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Como identificar uma teoria da conspiração

09/08/2019 17h58

A lista de teorias da conspiração é infinita, e elas parecem estar ganhando espaço na era das fake news. Mas preste atenção: todas elas têm três pontos em comum.

Se você acreditasse em todas as teorias conspiratórias que já ouviu por aí, o mundo seria um lugar bem peculiar.

Membros da família real britânica seriam lagartos alienígenas disfarçados. O ator Robert de Niro teria se envolvido numa tentativa de assassinato contra a ganhadora do Nobel da Paz Malala Yousafzai.

Abutres estariam praticando espionagem para Israel. A moda de jeans rasgados seria um código secreto. O presidente da Nigéria seria um impostor sudanês. Aids e ebola teriam sido inventados pela CIA. O homem nunca teria pisado na Lua e, é claro, a Terra seria plana.

Teorias conspiratórias podem não ser reais, mas elas podem ter consequências reais. Em parte por causa do movimento antivacinas, houve sérios surtos de sarampo em partes dos EUA, México, França, Madagascar e outros países.

Então, como podemos dizer o que é real e o que não é?

A santíssima trindade

No fundo, teorias conspiratórias se difundem porque elas preenchem o vácuo deixado pelo desconhecido e inexplicado.

Mas o que diferencia uma teoria conspiratória de uma explicação qualquer é a presença de um "plano maligno, tramado em segredo por um grupo pequeno de indivíduos poderosos", diz Jovan Byford, professor de psicologia da Open University em Londres.

Cada teoria conspiratória tem três elementos principais: o conspirador, o plano e a forma de manipulação de massas.

O conspirador

"Esse pode ser um grupo concreto com afiliação identificável", diz Byford. "Os illuminati, os maçons e mais recentemente o grupo Bilderberg ou a Skull and Bones Society."

Mas muitas vezes o conspirador é definido "em termos muito mais vagos - grande farmacêuticas, o complexo militar industrial, as elites globais e assim por diante".

Byford diz que esse é um paradoxo necessário para equilibrar "a necessidade de definir o inimigo" e "a necessidade de aceitar que o inimigo sempre será obscuro e secreto".

O plano

O plano é a razão de ser de cada conspiração. Ele costuma envolver a dominação global e pode sobreviver à morte dos poderosos membros da conspiração, diz Byford.

Porém, ele afirma, "se alguém analisar o nível de acobertamento para que todas essas coisas permaneçam secretas, é preciso alguém que esteja no controle de tudo."

"A crença de que o mundo é em última instância controlável é um poderoso motor de crenças conspiratórias em momentos de crise, quando há um vácuo de explicações."

Manipulação de massas

Especular sobre quem são os cabeças que tentam nos controlar é muito semelhante a conversar sobre um jogo de futebol. Há muitas coisas a dizer, "provas" a serem apresentadas, cenários implausíveis a serem considerados, e não se levará em conta o elemento acaso.

A "manipulação" citada pode vir de fontes plausíveis - a ciência, o governo, conglomerados de mídia - assim como de fontes risíveis, como causas paranormais, ocultas ou a manipulação de ondas cerebrais.

Por que acreditamos nas histórias?

"Há pesquisas mostrando uma ligação entre o estresse e a suscetibilidade a teorias conspiratórias", diz Mike Wood, psicólogo da universidade britânica Winchester.

"Quando alguém não se sente no controle da própria vida, durante momentos de estresse ou perturbação, teorias conspiratórias parecem mais plausíveis."

Isso também se aplica a momentos de trauma coletivo, diz Myrto Pantazi da Universidade Oxford.

Ela estudou com colegas teorias conspiratórias criadas após a queda de um avião na cidade russa de Smolensk - quando o então presidente polonês morreu, assim como 95 políticos e altos oficiais das Forças Armadas que estavam a bordo.

Os pesquisadores concluíram que as teorias conspiratórias agravaram divisões sociais e alimentaram conflitos internos, conforme adeptos das teorias e céticos se distanciam uns dos outros.

"As pessoas tornaram as teorias parte de suas identidades sociais", diz Pantazi.

E não subestime o poder da repetição. Isso é algo a que psicólogos se referem como efeito de "ilusão da verdade" e tem sido amplificado pelas redes sociais.

"Quando mais você vê algo, mais ele se torna familiar, e quando mais familiar algo é, mais crível ele fica", diz Jeff Hancock, professor de comunicação da Stanford University, nos EUA.

Tenha cuidado

"Teorias conspiratórias podem ser perigosas para a sociedade", diz Pantazi. "Pessoas que acreditam que vacinas causam autismo e evitam vacinar seus filhos estão colocando-os em risco."

Mas atenção caso você se considere muito esperto para ser enganado.

"Há um estereótipo sobre teóricos da conspiração sendo pessoas em porões buscando na internet a última teoria conspiratória", diz Byford. "Mas a maioria das pessoas não é nem adepta nem cética, e sim no meio do caminho."

E é isso que torna possível rejeitarmos teses furadas ao mesmo tempo em que curtimos a série Arquivo-X.


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