Índia dá lição de nacionalismo ao mundo, diz Ernesto Araújo
Índia e Brasil hoje têm "convergência de ideias e visões de mundo".
Para o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o país liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi "está se modernizando sem abrir mão de suas tradições e valores, e está se construindo a partir de suas raízes e essência e não a partir dos dogmas dos que formam o mundo pós-nacionalista ou antinacionalista".
Em discurso para uma plateia de empresários brasileiros e indianos em Nova Déli, na manhã de hoje, sob os olhos atentos do presidente Jair Bolsonaro, o chanceler celebrou o fato de a Índia não seguir "aqueles que dizem que nações deveriam renunciar a suas identidades para serem competitivas".
"É justo o oposto", disse. "Apenas nações que se reconhecem como nações podem aspirar ser algo no mundo. Essa é a lição da Índia e também a que o Brasil está tentando dar ao mundo."
O comentário endossa a fala do primeiro-ministro indiano, no último sábado, em discurso à imprensa ao lado do presidente brasileiro.
"A parceria estratégica entre Índia e Brasil se baseia na nossa ideologia e nos valores comuns, apesar da distância geográfica", disse Modi.
O nacionalismo e a ideologia do líder indiano, no entanto, são justamente os itens que mais geram controvérsia sobre a Índia no exterior.
Nacionalismo controverso
Os comentários surgem em um momento em que os efeitos do nacionalismo hindu que caracteriza o governo de Modi sobre a liberdade religiosa no país geram preocupação em todo o mundo.
Modi é assunto de capa da revista The Economist, que associa o nacionalismo do primeiro-ministro a uma série de abusos e políticas consideradas discriminatórias contra os quase 200 milhões de muçulmanos no país.
Modi é a principal figura do Partido Bharatiya Janata (BJP), cuja principal bandeira é o nacionalismo "linha dura" pautado pela "hindutva" - uma ideologia que defende que a Índia pertenceria aos hindus e que suas crenças deveriam se sobrepor às de cristãos ou muçulmanos (que também ocupam o território em menor escala há séculos).
Na avaliação de analistas como Iam Bremmer, editor-chefe da revista Time e presidente do Eurasia Group, a prioridade dada por Modi aos hindus tem efeito "trágico" para milhões de muçulmanos e para a democracia indiana, historicamente composta por um caldeirão étnico e religioso.
Em seu discurso, no entanto, Ernesto Araújo expressou a defesa do governo brasileiro ao país.
"Nós, do Brasil, vemos na Índia um país poderoso, orgulhoso de si mesmo, unido em sua diversidade e na profundidade da sua cultura, da alegria de seu povo e da infinita variedade de cores e expressões culturais", disse o chanceler, em inglês.
Na noite de sábado, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, disse a jornalistas que Jair Bolsonaro "elogiou a liberdade religiosa presente aqui na Índia" e "falou que se sentiu confortável em estar em um país que não é cristão, mas foi muito bem acolhido" durante sua reunião bilateral com o primeiro-ministro indiano.
"Os dois são notoriamente nacionalistas, defendem seus países, são avessos a alguns fóruns internacionais e acredito que há muita química nessa relação."
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