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Quem está ganhando a histórica guerra de ideias entre os economistas

Jesús Moreno - BBC News Mundo

20/06/2021 15h53

Há quem aposte em uma maior intervenção do Estado na economia para regular as falhas do mercado, e quem queira que o poder público interfira o mínimo possível; pandemia recrudesceu o debate e intensificou defesas de políticas industriais - antes desdenhadas - nos países.

Se o teórico militar Carl von Clausewitz tivesse visto dois economistas discutindo, ele talvez tivesse pensado que a economia, e não a política, era a guerra por outros meios. Essa disciplina é para as ciências sociais o que o boxe é para o esporte.

Os corpos não se chocam como nos esportes de contato, mas a veemência com que se debate sobre seus diversos princípios pode ser tão contundente quanto um gancho de esquerda, alguns diriam.

Ou de direita, na visão de outros.

Questionado sobre isso em um programa de entrevistas na televisão em 1978, o ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman garantiu que tal discrepância entre economistas não era verdadeira, que como acadêmicos eles concordavam sobre os fundamentos, e as diferenças eram, na verdade, muito restritas.

"Não concordo", declarou outro economista sentado ao lado dele. E eles inevitavelmente tiveram uma longa discussão.

Essa arena não parece um lugar para empates, e talvez a paixão acadêmica resulte de suas repercussões no mundo real: a influência que as ideias econômicas dominantes têm sobre os governos e suas políticas.

As ideias dos economistas "estejam certas ou erradas, são mais poderosas do que [o homem comum] pode imaginar. Na verdade, pouca coisa mais rege o mundo", afirmou John Maynard Keynes, um de seus pensadores mais importantes.

Mas antes de governá-lo, eles precisam conquistá-lo. Travar um embate entre elas para se tornar a narrativa dominante, o que em algum momento será considerado o "senso comum".

Paradoxalmente, o consenso econômico não é alcançado por consenso, mas por assalto. E essa é sempre uma vitória que parece trazer consigo as sementes de sua própria decadência.

Ou, pelo menos, é o que mostra uma pesquisa recente realizada por Reda Cherif, Marc Engher e Fuad Hasanov para o Fundo Monetário Internacional (FMI), na qual eles analisaram as ideias que predominaram em cada momento nas recomendações de acadêmicos a governos de todo o mundo por meio de quase 5 mil estudos que datam de 1975 até o presente.

Como se fossem arqueólogos, os pesquisadores foram desencavando e tirando a poeira desses documentos antigos para classificar que ideias prevaleciam em cada década e como as recomendações dos especialistas mudaram.

Eles testemunharam como cada ideia dominante gerava desequilíbrios que davam lugar a outras ideias para corrigi-los.

O que vem a seguir é a história da ascensão e queda das narrativas econômicas do nosso tempo, uma competição interminável na qual uma nova corrente se candidata a moldar o mundo pós-pandemia, alertam os especialistas.

São os defensores da política industrial.

Água doce, água salgada

A batalha entre as diferentes correntes econômicas é quase tão antiga quanto a disciplina. Após a mãe de todas as diferenças (capitalismo versus comunismo) ser adormecida pela história com a queda da União Soviética, os economistas disputam o paradigma de governar as economias de mercado.

Há mais de uma década, o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman os dividia entre economistas "de água doce" (liberais, neoclássicos, ortodoxos e, em geral, mais próximos das filosofias de direita) e "de água salgada" (keynesianos, social-democratas, progressistas... mais à esquerda).

Os rótulos se referem às universidades americanas e sua localização, que por acaso simpatizavam com uma ou outra ideia se estivessem situadas na costa ou no interior do país, mas são uma boa síntese, levada à sua menor expressão, da discrepância entre as correntes econômicas.

Há quem aposte numa maior intervenção do Estado na economia para regular as falhas do mercado, e quem deseje que o poder público interfira o menos possível para não romper com o que consideram ser o equilíbrio natural do mercado.

E no meio, você sabe: gráficos incompreensíveis para os mortais, apostas em aumentar ou diminuir a arrecadação de impostos; fórmulas para o desemprego ou déficit; grau de regulação, taxa de inflação e todo tipo de matemática afiada que vai deixando vencedores e derrotados com o tempo.

A jornada de Cherif, Engher e Hasanov começa precisamente com a queda de um império da ideologia econômica: o keynesianismo.

E com sua derrota, a chegada de uma tendência que teve grande impacto na América Latina: as políticas do Consenso de Washington.

O Consenso de Washington e a América Latina

As décadas que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial marcaram o grande "triunfo do keynesianismo", escreve o professor Francisco Comín no livro História econômica mundial.

"O papel dos governos para corrigir as falhas do mercado foi intensificado, com a consequente consolidação do Estado de bem-estar."

"Junto ao Estado fiscal surgiu o Estado empresário", na forma de nacionalizações e empresas públicas em todos os setores econômicos (de infraestrutura, indústria de base, mineração, bancário). Os impostos aumentaram, e o gasto público subiu 40% em países como o Reino Unido.

O objetivo não era um déficit e dívida baixos, mas o "pleno emprego", analisa Comín.

Mas, no fim dos anos 1970, algo mudou. As palavras "privatização" e "liberalização" começaram a aparecer nos estudos e recomendações dos economistas, observa a pesquisa do FMI.

Como o início de uma tempestade: pequenas gotas primeiro; torrencialmente depois.

Este conjunto de recomendações apostava em reduzir ao mínimo o peso do Estado e foi incluído sob o guarda-chuva do chamado "Consenso de Washington".

"A crise dos anos 1970 é fundamental para entender essa mudança de narrativa", explica à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, Roy W. Cobby, professor assistente da universidade King's College London, no Reino Unido, e especialista em economia política e industrial.

"Define tudo o que virá depois."

Após 30 anos de prosperidade promovida pelo Estado, a radiografia mundial mostra agora um paciente doente: "Há uma queda dramática do crescimento em muitos países ocidentais, há um aumento da inflação, os Estados Unidos têm dificuldade em sustentar suas contas públicas e apresentam um déficit elevado... Chega uma crise por esgotamento", afirma.

É assim que aparece um novo grupo de economistas que estava na marginalidade acadêmica.

"Os mais bem preparados para assumir esse desafio naquele momento eram os monetaristas, que se reuniam em torno da figura de Milton Friedman", explica Cobby.

"Eles vinham trabalhando com políticos disruptivos na época, como Margaret Thatcher e Ronald Reagan [...]. Achavam que um mercado com muita intervenção (sem um banco central independente, com grande destaque de empresas públicas e sindicatos) via distorcida sua capacidade de atribuir preços na economia", diz ele.

E eles aproveitaram a oportunidade. "Essa narrativa foi marginal até meados da década de 1980, mas posteriormente se sobressaiu [em um grande número de estudos], atingindo seu auge na década de 1990, quando ocorreu a transição de muitas economias socialistas", conta a pesquisa do FMI.

Assim, suas políticas foram transferidas não apenas para os países ricos, mas para organismos internacionais, como o próprio FMI e o Banco Mundial, que aplicaram suas fórmulas aos países em desenvolvimento.

Um exemplo paradigmático é a América Latina.

Estamos no ano de 1974. A América Latina vive um cenário econômico e político turbulento.

Por uma década, seu crescimento econômico seria anêmico, abaixo de 1%, e um encadeamento de fatores faria com que suas economias deslizassem em uma "ladeira perigosa", escreve Comín.

O boom do preço do petróleo fez com que os países produtores (México, Equador, Peru e Venezuela) se endividassem no exterior, confiando nesse maná; enquanto outros, como o Brasil, também se endividaram na esperança de que as taxas baixas de juros continuariam ao longo do tempo.

Ao mesmo tempo, a inflação galopava como um cavalo puro-sangue e os "subsídios governamentais e o protecionismo" estagnavam a produtividade.

Quando esse equilíbrio precário se rompeu, a região mergulhou na que mais tarde seria chamada de "década perdida", diz Comín.

"Um país após o outro saiu dizendo: espere por mim, não posso pagar", explica à BBC News Mundo Víctor Mauricio Castañeda, pesquisador e professor de economia da Universidade Nacional da Colômbia.

E como solução, as políticas do Consenso de Washington começaram a ser implementadas.

"O nome pode sugerir que (as políticas) vieram unilateralmente dos Estados Unidos, mas já havia governos latino-americanos trabalhando nessa linha", afirma Castañeda.

"Os objetivos dessas políticas eram promover o crescimento e a estabilidade macroeconômica, reduzir o déficit fiscal e conjurar a crise da dívida externa ao mesmo tempo que esperavam reduzir a pobreza."

E em que consistiam essas fórmulas?

Como se fossem mandamentos bíblicos, o professor as resume em 10 pontos:

- Disciplina fiscal e reorganização dos gastos públicos;

- Reforma tributária para reduzir o imposto de renda (embora os impostos indiretos tenham aumentado);

- Liberalização das taxas de juros e busca por taxas de câmbio competitivas;

- Liberalização do comércio e do investimento estrangeiro;

- Privatização, desregulamentação e propriedade privada acima de tudo.

Ou seja, água doce. E sob pressão.

Mas eles foram bem-sucedidos?

"Com a perspectiva que o tempo dá, se pode dizer que tiveram sucesso em algumas áreas da esfera macroeconômica. Foi possível controlar a inflação e reduzir o déficit público, é verdade, mas geraram um conjunto de efeitos sociais negativos: o crescimento da pobreza e da desigualdade. E com eles, a chegada de um grande mal-estar social", explica Castañeda.

"A região começou a se perguntar: tudo isso para quê? Se estamos mais pobres".

A longa derrota da água salgada

A narrativa do Consenso de Washington começou a desaparecer em 1997, de acordo com a análise de Cherif e seus colegas para o FMI. O apelo às "privatizações" desapareceu do vocabulário dos especialistas, "caindo vertiginosamente" no ano 2000.

Isso significava o fim da hegemonia da "água doce"? Não tão rápido.

O que realmente aconteceu é que parte de seu modelo foi camuflado em outra narrativa. "Esse padrão [de declínio acentuado do termo nos estudos] pode sugerir que o conceito de privatização pode ter sido integrado a outros conceitos", observa o relatório do FMI.

Assim, sem a pureza inicial, foram acrescentadas novas nuances ao discurso. Em seu lugar, passaram a ser utilizadas recomendações que falavam de "competitividade" e conceitos que estavam englobados nesse magma entendido como "reformas estruturais", adverte o estudo.

E quais são? Fundamentalmente, "eliminar obstáculos à eficiência da produção de bens e serviços", tal como define o Banco Central Europeu, que cita a flexibilidade dos mercados de trabalho, a simplificação dos impostos e os procedimentos administrativos como forma de conseguir isso.

"Levando também em consideração fatores como equidade e inclusão social", acrescenta.

"Nesse período, surge o que alguns autores chamam de arte da manutenção do paradigma", explica Roy Cobby, do King's College.

"Quando essas reformas não dão os resultados esperados, começam a incluir correções referentes à pobreza, à desigualdade, até mesmo menções ao meio ambiente, mas sempre a partir de um apriorismo: o preconceito contra a intervenção estatal. Se limita a corrigir as poucas, segundo eles, falhas do mercado", diz o especialista.

A queda do edifício intelectual neoliberal

No auge da globalização e do mundo das finanças, o longo reinado das "águas doces" caminhava para três décadas. E eles acreditavam que tinham tudo razoavelmente sob controle.

"O problema central da prevenção da depressão [econômica] está resolvido", afirmou satisfeito Robert Lucas, ganhador do Prêmio Nobel da Universidade de Chicago, em seu discurso inaugural como presidente da American Economic Association em 2003.

Não havia mais nada a dispersar, pois não havia mais nada para ver ali. Fim da história.

Mas apenas cinco anos depois, a quebra do gigante financeiro Lehman Brothers desafiaria essa afirmação, desencadeando uma reação em cadeia que acabou no maior colapso econômico do mundo desde a Segunda Guerra Mundial.

A fé na ortodoxia liberal começou a desmoronar. Alan Greenspan, um de seus gurus e presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, por quase duas décadas, afirmou estar "chocado" porque todo o seu "edifício intelectual havia desmoronado".

A crise afetou particularmente a Europa, uma vez que a União Europeia estava obstinada em aplicar a fórmula da austeridade e reformas estruturais em troca de resgates que geraram grande sofrimento e protesto social nos países ao sul do bloco.

E algumas publicações do FMI questionaram a submissão às fórmulas do "neoliberalismo": "Em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em risco" o desenvolvimento econômico, dizia um relatório de 2016.

A crise de 2008 e os anos que se seguiram provocaram "uma ruptura estrutural" desse consenso dominante entre os analistas, explica Cherif em seu trabalho para o FMI.

A partir de 2010, há então uma proliferação de "múltiplas narrativas" que ele define como uma "constelação de conceitos" em que já não predomina uma mensagem única.

Estávamos, portanto, diante de um vácuo de poder intelectual. E enquanto o velho não acabava de morrer e o novo não terminava de nascer, o economista francês Thomas Piketty entrou em cena.

Antes dele, economistas de prestígio como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, entre outros, haviam tentado manter à tona a narrativa keynesiana, mas a publicação de seu livro O capital no século XXI impactou igualmente um grande número de acadêmicos e o público.

Como se fosse um romance de aventura e não um tratado intelectual de economia de 700 páginas, a obra vendeu mais de 2,5 milhões de exemplares e colocou no centro do debate a questão da desigualdade e da intervenção estatal.

"Piketty transformou nosso discurso econômico. Nunca falaremos sobre riqueza e desigualdade da mesma forma que antes", disse Krugman.

No meio do ringue, havia um dado que abonava seu discurso: entre 1980 e 2015, o 1% mais rico do mundo recebeu uma proporção duas vezes maior do crescimento econômico do que os 50% da população com menor renda, segundo o relatório de desigualdade global do World Inequality Lab.

E já não havia crescimento, mas sim as sequelas de uma longa crise.

Esta subida da maré de "água salgada" proveniente da França imediatamente disparou o alerta entre os marinheiros de "água doce".

Se o trabalho de Piketty "não for desafiado, se espalhará entre os intelectuais e reconfigurará o cenário político-econômico no qual todas as futuras batalhas de ideias políticas serão travadas. Já vimos esse filme", ??advertiu sem rodeios em artigo de 2014 James Pethokoukis, consultor econômico do American Enterprise Institute, logo após a publicação do livro.

A batalha, sempre a batalha.

De fato, diversos autores tentaram reagir e desafiar seu trabalho, mas era tarde demais. A desigualdade era o tema principal nos jornais de economia e permeava vários trabalhos acadêmicos.

Uma série de autores como Dani Rodrik, Mariana Mazzucato, Emmanuel Sáez e Gabriel Zucman começaram a receber a atenção da mídia com suas ideias de combate à pobreza e desigualdade, a aposta na regulação dos mercados, a participação do Estado na economia e o aumento de impostos e a luta contra a evasão fiscal.

Inclusive a economista Esther Duflo, que foi assessora do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, ganhou o Prêmio Nobel de Economia junto a outros autores por "sua abordagem experimental para atenuar a pobreza global".

"Os pesquisadores progressistas aprendem a lição que Friedman deixou nos anos 1970 e 1980", explica Roy Cobby à BBC News Mundo.

"Eles aprendem a construir redes, a não trabalhar sozinhos, surgem centros e iniciativas para trabalhar em pesquisas que sirvam à política".

"E desafiam", diz ele, o consenso econômico que "partidos progressistas e liberais haviam alcançado".

Pandemia e pós-pandemia

Esse era o clima de contestação no fim de dezembro de 2019, quando começaram a chegar notícias de um estranho vírus em Wuhan, na China. Três meses depois, uma pandemia global assola o mundo e provoca a segunda crise histórica em uma década.

É hora de recompor o mundo, e os governos precisam de conselhos para um cenário desconhecido e imprevisto. E neste momento entra em cena a volta da política industrial na agenda acadêmica e política.

Quando os pesquisadores do FMI revisaram os artigos acadêmicos mais recentes, encontraram algo inesperado.

Era uma nova presença; antiga, na realidade. Uma ideia considerada extinta há milhares de páginas atrás. Como se um dinossauro começasse a respirar em uma escavação.

Aqui e ali, duas palavras começaram a se repetir juntas: política industrial.

"Ainda é incipiente", afirmam, "mas o debate em torno da política industrial ressurgiu" na academia.

Uma autêntica raridade: "A política industrial gozava de uma má reputação entre os formuladores de políticas e acadêmicos, e muitas vezes é vista como o caminho da perdição para as economias em desenvolvimento", escrevem Cherif e Hasanov em sua análise para o FMI, em que a consideram uma proposta que pode ser valiosa neste momento.

Um bom exemplo dessa fama é esta frase: "A melhor política industrial é aquela que não existe", declarou Carlos Solchaga, um ministro da Indústria espanhol que pertencia à família social-democrata nos anos 1990.

Quando seu adversário ideológico endossa suas ideias, pode ser um sinal de que elas estão se tornando o novo consenso.

Mas, como alertam os pesquisadores, algo está mudando ? como mostra a fala a seguir do presidente francês Emmanuel Macron, cujo partido se enquadra entre os liberais europeus, em teoria pouco propensos a se meter com o intervencionismo estatal.

"Há bens e serviços que devem estar para além das leis do mercado (...). Devemos retomar o controle, construir uma França e uma Europa soberanas", proclamou Macron em discurso após estourar a crise do novo coronavírus.

"A França deve recuperar a independência tecnológica, industrial e sanitária", exortou o presidente francês após anunciar um plano de incentivo de 100 bilhões de euros, dos quais destinaria 15 bilhões para a "inovação e relocalização industrial".

"Devemos reduzir nossa dependência de grandes potências como a China", ressaltou também seu ministro das Finanças.

A guinada foi rápida: apenas três anos antes, em uma visita a uma grande fábrica em Amiens, no norte da França, cujos operários estavam em greve porque a mesma seria transferida para a Polônia, o presidente francês pegou um microfone e deu um sermão aos trabalhadores: "A resposta para o que está acontecendo com vocês não é suprimir a globalização nem fechar as fronteiras. Aqueles que dizem isso estão mentindo para vocês."

Ele não é o único mandatário que mudou de posição.

A União Europeia manifestou sua intenção de "aumentar sua autonomia e resiliência" industrial, inclusive criando "uma estrutura de auxílios estatais que incentivem a inovação".

A Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) destacou "a importância da política industrial para reconstruir" a América Latina depois da pandemia de covid-19.

E o novo presidente dos EUA, Joe Biden, assinou um decreto para impulsionar a indústria nacional americana.

O que aconteceu? A pandemia é a única razão para esse revival?

"Não, a China é o grande elefante na sala", responde Cobby.

"Desde a primeira década do ano 2000, a China apresenta um contraexemplo para o mundo: mostra números formidáveis ??de crescimento econômico e entra em mercados em que o Ocidente não esperava. Eles pensavam que ela ficaria eternamente limitada a produtos de baixo valor agregado, mas começa a desenvolver tecnologia e empresas nativas de ponta graças ao apoio público", analisa.

"Parece que com esse emprego do Estado de forma mais ou menos agressiva, um país com níveis muito altos de pobreza extrema consegue elevar o status de muitos de seus cidadãos e, não só isso, passa a comprar empresas ocidentais ."

Na opinião dele, isso exerce uma influência sobre o Ocidente, que "além disso vive uma instabilidade política (Brexit e Trump, por exemplo), que muitos associam à retirada do Estado quando se trata de proporcionar bem-estar e desenvolvimento econômico".

Como seria essa volta da política industrial?

"É preciso entendê-la de forma ampla", explica Cobby.

"Não tem que ser apenas à maneira chinesa, tampouco se trata de nacionalizar por decreto, nem centralizar investimentos ou manter setores ineficientes, mas sim pensar onde essa intervenção estatal pode ser mais útil."

Ele dá o exemplo da chegada do homem à Lua, em que o Estado colocou para funcionar uma infinidade de setores públicos e privados, que "envolviam elementos de computação, defesa, universidades, centros de pesquisa e outros que foram alinhados para atingir um objetivo "

"Hoje, os Estados podem atuar como coordenadores de outros objetivos distintos, como a mudança climática ou o desenvolvimento tecnológico", afirma.

E para isso, as estratégias que menciona são variadas: é possível criar empresas públicas, oferecer apoio ao setor privado com recursos que não possa obter ou até mesmo promover valores de sustentabilidade, exigindo como requisito para contratação na administração pública, entre outras.

As opções parecem vastas, mas, seja como for, antes que estas ou outras ideias sejam implementadas no mundo que sai da pandemia, uma batalha dialética prévia terá que ser travada.

Uma em que os economistas, mais uma vez, desconstróem suas fórmulas.

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