Papa Francisco compara abuso sexual de menores na Igreja a sacrifícios humanos
Ao encerrar uma cúpula inédita sobre o tema, o líder da Igreja Católica prometeu levar à Justiça os membros do clero que cometeram ou acobertaram abusos.
O papa Francisco prometeu neste domingo tomar ações concretas para pôr fim ao abuso sexual de menores na Igreja Católica, ao encerrar uma cúpula sobre o tema, em Roma.
O pontífice disse ainda que levará à Justiça membros do clero que tenham cometido esse tipo de crime, que põe em xeque "a autoridade moral e a credibilidade ética" da igreja. Francisco afirmou que esses sacerdotes são "ferramentas de Satanás".
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"Isso me recorda uma cruel prática religiosa, em algum momento disseminada por várias culturas, do sacrifício de seres humanos - frequentemente crianças - em ritos pagãos", disse Francisco.
Francisco determinou que os bispos presentes na cúpula revisem e fortaleçam suas dioceses e paróquias para prevenir esses atos. Ele também pediu que os agressores sejam tratados com severidade.
Segundo o correspondente da BBC no Vaticano, James Reynolds, vítimas de abusos pedirão à Igreja Católica detalhes sobre o que será feito para coibir as práticas e punir os abusadores.
"A pessoa consagrada, escolhida por Deus para guiar as almas até a salvação, se deixou subjugar por sua própria doença para se converter numa ferramenta de Satanás. Nos abusos, vemos a mão do mal que não reconhece nem sequer a inocência das crianças", afirmou.
O que ocorreu na cúpula?
A cúpula, que foi inédita, teve como tema a "Proteção dos menores na Igreja". Participaram os presidentes das Conferências Episcopais de 130 países.
Ao longo de quatro dias, discutiu-se como gerenciar os casos de abuso, a criação de um código de conduta para os sacerdotes e a capacitação de pessoas para que saibam identificar um abuso e informar a polícia.
Os líderes das conferências episcopais também ouviram depoimentos das vítimas e relatos de como a igreja acobertou seus casos.
Uma mulher africana disse ter sido forçada a fazer três abortos depois de ser estuprada repetidas vezes por um sacerdote, que se negava a usar métodos contraceptivos. Outra vítima, da Ásia, disse ter sido abusada mais de cem vezes.
Papa sob pressão
Quando virou papa, em 2013, Francisco pediu uma "ação decisiva" sobre o tema, mas muitos críticos de seu pontificado afirmam que ele não fez o suficiente para responsabilizar bispos que teriam acobertado os abusos.
As vítimas têm insistido na necessidade de criar novas regras para a proteção de menores.
O fato é que o papa está sob grande pressão para conduzir soluções viáveis para a crise mais grave enfrentada pelo Vaticano na modernidade - crise que, para muitos, comprometeu a autoridade moral da Igreja Católica.