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Em 3 mapas, como território palestino encolheu e Israel cresceu desde partilha da ONU em 1948

18/05/2021 09h28

Império romano que nomeou região como Palestina e, 7 décadas depois de Cristo, expulsou judeus após lutar contra os movimentos que buscavam independência.

Mais de 70 anos após Israel ter sido declarado um Estado, suas fronteiras ainda não foram totalmente estabelecidas. Guerras, tratados e ocupações fizeram com que a forma do Estado judeu mudasse ao longo do tempo e, em algumas partes, permanecesse até hoje indefinida.

A BBC explica em três mapas como isso começou na partilha da Palestina após duas guerras mundiais, qual foi a principal mudança territorial desde então e qual é a situação atual.

O começo do judaísmo como uma religião estruturada acontece com a transformação dos judeus, que descendem do primeiro hebreu Abraão, em um povo influente através de reis como Saul, Davi - que dominou Jerusalém há quase 3.000 anos -, e Salomão, que construiu o Primeiro Templo na cidade, no Monte Moriá (conhecido também como Monte do Templo).

Acredita-se que os israelitas mantiveram a Arca da Aliança (onde estariam as tábuas com os Dez Mandamentos) no templo, destruído por volta do ano de 583 a.C durante a invasão babilônica. Diversos judeus foram expulsos de sua terra à época, e vários foram enviados para a Babilônia (região entre os rios Tigre e Eufrates, atualmente em território iraquiano).

Apesar de alguns serem autorizados a retornar para casa, muitos permaneceram no exílio formando aí a primeira diáspora judaica, que significa "viver afastado de Israel".

Décadas depois, o Segundo Templo de Jerusalém começaria a ser construído por judeus que voltaram à região, então controlada por Ciro, o Grande, rei da Pérsia. A nova edificação, mais modesta que a anterior, ficaria pronta em 515 a.C.

A região mudou de comando diversas vezes, até o domínio de Roma em 63 a.C. Mas duas décadas depois, em meio a diversos conflitos, Herodes convenceu os romanos de que poderia governar o local, foi nomeado rei da Judeia e, dentre outras coisas, restaurou o templo sagrado do povo judeu.

Foi o império romano que nomeou a região como Palestina e, sete décadas depois de Cristo, expulsou os judeus de suas terras após lutar contra os movimentos nacionalistas que buscavam independência. O Segundo Templo viria a ser destruído nesse período.

Do conjunto arquitetônico da construção sagrada, sobrou apenas o que hoje é conhecido como Muro Ocidental ou Muro das Lamentações, nome dado por turistas em razão das orações feitas em frente ao local.

No início do século 20, o movimento sionista, que buscava criar um Estado para os judeus, ganhou força, principalmente por causa do crescente antissemitismo na Europa, e impulsionou a imigração judaica. O território que se tornaria o Estado de Israel pertenceu nos séculos antes ao império Turco-Otomano.

Partilha da Palestina após duas guerras mundiais

Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e do colapso do império, o território conhecido como Palestina foi demarcado e entregue ao controle do Reino Unido pelas nações vencedoras da guerra. Essa medida também recebeu aval da Liga das Nações, que depois daria origem à Organização das Nações Unidas (ONU).

Os termos do mandato confiavam ao Reino Unido o estabelecimento na Palestina de "um lar nacional para o povo judeu", desde que isso não prejudicasse os direitos civis e religiosos das comunidades não judias naquele país.

Mas, antes e durante a guerra, os britânicos fizeram várias promessas para os árabes e os judeus que não se cumpririam, entre outras razões, porque eles já tinham dividido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre árabes e nacionalistas sionistas que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes. O contexto incluía a ascensão do nacionalismo árabe palestino e o rápido crescimento da população judaica minoritária da Palestina.

O Reino Unido delegou o problema à ONU, que em 1947 propôs dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe, com a área de Jerusalém-Belém sendo uma cidade internacional. O plano foi aceito pela liderança judaica da Palestina, mas rejeitado pelos líderes árabes.

A liderança judaica na Palestina declarou a criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948, momento em que o mandato britânico acabou, ainda que sem o anúncio das fronteiras demarcadas.

No dia seguinte, Israel foi invadido por cinco Exércitos árabes, marcando o início da Guerra da Independência de Israel. A luta terminou em 1949 com diversos acordos de cessar-fogo, criando linhas de armistício ao longo das fronteiras de Israel com Estados vizinhos e criando as fronteiras do que passou a ser conhecido como Faixa de Gaza (ocupada pelo Egito) e Jerusalém Oriental e Cisjordânia (ocupada pela Jordânia).

Após o conflito, o território originalmente planejado pela Organização das Nações Unidas para um Estado árabe foi reduzido pela metade e quase 750 mil palestinos fugiram para países vizinhos ou foram expulsos pelas tropas israelenses. Para os palestinos, começava ali a Nakba, palavra em árabe para "destruição" ou "catástrofe".

Os Estados árabes vizinhos se recusaram a reconhecer Israel enquanto país, o que significa que suas fronteiras permaneceram questionadas.

Guerra em 1967 leva à maior mudança territorial desde a partilha

A grande mudança nas fronteiras de Israel ocorreu em 1967, quando o conflito conhecido como Guerra dos Seis Dias acabou com Israel ocupando a Península de Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a maior parte das Colinas do Golã. Na prática, isso triplicou o tamanho do território sob controle israelense.

Israel anexou Jerusalém Oriental, clamando que a cidade como um todo é a sua capital, e as Colinas de Golã, área de cerca de 1.200 quilômetros quadrados cuja topografia oferece um excelente ponto de observação para monitorar os movimentos militares sírios.

A região de terra fértil também é uma fonte importante de água, já que é de lá que sai um terço do abastecimento do país. A Síria sempre reiterou que não vai concordar com um acordo de paz com Israel a menos que o país se retire por completo das colinas.

Um dos principais pontos de atrito entre judeus e palestinos passa pela ocupação de Jerusalém Oriental a partir de 1967.

Muitos judeus consideram Jerusalém a capital eterna e indivisível de Israel. Mas os palestinos reivindicam a soberania sobre Jerusalém Oriental, capital de um eventual Estado da Palestina, que incluiria também a Cisjordânia, governada hoje pela Autoridade Nacional Palestina, e a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, principal grupo islâmico palestino.

Esses movimentos de Israel sobre Jerusalém e as Colinas de Golã não eram reconhecidos pela comunidade internacional até pouco tempo atrás, quando os Estados Unidos mudaram sua posição oficial durante o governo de Donald Trump e se tornaram a primeira grande potência a reconhecer essas áreas como oficialmente parte de Israel.

Meio milhão de palestinos fugiram por ocasião da guerra em 1967. E a grande maioria dos países continuam a considerar Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã como territórios ocupados.

Uma das fronteiras terrestres de Israel foi formalizada pela primeira vez em 1979, quando o Egito se tornou o primeiro país árabe a reconhecer o Estado judeu. Sob o tratado, a fronteira de Israel com o Egito foi definida e Israel retirou todas as suas forças e colonos do Sinai, um processo que foi concluído em 1982.

Isso deixou Israel ocupando a Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã, com suas fronteiras (excluindo o do Egito) ainda delineadas pelas linhas do armistício de 1949 (depois do confronto entre Israel e países árabes).

Em 1994, a Jordânia se tornou o segundo Estado árabe a reconhecer Israel, formalizando no processo sua ampla fronteira com o Estado judeu. Embora ainda não tenha havido um tratado de paz entre Israel e o Líbano, a linha de armistício dos dois países de 1949 serve como fronteira norte de fato de Israel, enquanto a fronteira de Israel com a Síria permanece não consolidada.

Da mesma forma, Israel tem uma fronteira de fato com Gaza desde que retirou suas tropas e colonos em 2005, mas Gaza e a Cisjordânia ainda são classificadas pela ONU como um território ocupado. As fronteiras oficiais ainda não foram definidas.

O status final e os contornos da Cisjordânia, de Gaza e de Jerusalém Oriental devem ser decididos nas negociações entre Israel e os palestinos que vivem lá sob a ocupação israelense, mas décadas de conversas e debates foram infrutíferas até agora.

Mapa dos assentamentos judaicos nos territórios palestinos

Um dos principais obstáculos às negociações de paz é a questão dos assentamentos judaicos, ligada também ao estopim do mais recente conflito entre palestinos e israelenses, em 2021.

A nova onda de violência na região eclodiu a partir da ameaça de despejo de famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, que fica fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém. A área em que hoje vivem as famílias é reivindicada por grupos de colonos judeus em tribunais israelenses.

Há décadas israelenses têm ocupado áreas habitadas por palestinos por meio de assentamentos, tanto em Jerusalém Oriental quanto na Cisjordânia. Só nesta última, são cerca de 430 mil colonos israelenses distribuídos entre 132 assentamentos.

Esses assentamentos têm crescido constantemente desde a Guerra dos Seis Dias, conflito árabe-israelense ocorrido em 1967. Há também assentamentos não oficiais, conhecidos como postos avançados. Parte da direita em Israel reivindica a anexação oficial de grandes porções de terra da Cisjordânia.

Atualmente, cerca de 3 milhões de pessoas vivem na pequena área territorial da Cisjordânia, sendo 86% delas palestinos e 14% (ou 427,8 mil pessoas) israelenses. Eles vivem em comunidades em geral separadas entre si.

Uma grande parte dos assentamentos israelenses foi estabelecida nos anos 1970, 80 e 90. Mas, nos últimos 20 anos, a população deles dobrou. Israel lhes oferece serviços, como água, eletricidade e proteção do Exército.

Algumas pessoas se mudam para assentamentos porque neles dispõem de moradia mais barata, subsidiada pelo governo israelense. Há também os que se mudam para viver ali em comunidades estritamente religiosas, que acreditam que Deus lhes deu o dever de assentar na região.

Um terço dos assentamentos são ultraortodoxos, com famílias maiores e também mais pobres ? e que também buscam melhor qualidade de vida. Mas algumas comunidades veem o assentamento como uma ideologia - a de que eles teriam o direito de morar ali por acreditar se tratar de um território ancestralmente judaico.

Essas colônias estão dispersas pelo território palestino. E, como muitas são protegidas pelos militares e o acesso a elas é proibido aos palestinos, a política de assentamentos tem como efeito colateral a separação de cidades palestinas umas das outras, dificultando as conexões de transporte e o desenvolvimento de infraestrutura no território da Cisjordânia.

Essas colônias são consideradas ilegais pela lei internacional. Em pelo menos seis ocasiões desde 1979 o Conselho de Segurança da ONU reafirmou que elas são "uma violação flagrante da legislação internacional". A última delas foi em 2016 - o documento oficial também menciona Jerusalém Oriental.

Israel, por outro lado, defende as iniciativas argumentando que se trata de uma estratégia de defesa de sua integridade, e não de uma tentativa de tomada da soberania palestina.

Para o historiador francês Vincent Lemire, especialista em Oriente Médio, especificamente em Jerusalém, "a solução de dois Estados nacionais (um israelense e outro palestino) morreu há muito tempo, especialmente com os 650 mil colonos israelenses assentados na Cisjordânia".

Segundo ele, os jovens palestinos e os árabes que vivem em Israel atualmente "lutam por seus direitos, por seus espaços públicos, suas condições de vida e uma forma de igualdade com seus vizinhos israelenses".

Lemire prevê que "estamos caminhando para um Estado binacional de fato, com combates esporádicos e específicos dos palestinos para obter os mesmos direitos dos israelenses".

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