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Golpe no Sudão: quatro perguntas para entender a crise política

26/10/2021 16h24

Nessa segunda-feira, militares do Sudão dissolveram o governo e prenderam o primeiro-ministro do país, Abdallah Hamdok, além de outros ministros de Estado. População foi às ruas exigir o retorno de civis ao poder, mas o Exército enviou tropas para impedir os protestos.

O golpe militar ocorrido no Sudão na segunda-feira (25/10) dissolveu o governo e prendeu o primeiro-ministro, Abdallah Hamdok. Essa é a mais recente crise política em um país que vive há alguns anos um período turbulento.

Além das tensões políticas, a economia do Sudão, terceiro maior país da África, está em uma crise profunda, com alta inflação e escassez de alimentos, combustíveis e medicamentos.

O golpe alarmou potências internacionais que só recentemente estabeleceram relações de diplomacia com o Sudão, após anos de isolamento.

Abaixo reunimos alguns pontos que você precisa saber sobre o golpe militar no Sudão.

Qual é o pano de fundo do golpe?

Líderes militares e civis compartilham o poder desde agosto de 2019, depois que o então presidente do Sudão, Omar al-Bashir, foi deposto. Ele era acusado de autoritarismo.

Bashir foi derrubado pelos militares, mas manifestações de rua exigiram o retorno de um governo civil. Os militares foram então forçados a negociar um plano com o objetivo de mudar para um regime democrático.

Segundo esse projeto, o país agora deveria estar em um período de transição, com civis e líderes militares comandando o Sudão por meio de um comitê conjunto conhecido como Conselho Soberano.

Mas os dois grupos estão publicamente em conflito.

O que está por trás da tensão política?

Os líderes militares do governo de transição exigiram reformas de seus colegas civis e pediram a substituição do gabinete do primeiro-ministro. A manobra foi considerada um golpe por líderes civis.

Houve vários golpes fracassados ??desde 2019, o mais recente deles no mês passado.

A principal figura civil, o primeiro-ministro Abdallah Hamdok, ligou o movimento a seguidores leais a Bashir - muitos dos quais dizem estar inseridos nas forças armadas, nos serviços de segurança e em outras instituições do Estado.

Nas últimas semanas, manifestantes pró-exército invadiram a capital, Cartum. Por outro lado, também houve grandes protestos espontâneos em apoio ao primeiro-ministro.

Os manifestantes pró-militares acusaram o governo de não conseguir solucionar os problemas do país.

Hamdok tinha implantado algumas medidas impopulares para tentar reformar a economia, como uma redução de subsídios aos combustíveis.

A fragilidade política do Sudão tem um longo precedente, no entanto.

Nas décadas anteriores, a fragmentação dos partidos políticos e sua incapacidade de construir consenso pavimentaram o caminho para tentativas de tomada do poder por meio de golpes militares. As tentativas de ruptura tinham como pretexto a "restauração da ordem", como escreve o analista regional Magdi Abdelhadi.

Hoje, no Sudão, existem pelo menos 80 partidos políticos.

Este amplo partidarismo conturbou o Conselho Soberano: divisões internas entre os campos militares e civis travaram qualquer consenso político.

O que está acontecendo agora?

O chefe do Conselho Soberano fez um discurso anunciando estado de emergência e a dissolução do gabinete do governo e do próprio conselho.

O general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan também disse que eleições gerais serão realizadas em julho de 2023.

O primeiro-ministro Hamdok teria sido detido por soldados nessa segunda-feira, junto com vários outros ministros. A sede da rede estatal de TV e rádio foi tomada pelos militares, segundo informações locais.

O uso da internet também foi restringido.

A União Africana, a ONU e a União Europeia, bem como a Liga Árabe e os Estados Unidos, expressaram "profunda preocupação" com o golpe militar de segunda-feira.

O que pode acontecer a seguir?

O golpe não é necessariamente um "acordo fechado", sugere o analista político Alex de Waal, dada a "tremenda capacidade de mobilização cívica do Sudão".

"Sempre que os militares tentaram ultrapassar o limite, a mobilização das ruas puxou eles de volta. Suspeito que é isso que veremos agora", disse ele à BBC.

De acordo com a página do ministério da Informação do Sudão no Facebook, o primeiro-ministro pediu para as pessoas se manifestarem em apoio ao governo.

Fotos e reportagens mostram manifestantes se reunindo em Cartum. Tropas militares também foram destacadas para reprimir os atos.

Em junho de 2019, antes que a transição democrática fosse acordada, soldados abriram fogo contra manifestantes em Cartum, matando pelo menos 87 pessoas.

As memórias desse massacre estão na mente da população enquanto os dois lados se confrontam.


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