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Ministro da Saúde admite dificuldade para administrar a segunda dose da CoronaVac; veja quais os riscos

André Biernath - Da BBC News Brasil em São Paulo

14/04/2021 07h24

Mais de 1,5 milhão de brasileiros não completaram o esquema vacinal contra o coronavírus e correm risco de ficar sem a proteção adequada

Em uma sessão no Senado Federal realizada na manhã desta segunda-feira (26/04), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu encontrar dificuldades para a aplicação da segunda dose da CoronaVac, uma das vacinas utilizadas no Brasil durante a campanha de imunização contra a covid-19.

"Tem nos causado certa preocupação a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores e de prefeitos, porque, se os senhores se lembram, cerca de um mês atrás se liberou as segundas doses para que se aplicassem e agora, em face de retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose", explicou o ministro.

Nos últimos dias, cidades de São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amapá, Alagoas e Pernambuco precisaram interromper a campanha por falta de estoque suficiente para completar a proteção das pessoas que já haviam tomado a primeira dose anteriormente.

No dia 21 de março, o Ministério da Saúde mudou as diretrizes e permitiu que os Estados aplicassem todas as doses disponíveis, sem deixar reservas para garantir a segunda dose daqueles que já haviam recebido a primeira. 

O problema é que, com o aumento da demanda mundial pelos imunizantes, a chegada dos insumos da China sofreu uma série de atrasos. Sem esse material, o Instituto Butantan não consegue finalizar a produção da CoronaVac.

E isso, por sua vez, gera uma reação em cadeia que afeta a disponibilidade de doses nos postos de saúde e emperra o andamento da campanha no país.

Mas qual o risco de não tomar a segunda dose da vacina contra a covid-19 dentro dos prazos estabelecidos?

Resguardo duvidoso

A maioria das vacinas contra a covid-19 testadas e já aprovadas necessitam de duas doses para conferir uma taxa de proteção aceitável.

Isso vale para os produtos desenvolvidos por Pfizer, Moderna, Instituto Gamaleya e os dois que são usados atualmente na campanha brasileira: a CoronaVac e a AZD1222, como explicado nos parágrafos anteriores.

Por ora, a única exceção da lista é o imunizante de Johnson e Johnson, que já fornece uma boa resposta com a aplicação de apenas uma dose.

Esses esquemas vacinais foram avaliados e definidos nos estudos clínicos das vacinas, que envolveram dezenas de milhares de voluntários e serviram para determinar a segurança e a eficácia das candidatas.

Portanto, se alguém tomar apenas a primeira dose de CoronaVac ou AZD1222 e se esquecer da segunda, não estará devidamente protegido.

"Os dados que temos mostram que a pessoa fica resguardada com duas doses. Se ela toma só uma, não completou o esquema e não está vacinada adequadamente", explica a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Por mais que a primeira dose já dê um pouco de proteção, essa taxa não está dentro dos parâmetros estabelecidos pelos especialistas e pelas instituições que definem as regras do setor, como a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Outro ponto perigoso: ao receber a primeira dose (e não retornar para completar o esquema vacinal), o indivíduo corre o risco de ficar com uma falsa sensação de segurança.

Ele pode até achar, de forma absolutamente equivocada, que já está imune ao coronavírus e seguir a vida normalmente, sem os cuidados básicos contra a covid-19.

As recomendações, porém, continuam as mesmas para quem recebeu duas, uma ou nenhuma dose de vacina: todos precisam manter distanciamento físico, usar máscaras, lavar as mãos e cuidar da circulação de ar nos ambientes.

Começar de novo?

Ainda não se sabe ao certo como fica a situação de quem não completou as duas doses: esses indivíduos precisam recomeçar o esquema vacinal do zero ou podem tomar a segunda a qualquer momento?

Isso vai depender do tempo de atraso, especulam os especialistas.

"Se o prazo para receber a segunda dose passou demais, pode ser necessário recomeçar o regime vacinal, pois todos os dados de eficácia que temos são baseados num protocolo. Se fugirmos disso, não temos como garantir a imunização", diz a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Num cenário de escassez de vacinas, isso pode comprometer ainda mais nossos estoques e deixar na mão um monte de gente que ainda precisa se imunizar.

"As pessoas não devem atrasar, mas, se porventura tiverem algum imprevisto, é importante receber a segunda dose assim que possível para obter uma boa resposta imune", reforça Ballalai.

Bonorino, que também integra a Sociedade Brasileira de Imunologia, acredita que o governo deveria investir em campanhas de comunicação para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de seguir direitinho os protocolos de imunização do país.

"Precisamos dessas informações sendo veiculadas na televisão, nas redes sociais e em todos os meios, para que a população não se esqueça de tomar a segunda dose da vacina nas datas indicadas", destaca.

E é importante lembrar que a primeira e a segunda dose devem ser do mesmo fabricante, sem nunca misturar os produtos: tem que começar e terminar com a CoronaVac ou com a AZD1222.

De acordo com as últimas informações do Ministério da Saúde, até o momento o Brasil vacinou um total de 37 milhões de pessoas contra a covid-19.

O número corresponde a pouco mais de 17% da população do país.


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