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Dia da Mulher: o muro erguido para conter protestos de 8 de março e que virou tributo às vítimas de feminicídio no México

Redação - BBC News Mundo

08/03/2021 10h02

Uma cerca instalada em frente ao Palácio Nacional do México gerou críticas de grupos de mulheres que planejam manifestação contra a violência de gênero neste dia 8 de março.

Uma extensa cerca de metal ao redor do Palácio Nacional do México, sede do Poder Executivo mexicano, gerou polêmica na véspera das manifestações do Dia Internacional da Mulher.

A barreira, com cerca de 3 metros de altura, foi instalada para evitar provocações e ataques ao Palácio Nacional, segundo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.

Para este 8 de março, protestos foram convocados no México contra a crescente violência de gênero e o feminicídio.

Membros do governo federal chamaram a barreira de "muro da paz", mas grupos feministas e opositores do presidente a consideraram um obstáculo ao direito de protestar.

Para manifestar descontentamento, um grupo de mulheres transformou, no sábado (06/03) à noite, o "muro da paz" no que agora chamam de "muro da memória".

Com letras brancas, as manifestantes escreveram os nomes de centenas de mulheres vítimas de femicídio.

"Não se esqueça desses nomes, Senhor Presidente", postou no Twitter Las Brujas del Mar, um dos grupos feministas que apoia a iniciativa.

"Não há como silenciar as justas reivindicações das mulheres, por mais que tentem", acrescentaram.

A advogada feminista Patricia Olamendi, que trabalha com questões de igualdade, publicou uma foto da cerca acompanhada da mensagem: "Eles têm tanto medo de nós?"

Outras vozes também expressaram suas críticas por considerarem que o governo protege os edifícios históricos melhor do que protege as mulheres.

'Não sou machista'

O presidente López Obrador publicou no domingo um vídeo no qual responde às críticas relacionadas ao episódio.

"Não é por medo das mulheres, é por precaução", disse o presidente referindo-se à instalação. "Não sou contra o feminismo, sou contra a corrupção, a manipulação, o autoritarismo", diz López Obrador no vídeo.

"Não sou machista, sou a favor dos direitos das mulheres e sou a favor da igualdade".

Além disso, o presidente justificou a instalação do muro argumentando que "é melhor colocar uma cerca na frente das mulheres que vão protestar do que colocar policiais, como era antes".

Barreiras semelhantes também foram instaladas no entorno de outros prédios emblemáticos da capital, como o Palácio de Bellas Artes, onde concentrações são esperadas.

Violência de gênero no México

Durante seu governo, López Obrador recebeu duras críticas por suas declarações sobre questões de gênero.

O presidente disse que o movimento feminista no México é manipulado. Algumas organizações o acusam que não ser sensível à violência sofrida pelas mulheres.

Depois do Brasil, o México é o segundo país da América Latina com mais crimes contra a mulher com base no gênero, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

Nos últimos anos, no México, os números de feminicídios e violência contra as mulheres têm aumentado, de acordo com a Agência Efe. A situação é agravada por um alto índice de impunidade para esses crimes.

O país fechou 2020 com 3.723 mortes violentas de mulheres, somando feminicídios e homicídios dolosos.

"Dizer que apenas um pouco mais de 900 desses casos foram classificados como feminicídios, quando há milhares de homicídios dolosos de mulheres, é querer maquiar o dado", disse Arussi Unda, porta-voz do coletivo feminista Las Brujas del Março, em entrevista recente à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Em 2020, o número e a gravidade dos feminicídios fizeram com que milhares de pessoas saíssem às ruas para protestar e exigir uma ação real do governo contra esses crimes.

Manifestações de 8 de Março

Para este Dia Internacional da Mulher, em vários países estão previstas manifestações, algumas delas em meio a restrições devido à pandemia do coronavírus.

Na América Latina, em países como Venezuela, Colômbia e Chile, são esperados protestos contra a violência contra as mulheres.

No Brasil, até a manhã desta segunda (08/03), havia previsão de eventos virtuais para marcar a data.

Na República Dominicana, dezenas de pessoas, a maioria mulheres, se manifestaram recentemente pedindo a descriminalização do aborto nos casos em que a vida da criança ou da mãe está em risco, quando a gravidez é produto de estupro ou incesto, ou quando o feto não tem chance de sobrevivência. No Equador, também houve manifestações exigindo ações do governo contra a violência de gênero.

Em outros locais, como Madri, que foi palco de grandes manifestações em anos anteriores, as autoridades proibiram protestos e celebrações neste ano, devido à alta incidência do coronavírus.


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