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As explicações de Carlos Ghosn para sua ousada fuga da Justiça no Japão

08/01/2020 13h15

O fugitivo brasileiro, ex-executivo da Nissan, disse que recebeu um tratamento "brutal" na prisão no Japão.

O fugitivo Carlos Ghosn, ex-executivo chefe da gigante automotiva Nissan, disse que a decisão de fugir do Japão, onde foi acusado de crimes financeiros, foi a mais difícil da sua vida.

Falando em uma muito esperada coletiva de imprensa, o executivo ? que tem cidadanias francesa, libanesa e brasileira ? disse que a forma como foi tratado desrespeita os padrões da Justiça internacional.

Ele alegou que não teve escolha a não ser fugir para proteger a si mesmo e sua família. Descreveu o tratamento que recebeu como "brutal".

Na prisão, Ghosn disse que foi mantido em uma cela com uma pequena janela e só podia tomar banho duas vezes por semana. Ele também passou 130 dias em uma cela sem janela, na solitária, disse.

Ele disse que teve um "sentimento de desesperança" muito "profundo".

"Fui brutalmente tirado do meu trabalho, da minha família e dos meu amigos."

Em resposta à críticas anteriores de Ghosn ao sistema judicial japonês, o vice-procurador-chefe japonês, Shin Kukimoto, disse em entrevista coletiva que "cada país tem seu próprio sistema (judicial) baseado em sua história e cultura. Não acho que seja apropriado criticar outra jurisdição só por ter um sistema diferente".

'Vai piorar para você'

Ghosn também afirmou que "é impossível expressar a profundidade da privação" que enfrentou e seu profundo alívio ao se reunir com família e pessoas amadas.

"O promotor disse para mim várias vezes: 'vai piorar para você se você não confessar'", afirmou.

Apesar de especulações, ele não deu detalhes sobre sua fuga em seu discurso ensaiado.

Os advogados de Ghosn disseram que ele teria que esperar cinco anos por um julgamento, segundo ele. Então, disse ele, não foi difícil chegar à decisão de que ele teria que "morrer no Japão" ou "sair".

Ele se descreveu com um "refém" do país, onde trabalhou por 17 anos como chefe da Nissan.

Promotores afirmam que Ghosn fez um pagamento de propina multimilionário a um distribuidor da Nissan em Omã. A empresa, por sua vez, fez sua própria acusação contra Ghosn, dizendo que ele desviou dinheiro da companhia para enriquecimento pessoal.

Ele também foi acusado de declarar ao governo um salário menor do que o que realmente ganhava.

Mas Ghosn insiste que não é culpado de nenhuma das acusações contra ele. Diz que é vítima de uma conspiração para derrubá-lo por causa de preocupações sobre a crescente influência da Renault sobre a Nissan, sob seu comando.

Na terça-feira (07), autoridades japonesas emitiram um mandado de prisão para a mulher de Ghosn, Carole, que foi acusada de dar um depoimento falso.

O executivo descreveu como uma "coincidência" que o mandado tenha sido emitido um dia antes da coletiva de imprensa, nove meses depois do crime que as autoridades japonesas os acusam de ter cometido.

Essa foi a primeira vez que Ghosn falou publicamente desde que fugiu da prisão domiciliar, em uma fuga ousada que, segundo relatos, envolveu sua retirada do país dentro de uma caixa.

Fiança e fuga

O executivo comandava e gigante da indústria mobilística até ser preso no Japão sobre acusação de crime financeiro ? que ele nega ? em novembro de 2018.

Algum tempo tempo ele foi libertado sob fiança e colocado em prisão domiciliar, mas proibido de ver sua mulher. No final de 2019, ele escapou da prisão domiciliar em um jatinho privado que o levou para Turquia. Depois, viajou para o Líbano e se reencontrou com a esposa.

Ghosn cresceu no Líbano, tem imóveis por lá e é uma figura popular no país. Sua imagem chegou a ser estampada até em selos postais.

O constrangimento causado pela fuga logo despertou reações no Japão. Um político do país especulou que Ghosn teria de ter "o apoio de algum país". Outro foi mais direto, acusando o Líbano de envolvimento com o caso.

Duas fontes disseram à Reuters que o embaixador libanês no Japão visitava Ghosn diariamente quando ele estava detido. O embaixador não confirmou isso. O governo libanês, por sua vez, negou envolvimento na fuga.

"O governo não tem nada a ver com a decisão (de Ghosn) de vir", disse o ministro Salim Jreissati ao jornal The New York Times. "Não sabemos dos detalhes de sua vinda."

Antes da coletiva, Ghosn insistiu que organizou sua fuga sozinho, negando relatos de que sua esposa o teria ajudado.

O governo japonês descreveu a fuga de Ghosn como "injustificável". A Nissan afirmou que a fuga foi "extremamente reprovável".


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