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Invasão do Congresso dos EUA: por que o policial Eugene Goodman foi chamado de 'herói' por ação no Capitólio

Holly Honderich - Da BBC News em Washington (EUA)

12/01/2021 08h21

As imagens da rebelião mostram Goodman atraindo uma multidão para longe do Senado e os legisladores escondidos lá dentro.

Um policial do Capitólio dos Estados Unidos está sendo chamado de herói por conduzir sozinho uma multidão para longe do plenário do Senado durante os tumultos da semana passada.

As imagens do oficial, identificado como Eugene Goodman, mostram-no a poucos passos dos manifestantes enquanto eles o perseguem por escadas.

Goodman então é visto olhando para a entrada do Senado antes de atrair os homens na direção oposta.

Cinco pessoas, incluindo um policial, morreram como resultado dos tumultos. Outro policial que estava trabalhando durante o episódio morreu por suicídio neste fim de semana, disse sua família.

A demonstração de bravura de Goodman, que é veterano do Exército e serviu no Iraque, vem em meio a críticas à polícia do Capitólio por aparentes falhas de segurança durante o ataque.

Na noite de segunda-feira (11/1), o departamento disse que dois de seus policiais foram suspensos e mais de uma dúzia está sob investigação por suspeita de envolvimento impróprio com os manifestantes.

O professor de direito penal da Escola de Direito de Nova York e veterano de 20 anos do Departamento de Polícia de Nova York, Kirk Burkhalter, classificou a reação de Goodman aos manifestantes como "tremenda".

"Não acho que tenha havido qualquer tipo de treinamento que o preparasse para essa situação", disse Burkhalter.

No vídeo filmado pelo repórter do Huffington Post Igor Bobic, Goodman, que é negro, é hostilizado pelo grupo de apoiadores de Trump ? todos homens brancos.


O homem na frente do pelotão, vestindo uma camiseta da QAnon, foi identificado como Doug Jensen, de Iowa. Posteriormente, ele foi preso pela polícia local e pelo FBI (Polícia Federal americana) por seu papel nos tumultos.

As filmagens mostram Jensen liderando a multidão que perseguiu Goodman pelas escadas ? a poucos metros da entrada do andar do Senado. Enquanto é perseguido, Goodman grita "segundo andar!" em seu rádio, aparentemente alertando outros oficiais do grupo que se aproximava do plenário.

Depois que Goodman olha para a entrada do plenário do Senado, ele empurra Jensen ? um movimento aparentemente calculado para chamar a atenção para si mesmo, atraindo a multidão para longe do plenário, onde muitos se escondiam.

A imagem de Goodman seguido por uma multidão ? alguns armados com bandeiras confederadas, outros com alusões à bandeira nazista ? é foi extremamente perturbadora, disse Burkhalter.

"Sendo policial ou não, ver um homem negro sendo perseguido por alguém que carrega uma bandeira da Confederação ? há algo de errado com essa imagem. Isso nunca deveria acontecer novamente", disse ele.

"Isso parece ser tudo que precisamos corrigir."

O oficial Goodman foi homenageado por vários membros do Congresso, alguns deles pedindo que Goodman recebesse a Medalha de Honra do Congresso por seus serviços.

"Enquanto a multidão fascista de Trump saqueava o Capitólio dos EUA, este bravo oficial da USCP (a polícia do Capitólio) manteve desordeiros assassinos longe do plenário do Senado e salvou a vida daqueles que estavam lá dentro", escreveu o congressista Bill Pascrell no Twitter.

"Na quarta-feira passada, eu estava dentro do plenário do Senado quando o oficial Eugene Goodman desviou uma multidão enfurecida para longe dali, correndo um grande risco pessoal. Seu pensamento rápido e ação decisiva naquele dia provavelmente salvaram vidas, e temos uma dívida de gratidão com ele", escreveu o senador Bob Casey na segunda-feira.

O impasse de Goodman com a multidão ocorreu poucos minutos antes que as autoridades pudessem selar o local, de acordo com reportagem do Washington Post.


O departamento de polícia do Capitólio conta com 2 mil funcionários, e tem a tarefa de proteger o prédio do Capitólio e todos que estão dentro dele. Eles são diferentes da polícia de DC, que patrulha o resto da capital americana.

O que vai acontecer com a Polícia do Capitólio dos EUA agora?

O chefe da Polícia do Capitólio, Steven Sund, renunciou na semana passada após críticas sobre a reação de sua força aos distúrbios, incluindo um apelo público da democrata Nancy Pelosi para que Sund deixasse o cargo.

O procurador dos EUA em exercício, Michael Sherwin, disse que o Departamento de Justiça vai considerar a possibilidade de processar qualquer policial do Capitólio que tenha agido como cúmplice dos manifestantes.

O policial Howard Liebengood, 51, que trabalhou durante os distúrbios, morreu por suicídio no sábado, disse sua família. Um advogado da família de Liebengood chamou a morte do veterano de 15 anos do departamento de uma "perda devastadora".

No Twitter, o senador republicano Mitt Romney disse que ele e sua equipe estavam "de coração partido" com a morte de Liebengood. "Howie era uma presença familiar e alegre, e também um amigo meu e da minha equipe", escreveu Romney. "Sua bravura, bondade e cuidado genuíno com os outros foram profundamente sentidos por todos nós que tivemos o privilégio de conhecê-lo."

De acordo com a CBS News, a força policial do Capitólio respondeu a uma série de incidentes de policiais que ameaçaram causar danos a si mesmos após os ataques da semana passada.

Burkhalter diz que a responsabilidade por qualquer falha de segurança é da liderança do departamento.

Quando se chega ao ponto em que cada policial, como o policial Goodman, precisa tomar decisões sobre a distribuição de recursos, a batalha está perdida, diz ele.

"Nunca deveria ter chegado a esse ponto."


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