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Donald Trump age 'como chefe de máfia' e tem opinião desfavorável sobre negros, diz livro de memórias de Michael Cohen

Michael Cohen trabalhou como advogado de Donald Trump por anos - Reuters
Michael Cohen trabalhou como advogado de Donald Trump por anos Imagem: Reuters

Da BBC News

08/09/2020 11h38

Donald Trump se comporta como um mafioso e tem "uma opinião desfavorável sobre todos os negros", segundo Michael Cohen, ex-advogado do presidente americano.

As alegações foram feitas por ele no seu novo livro, Disloyal: A Memoir (Desleal: Memórias, em tradução livre).

O livro foi escrito por Cohen durante o tempo que passou na prisão, por crimes financeiros cometidos durante a campanha de Trump, entre outros.

Cohen diz que Trump fez comentários racistas sobre Nelson Mandela e sobre hispânicos.

A Casa Branca diz que Cohen está mentindo.

"Cohen é um criminoso desacreditado e um advogado impedido de exercer a profissão, que mentiu para o Congresso", disse a secretária de imprensa Kayleigh McEnany em um comunicado no fim de semana. "Ele perdeu toda a sua credibilidade, e é pouco surpreendente ver suas mais recentes tentativas de lucrar com mentiras."

No livro, Cohen alega que Trump é "culpado dos mesmos crimes" que o levaram para a cadeia, chamando seu ex-chefe de "um trapaceador, um mentiroso, uma fraude, um valentão, um racista, um predador, um farsante". Cohen diz que Trump tem a mentalidade de um "chefe de máfia".

Sobre negros e Mandela

"Como regra, Trump expressa opiniões desfavoráveis sobre todos os negros, da música à cultura à política", escreve Cohen.

Ele alega que Donald Trump teria dito que o falecido presidente da África do Sul e ativista antiapartheid, Nelson Mandela, "não era um líder".

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Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul após 27 anos de prisão
Imagem: BBC/72 Films/Media24/Gallo Images/Getty Images

Segundo Cohen, Trump teria dito: "Me diga um país governado por um negro que não seja um buraco de m*rda. Eles são todos umas privadas [palavrão omitido]".

As palavras ecoam outra alegação feita contra Trump em 2018 de que ele teria usado o mesmo termo, "buraco de m*erda" (shithole em inglês), para descrever países africanos.

Na época, Trump disse a repórteres: "Eu não sou racista. Eu sou a pessoa menos racista que vocês já entrevistaram".

Acusações de racismo têm sido feitas contra ele desde o começo do seu mandato e seguem sendo um problema durante a atual campanha do republicano para a eleição presidencial de novembro contra o rival democrata, Joe Biden.

Sobre Obama

No livro, Cohen alega que Trump tem "ódio e desprezo" por seu antecessor, Barack Obama.

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Trump costumava promover a ideia de que Obama não nasceu nos EUA portanto não poderia ser presidente
Imagem: Reuters

"Trump contratou um 'Faux-Bama' (um sósia de Obama) para participar de um vídeo em que Trump 'ritualisticamente diminuía o primeiro presidente negro e em seguida o demitia'", escreve Cohen.

A imprensa americana publicou um vídeo em que Trump repete seu papel como apresentador do reality show O Aprendiz e demite um homem que se passa por Obama.

Acredita-se que o vídeo foi feito para a convenção republicana de 2012, quando Mitt Romney foi nomeado candidato do partido. O vídeo nunca havia sido publicado.

Sobre eleitores hispânicos

De acordo com Cohen, Trump teria dito certa vez: "Eu nunca vou conseguir o voto hispânico. Como os negros, eles são burros demais para votar em Trump. Eles não são o meu povo".

Trump tem sido cobrado por seus comentários sobre latino-americanos, especialmente depois de ter falado mal de mexicanos durante a campanha.

Em 2019, Trump disse a um público no Estado do Novo México: "Ninguém ama mais os hispânicos".

Sobre evangélicos

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Trump reza com líderes evangélicos, incluindo a assessora Paula White
Imagem: Getty Images

Cohen diz que depois de se reunir com líderes evangélicos no seu prédio, a Trump Tower, após vencer a eleição de 2016, Trump teria dito a assessores próximos: "Você consegue acreditar que as pessoas acreditam nesta [palavrão]?"

Trump fez campanha intensa pelo voto evangélico e disse ser um crente profundo. Seu vice-presidente, Mike Pence, é evangélico devoto.

Sobre Putin

Donald Trump admira o presidente da Rússia, Vladimir Putin, porque ele consegue "tomar um país inteiro e administrá-lo como se fosse sua própria empresa como as Organizações Trump, na verdade", escreve Cohen.

Cohen diz que Trump bajulava Putin para garantir acesso a dinheiro russo, caso viesse a perder as eleições de 2016.

No entanto, Cohen também diz que a campanha de Trump era "caótica e incompetente demais para conseguir conspirar junto com o governo da Rússia", caso chegasse ao poder.

Sobre Stormy Daniels

Em 2016, Cohen diz ter ajudado a fazer um pagamento para a atriz pornô Stormy Daniels, que alegava ter tido um caso com Trump. O pagamento, que violava as regras de financiamento de campanha, está entre os crimes que levaram Cohen para a cadeia.

Cohen insiste que agiu sob ordem do presidente, mas Trump sempre negou isso.

"Nunca vale a pena acertar (com dinheiro) essas coisas, mas muitos, muitos amigos me aconselharam a pagar", Trump teria dito, segundo o relato de Cohen em seu livro. "Se isso for revelado, eu não tenho certeza como meus apoiadores reagiriam. Mas eu aposto que eles achariam que é legal como eu dormi com uma atriz pornô."

Quem é Michael Cohen?

Cohen esteve próximo de Trump por muitos anos, geralmente conhecido como seu "faz-tudo" ("fixer", em inglês), mas eles se desentenderam e Cohen prestou um depoimento bastante duro contra seu ex-chefe antes do processo de impeachment contra Trump no ano passado.

Em 2018, Cohen foi preso por evasão fiscal, falso testemunho e violações de regras de financiamento de campanhas.

O ex-advogado está cumprindo o restante da pena de três anos de prisão em sua casa em Nova York, depois de ser liberado devido à pandemia do coronavírus.

Ele retornou brevemente à cadeia, até a intervenção de um juiz federal que decidiu que o governo estava retaliando contra Cohen por estar escrevendo seu livro.

Trump chama Cohen de "rato" e mentiroso.

No passado, Cohen chegou a dizer que levaria um tiro no lugar de Trump. Agora, diz estar recebendo ameaças de morte de apoiadores do presidente.