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O que é a 'emergência nazista' declarada por cidade alemã

O Estado da Saxônia, do qual Dresden é capital, tem sido um reduto de partidos de extrema-direita na Alemanha - Reuters
O Estado da Saxônia, do qual Dresden é capital, tem sido um reduto de partidos de extrema-direita na Alemanha Imagem: Reuters

04/11/2019 15h45

Resolução diz que 'atitudes e ações extremistas de direita... estão ocorrendo com crescente frequência' em Dresden e apela à cidade para ajudar vítimas de violência, proteger minorias e fortalecer a democracia.

Uma cidade no leste da Alemanha declarou uma "emergência nazista", afirmando ter um sério problema com a extrema-direita.

Candidata a capital europeia da cultura para 2025, Dresden há muito é vista como um bastião da extrema-direita e é o berço do movimento anti-islâmico Pegida.

Os conselheiros da cidade aprovaram uma resolução dizendo ser preciso fazer mais para resolver este problema. "A sociedade democrática está ameaçada", diz à BBC o vereador Max Aschenbach, autor da moção.

Aschenbach, do partido político de esquerda Die Partei, afirma acreditar ser necessário agir porque os políticos não estão fazendo o suficiente para "se posicionar claramente" contra a extrema-direita.

"O pedido foi uma tentativa de mudar isso. Eu também queria saber com que tipo de pessoas estou sentado no Conselho da cidade de Dresden", diz ele.

A resolução reconhece que "atitudes e ações extremistas de direita... estão ocorrendo com crescente frequência" e apela à cidade para ajudar vítimas de violência de extrema direita, proteger minorias e fortalecer a democracia.

Aschenbach afirma que a adoção da moção mostra o compromisso do conselho da cidade de promover "uma sociedade livre, liberal e democrática que proteja as minorias e se oponha aos nazistas".

Como foi declarada a 'emergência nazista'?

A resolução de Aschenbach foi submetida a votação pelo Conselho da cidade na noite de quarta-feira (30/10) e aprovada por 39 votos a 29, de acordo com relatos da mídia local.

Integrantes do partido União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), da chanceler alemã Angela Merkel, estavam entre os que rejeitaram a resolução.

"Do nosso ponto de vista, isso foi principalmente uma provocação", diz Jan Donhauser, presidente do CDU na Câmara Municipal de Dresden.

"'Estado de emergência' significa o colapso ou uma séria ameaça à ordem pública. Além disso, o foco no 'extremismo de direita' não faz jus ao que precisamos. Somos os guardiões dos ordem básica liberal-democrática e nenhuma violência, não importa de que lado extremista ela venha, é compatível com isso."

Donhauser acrescenta que a "grande maioria" dos habitantes de Dresden não é "nem extremista de direita nem antidemocrática".

Aschenbach afirma que a cidade não fica obrigada a tomar nenhuma ação após a adoção de sua resolução, mas que, "teoricamente, as medidas existentes devem receber uma maior prioridade".

Ao se opor à resolução, o UDC disse esperar "fortalecer as instituições mais adequadas para combater a violência motivada por motivos políticos".

Kai Arzheimer, professor de política alemã que escreveu extensivamente sobre a extrema-direita, diz que o principal impacto da resolução é simbólico, mas que isso pode significar que mais dinheiro seja alocado para programas de combate ao extremismo no futuro.

"Não acho que nenhuma outra cidade alemã tenha declarado uma 'emergência nazista'. Entretanto, as resoluções contra o extremismo de direita não são tão incomuns", afirma.

Por que a extrema-direita é tão ativa em Dresden?

Dresden é conhecida por suas ligações com a extrema-direita. No início dos anos 1990, grupos neonazistas começaram a organizar comícios ali para lembrar o que chamavam de "Holocausto do bombardeio", quando a cidade foi atacada por forças britânicas e americanas em 1945, recorda Arzheimer.

Esses grupos se tornaram ativos nas áreas circundantes e no sul do Estado da Saxônia, do qual Dresden é a capital. A Saxônia também tem sido um reduto das legendas de extrema-direita, as principais são o Partido Nacional Democrático (NPD, na sigla em alemão) da Alemanha e o Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão).

Nas eleições estaduais de setembro, o apoio ao AfD aumentou 17,8% em relação a 2014. A legenda teve 27,5% dos votos.

Dresden também é onde o movimento anti-Islã Pegida (sigla em alemão para "europeus patrióticos contra a islamização do Ocidente") começou em 2014 e onde continua a realizar comícios.

Os apoiadores do Pegida dizem que as pessoas precisam "acordar para a ameaça extremista islâmica". Eles querem que a Alemanha restrinja a imigração e acusam as autoridades de não cumprir as leis existentes. O movimento foi alvo de grandes manifestações contrárias a ele na cidade.