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As 5 coisas mais agradáveis e desagradáveis de se tocar

26/10/2020 16h02

Estudo com 40 mil pessoas de diferentes países descobriu que sentimentos ao redor do toque parecem ser bastante universais.

O tato é uma parte crucial de nossas vidas. O tipo correto de toque pode reduzir a dor, aliviar o estresse ou transmitir emoções com mais impacto do que as palavras. Sem consentimento e forçado, pode causar terror e é uma violação do corpo alheio.

É um sentido que não se pode eliminar e não deve ser menosprezado.

"Acho que subestimamos a importância do contato físico em nossa interação social. O toque humano é chave para nossa sobrevivência. Está em nosso DNA", afirma à BBC Robin Dunbar, psicólogo evolutivo.

É também um sentido que tem sido visto sob novas perspectivas em meio à pandemia, em um momento em que temos de manter distanciamento social e em que não podemos abraçar amigos ou familiares do modo como fazíamos antes.

Dito isso, o tato "é um sentido muito pouco pesquisado. Para cada 100 artigos (científicos) sobre a visão, há um sobre o tato", destaca David Linden, autor de Unique: The New Science of Human Individuality (em tradução livre, Único: a nova ciência da individualidade humana).

O primeiro sentido

O tato é o primeiro sentido que desenvolvemos.

Como fetos no útero, sentimos antes de podermos escutar, sentir cheiros ou saborear. E, à medida que avança a gestação, se ela for de gêmeos, os irmãos podem até se tocar.

É também o sentido com o maior órgão sensorial do corpo: a pele, que cobre uma superfície de ao menos 2 metros quadrados.

Mas o que acontece quando tocamos outras pessoas? E por que isso é tão especial?

"Quando você toca outras pessoas, o seu cérebro processa com diferentes mecanismos", explica Katerina Fotoloulou, professora de Neurociência Psicodinâmica.

"Foi apenas na década de 1990 que descobrimos que nós seres humanos temos um conjunto especializado de células na pele, que viajam pelas vias especializadas a partes específicas do cérebro. Esse sistema se chama C-Tactile."

Os sensores na pele nos permitem experimentar pressão, vibração e dor, assim como temperatura ou prazer físico.

E esses sensores se adaptam rapidamente ao tato rápido - por isso, logo que colocamos a roupa, por um breve momento esquecemos que ela está tocando nossa pele, a não ser que, por algum motivo, a roupa esteja nos incomodando.

O tato sob estudo

O tema foi explorado em um estudo chamado The Touch Test, que a BBC e a organização Wellcome Collection lançaram em janeiro e que foi mantido até o fim de março, pouco depois de o lockdown ter iniciado no Reino Unido.

Mais de 40 mil pessoas de 112 países participaram, convertendo o estudo no maior já feito sobre o contato físico.

Uma das conclusões é de que 72% dos participantes gostavam de receber toque ou tocar outras pessoas, contra 27% que diziam vivenciar sensações negativas com esse toque. As que gostavam do toque interpessoal tendiam a ser mais extrovertidas do que as que não gostavam. E também tendiam a ter níveis mais elevados de bem-estar e menores de solidão.

Mais da metade dos participantes (54%) acredita que não recebe suficientes toques em sua vida.

Ao mesmo tempo, dois terços disseram que não gostam de ser tocadas por estranhos.

As descobertas mostram o quanto valorizamos o contato interpessoal consentido, algo que os profissionais de saúde sabem bem, principalmente em tempos de pandemia.

"Em uma situação na qual não podemos tocar as pessoas que normalmente tocaríamos na nossa vida cotidiana, não é que tudo vá desmoronar instantaneamente. Mas nossos sentimentos de conexão, empatia e confiança vão se degradando lentamente", explica Linden.

O problema, em sua forma mais aguda, é conhecido como "fome de pele" ou "sede de pele".

É que sentimos profunda falta de sermos tocados, porque o toque libera endorfinas.

Não por acaso, ao descrever o contato físico, pessoas de diferentes países usaram palavras em comum. As três principais delas foram:

1. "Reconfortante"

2. "Cálido"

3. "Amor"

E, entre os dados curiosos coletados pelo estudo, estão...

As 5 coisas que as pessoas mais gostam de tocar

1. Pelo animal

2. Veludo

3. Seda

4. Algodão

5. Pele humana

As 5 coisas que as pessoas menos gostam de tocar

1. Coisas viscosas

2. Papel de lixa

3. Nylon

4.

5. Metal

Explorando o sentido do tato, descobrimos também que existe...

A carícia perfeita

Já notou que, com apenas um toque, uma pessoa consegue comunicar o que está sentindo?

Fazemos isso sem prestar muita atenção, mas os experimentos demonstram que as pessoas conseguem transmitir uma grande variedade de emoções - inclusive a um estranho - com apenas um toque em no braço de alguém.

Quando seu braço é acariciado, pressionado ou apertado, esse estranho consegue identificar corretamente o que a pessoa estava tentando comunicar em até 83% das vezes, com emoções que vão desde a raiva, o medo e o desgosto até o amor, a gratidão e a simpatia.

A parte peluda do braço tem, inclusive, uma forma ideal de ser acariciada.

Há uma carícia à qual estamos programados para desfrutar mais: tem que ser relativamente rápida, a uma velocidade de exatamente 2,5 cm por segundo, mas sem ser forte ou suave demais.

Mas isso só vale se a pessoa fazendo a carícia seja percebida como alguém que não oferece perigo.

A ausência do toque na pandemia

Será que, com o distanciamento social, vamos nos acostumar a parar de nos tocar?

Segundo Katerina Fotolounou, quando pessoas em quarentena foram expostas a filmes nos quais havia contato físico natural, davam um sobressalto e "reprimiam" essa conduta.

"É um bom sinal de quão rapidamente aprendemos a nos inibir", diz a pesquisadora.

Rebecca Slater, professora de Neurociência Pediátrica, suspeita que essa mudança pode ser duradoura.

"Não acho que veremos as pessoas interagindo da mesma forma como fazíamos antes da pandemia", diz.

Mas o psicólogo evolutivo Robin Dumbar duvida que a transformação seja tão drástica.

"Me parece pouco provável que em algum momento percamos o sentido da importância do tato", ele diz à BBC.

"Nunca podemos dizer nunca quando se trata da evolução. (...) Mas tudo dependerá de quais outras formas de comportamento que ativem o sistema de endorfinas no cérebro realmente comecem a funcionar melhor do que o contato físico. E suspeito que isso seja pouco provável, a não ser que abandonemos toda a noção de termos relacionamentos românticos."


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