'Grande besteira': anotações revelam desprezo de Thatcher pelo euro
Mais evidências do desprezo da ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher pela Europa nos últimos dias de seu governo foram reveladas em documentos governamentais recém-divulgados.
Anotações de 1990 mostram que a ex-premiê descreveu os planos para uma moeda única europeia como uma "grande besteira, tomada no calor do momento".
Thatcher também defendeu que a Comissão Europeia se tornasse um serviço público profissional.
A revelação ocorre dias antes de o Brexit — a saída do Reino Unido da União Europeia — entrar em vigor, em 1º de janeiro de 2021.
Thatcher, a mais longeva primeira-ministra britânica do século 20 e a primeira mulher a ocupar o cargo no país, atacou o "Politburo" em Bruxelas e prometeu não aceitar imposições, durante conversas com seu homólogo irlandês, Charles Haughey.
A então premiê conservadora comparou dar poderes de tributação a dar soberania à Europa, mostram os arquivos de Dublin de 1990.
Foi por causa da questão da Europa e das divisões que causou no Partido Conservador que Thatcher teve que deixar o cargo, em novembro de 1990.
Uma anotação do governo irlandês registrou que Thatcher disse: "Ao falar de uma moeda única, Delors fez uma "grande besteira, tomada no calor do momento".
"Não vamos ter uma moeda única."
Jacques Delors — a quem Thatcher também se referiu como um "mero indicado" nas anotações — foi o presidente da Comissão Europeia e desempenhou um papel fundamental na concepção do euro e na criação do mercado único.
Thatcher queria transformar a comissão em um serviço público profissional, sem poder de iniciativa, cuja função seria servir o Conselho de Ministros — que representa os governos nacionais na Europa.
"Os dias dos comissários nomeados devem estar contados", disse ela. "Devemos dar poder ao Conselho de Ministros.
"Não estou entregando autoridade a uma burocracia não eleita."
Thatcher também disse estar ficando "completamente farta de que a comunidade europeia tente nos amarrar com regulamentos burocráticos".
Na época, o controle da União Soviética sobre a Europa Oriental estava entrando em colapso, o que a levou a dizer: "Estamos tentando fazer com que a Europa Oriental aceite os padrões democráticos e aqui estamos recriando nosso próprio Politburo."
Ela disse que embora a comissão tenha sido necessária "para começar", ela era "uma estrutura de poder totalmente não democrática agora".
Thatcher também se opôs à ideia de uma força policial europeia, mostram as anotações.
Foi a questão da Europa que acabou com o mandato de 11 anos de Thatcher como primeira-ministra em 1990, depois que ela atacou seus colegas europeus, levando a uma rebelião em seu gabinete.
John Major foi eleito seu sucessor e ela deixou seu cargo de parlamentar em 1992.
Mais tarde, Thatcher foi elevada ao título de Baronesa Thatcher, de Kesteven, no condado de Lincolnshire, em 1995.
O Reino Unido disponibiliza acesso público a alguns documentos governamentais após 30 anos.
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