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O papa quer acabar com a tradição de fiéis beijarem sua mão?

James Reynolds - Da BBC News em Roma

27/03/2019 17h34

Um vídeo muito compartilhado na internet mostra Francisco recolhendo a mão quando pessoas tentam beijar o anel papal, mas a gravação completa mostra que a história pode não ser bem assim.

Como se deve cumprimentar um papa? Por séculos, foi uma tradição católica beijar o pé do pontífice. Hoje em dia, muitos fiéis preferem curvar-se e beijar a mão que ostenta o anel papal.

Os católicos conservadores, que costumam acusam o atual papa de se desviar da doutrina e da tradição da Igreja Católica, agora suspeitam que ele queira dar fim a este rito.

Um sinal disso seria um vídeo feito na última segunda-feira na cidade italiana de Loreto, em que o papa recolhe sua mão quando católicos tentam beijá-la.

Mas o vídeo que viralizou é apenas um trecho de uma gravação bem mais longa, que mostra uma história diferente.

https://twitter.com/CatholicSat/status/1110216790985113600

Imagens oficiais da TV do Vaticano mostram que Francisco passou 13 minutos em uma recepção, quando foi cumprimentado por ao menos 113 monges, freiras e paroquianos - individualmente ou em pares.

Ninguém dá qualquer instrução sobre como cumprimentá-lo. Durante os primeiros dez minutos, 14 pessoas apertaram a mão de Francisco sem se inclinar para beijar a mão, enquanto 41 pessoas se curvaram em direção às suas mãos e fizeram o gesto simbólico - e o papa não protestou.

Nove pessoas foram ainda mais longe. Eles se curvaram e beijaram o anel e depois também abraçaram o papa. Um monge particularmente devoto superou todos os outros da fila de cumprimentos ao beijar ambas as mãos do papa.

Mas, após os primeiros dez minutos, o comportamento do papa mudou. A fila de saudação pareceu se acelerar, e, durante 53 segundos, Francisco recolheu a mão quando 19 pessoas tentaram se curvar e beijar sua mão.

Um homem acabou beijando a própria mão depois que o papa retirou a sua de repente. E é este trecho que tem sido amplamente compartilhado na internet.

Pode ser que o papa estivesse com pressa de chegar ao final da fila de recepção - e deve ser ressaltado que, depois, ele ficou mais algum tempo cumprimentando pessoas, muitas delas em cadeiras de rodas, em frente à igreja.

Francisco pode até não gostar do "beija mão", mas não se pode dizer que ele rejeitou todos aqueles que tentaram fazer isso naquele dia.

A importância da joia

O anel papal, usado no terceiro dedo da mão direita, é provavelmente o símbolo mais poderoso da autoridade de um pontífice. Assim que um papa morre, a joia é imediatamente destruída para indicar o fim de seu papado.

Beijar um anel papal é um gesto que carrega em si séculos de significado político e religioso.

Em 1963, o então presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy (1917-1963), que era católico, optou deliberadamente por não beijar o anel do papa Paulo 6º quando se encontraram no Vaticano - por medo de dar munição aos críticos que diziam que um presidente católico seria sempre subserviente a Roma.

O atual papa tem plena consciência do significado do gesto - e pode ser que pode ser que ele prefira fazer o contrário.

Durante uma visita a Jerusalém em maio de 2014, Francisco se esforçou para beijar a mão do líder da Igreja Ortodoxa, Bartolomeu 1º, como sinal de reconciliação entre os dois ramos do cristianismo. O líder ortodoxo tentou resistir, mas o embate amigável foi vencido pelo papa.

Na mesma viagem, no Memorial do Holocausto de Israel, Francisco foi convidado a apertar a mão de sobreviventes do Holocausto. Para a surpresa dos presentes, ele se curvou e beijou suas mãos - um gesto que é ainda lembrado anos depois.


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