.
Mas eles assimilaram uma série de práticas dos temidos kapalikas (literalmente "portadores de caveiras"), que foram documentados já no século 7. Os kapalikas até praticaram sacrifícios humanos, mas a seita não existe mais.
Ao contrário de algumas ordens hindus conhecidas, os aghoris não são muito bem organizados. Na maior parte do tempo, eles vivem isolados e não confiam facilmente em pessoas de fora. Eles nem sequer mantêm contato com membros de sua própria família.
A maioria dos aghoris vem de castas inferiores da sociedade indiana.
"Pode-se encontrar uma grande variedade em termos de realização intelectual. Poucos deles são realmente espertos, mas um aghori foi até conselheiro do rei do Nepal", diz Mallinson.
Sem ódio
Manoj Thakkar, autor do livro Aghori: um romance biográfico, argumenta que eles são um grupo profundamente incompreendido.
"Aghoris são pessoas muito simples que vivem com a natureza. Eles não fazem exigências."
"Eles veem tudo como uma manifestação de um ser supremo. Eles não rejeitam nem odeiam ninguém ou algo. É por isso que não fazem distinção entre a carne de um animal abatido e a carne humana. Eles comem o que recebem."
Os sacrifícios de animais também formam uma parte importante de sua adoração.
"Eles fumam maconha e ainda tentam ser autoconscientes, mesmo no estado alterado."
Pequeno grupo
Tanto Mallinson quanto Thakkar dizem que há poucas pessoas que realmente praticam o sistema de crença aghori.
Eles argumentam que muitos dos que aparecem nos festivais são apenas membros autodenominados da ordem, sem a iniciação adequada. Dizem que alguns agem como aghoris para entreter turistas e ganhar dinheiro.
Os visitantes oferecem comida e dinheiro a eles, mas Thakkar diz que os verdadeiros aghoris são indiferentes ao dinheiro.
"Eles rezam pelo bem-estar de todos, não ligam para pessoas que queiram sua bênção para um filho ou para construir uma casa."
Os aghoris adoram principalmente Shiva - o deus hindu da destruição - e sua companheira, Shakthi. No norte da Índia, apenas homens são admitidos na ordem, mas na região de Bengala é possível ver mulheres vivendo nos crematórios a céu aberto. Há uma diferença, no entanto: elas usam roupas.
"A maioria das pessoas tem medo da morte e os crematórios simbolizam a morte. Esse é o ponto de partida para um aghori: eles querem desafiar a moral e os valores do homem comum", explica Thakkar.
Serviço Social
Mas nem tudo é confrontado por eles.
Nas últimas décadas, a tradição aghori se apropriou de ideias tradicionais e começou a fornecer serviços médicos para pacientes com hanseníase.
"Os aghoris estão trabalhando com aquelas consideradas as pessoas mais intocáveis ??da humanidade", diz Ron Barrett, antropologista médico e cultural de Minnesota, nos Estados Unidos.
"De certo modo, as clínicas de tratamento da hanseníase tomaram o lugar dos crematórios, mas em vez do medo da morte, os aghori estão confrontando o medo de uma doença", ele disse em entrevista ao Emory Report, da Emory University, nos Estados Unidos.
Pacientes com hanseníase, muitos deles abandonados por suas famílias, encontram refúgio no hospital administrado pelos aghoris na cidade de Varanasi, no nordeste da Índia.
Os pacientes são submetidos a terapias que variam de medicina ayurvédica (que reúne terapias alternativas) e banhos rituais à medicina ocidental moderna.
"Os remédios e bênçãos estão misturados."
Alguns aghoris usam telefones celulares e transporte público. Cada vez mais muitos deles usam roupas quando visitam áreas públicas.
Sem sexo gay
Mais de um bilhão de pessoas seguem o hinduísmo, mas não necessariamente um conjunto uniforme de crenças. Não há profeta ou texto sagrado reverenciado por todos os praticantes.
É difícil estimar o número de aghoris, mas especialistas dizem que deve haver no máximo alguns milhares.
Mesmo para a maioria dos indianos, que estão habituados aos costumes do grupo, um encontro casual com aghoris pode ser profundamente perturbador.
Alguns membros da seita admitiram publicamente que fizeram sexo com cadáveres. Mas entre eles ainda permanece um tabu.
"Eles fazem sexo ritualístico com prostitutas. Mas eles não aprovam o sexo gay", diz Mallinson.
E quando os aghoris morrem, seus corpos não são comidos por seus companheiros: eles são enterrados ou cremados como o resto de nós.
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