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Duas eleições, o mesmo impasse: as negociações que definirão o futuro de Israel e do Oriente Médio

Não há uma rota clara de formação de governo, nem para Benjamin Netanyahu (esq) ou para seu rival, Benny Gantz (dir) - Reuters
Não há uma rota clara de formação de governo, nem para Benjamin Netanyahu (esq) ou para seu rival, Benny Gantz (dir) Imagem: Reuters

18/09/2019 21h51

Premiê há mais tempo no poder na história de Israel, Benjamin Netanyahu deve sair enfraquecido das eleições gerais realizadas na terça-feira (17/09).

Com cerca de 90% dos votos apurados segundo fontes em comitês eleitorais, já que nenhum resultado oficial foi divulgado, o partido de Netanyahu, Likud (direita), caminha para conquistar 31 assentos no Parlamento israelense, contra 32 assentos de seu principal rival, o Azul e Branco (centro-esquerda), do general da reserva Benny Gantz.

Estão em jogo, no total, 120 assentos, então, ambos os partidos deverão ter dificuldade em formar uma coalizão estável para governar o país.

Em um sinal disso, o gabinete de Netanyahu afirmou a agências de notícias que o primeiro-ministro cancelará sua ida à Assembleia Geral da ONU, nos EUA, na próxima semana, por conta do "contexto político" de Israel.

Além de participar da Assembleia Geral, Netanyahu teria um encontro com o presidente americano, Donald Trump, para discutir um tratado bilateral de defesa.

Netanyahu, que está no poder há dez anos (sendo, assim, mais longevo no cargo do que o fundador do Estado de Israel, David Ben-Gurion), fez uma campanha defendendo a anexação do Vale do Jordão (que se estende por um terço da Cisjordânia, uma área palestina) e exaltando sua proximidade com Trump.

Gantz, por sua vez, não defendeu diretamente nenhuma forma de anexação territorial, embora não tenha deixado clara sua posição a respeito da possibilidade de se criar um Estado palestino. Assim como Netanyahu, ele descarta a ideia de dividir Jerusalém ? a parte oriental da cidade sagrada é reivindicada pelos palestinos.

Incertezas

Até agora, os resultados preliminares das eleições deixam em aberto quem será o próximo premiê.

O que os números indicam é que provavelmente nenhum dos dois partidos líderes conseguirá formar maioria sem o apoio do partido Yisrael Beitenu, legenda ultranacionalista liderada por Avigdor Lieberman ? que foi ministro e braço-direito de Netanyahu, mas acabou se convertendo em um de seus maiores rivais.

Lieberman, embora tenha afinidades ideológicas com Netanyahu, é um político secular crítico de políticas específicas voltadas à população judia ortodoxa ? a qual, por sua vez, é importante base de apoio do atual premiê.

Em um indicativo das duras negociações que vêm pela frente, Lieberman tem dito que só apoiará um governo de unidade que inclua tanto o Likud de Netanyahu quanto o Azul e Branco de Gantz. Esse último, porém, disse rejeitar a hipótese de formar uma coalizão com Netanyahu.

Premiê enfraquecido

Tom Bateman, correspondente da BBC no Oriente Médio, explica que o cenário atual deixa Netanyahu mais enfraquecido do que na época da eleição geral anterior, em abril ? que também produziu um impasse.

Na ocasião, o Likud ainda conseguiu obter a maioria dos assentos no Parlamento, mas não conseguiu formar uma coalizão ? o que levou Netanyahu a optar por uma segunda eleição, da qual ele pode sair com ainda menos assentos e mais dificuldade em compor com partidos de direita e religiosos.

Bateman diz que, no momento, é praticamente impossível prever quais serão os desdobramentos da eleição de terça, mas três cenários amplos podem se formar no horizonte.

- Um bloco dominante formado pelos dois partidos rivais, Likud e Azul e Branco. Essa possibilidade só parece viável sem Netanyahy como líder do Likud, ou seja, com algum outro premiê no comando de Israel.

- Uma coalizão do Likud com o Beitenu, de Lieberman, e os partidos religiosos. Mas isso só seria possível se Lieberman mudasse de posição, depois de tantas críticas a partidos religiosos, algo que poderia desagradar sua base eleitoral.

- Uma terceira eleição geral, que provavelmente desagradaria tanto políticos quanto eleitores.

Movimentações

Enquanto isso, Netanyahu, um dos principais aliados internacionais do presidente brasileiro Jair Bolsonaro segue no poder, mas em meio a incertezas.

No quartel-general do Likud, centenas de cadeiras permaneciam vazias na noite desta quarta-feira (horário local), à espera de simpatizantes.

"Não há sentido em começar a tentar formar uma coalizão com base em números que ainda vão mudar (com a divulgação oficial do resultado das urnas)", afirmou um diretor do partido, Eli Hazan.

Do lado oposto, o Azul e Branco está "cautelosamente otimista" com a possibilidade de o poder de Israel mudar de mãos, disse a porta-voz do partido, Melody Sucharewicz, ao jornal Times of Israel.

Mesmo eles terão grandes dificuldades em produzir uma coalizão, por conta das discordâncias entre os partidos de esquerda do país.

Uma diferença nesta eleição, porém, é que o provável terceiro colocado no pleito é a lista conjunta de partidos árabes-israelenses, que deve ficar com estimadas 13 cadeiras no Parlamento.

Partidos árabes nunca se uniram a uma coalizão de governo (ou sequer são convidados a fazê-lo), mas neste ano, durante a campanha, o líder da lista, Ayman Odeh, propôs fazer parte de um governo de união de centro-esquerda.